UMA SOCIEDADE PENDURADA NO PINCEL – Percival Puggina*
Sob o ponto de vista de sua estabilidade, três pilares sustentam uma construção. Quatro fazem-no ainda mais facilmente. Com apenas dois pilares só dá para fazer uma ponte, ou algo com jeito de ponte. Num único pilar pode-se colar um cartaz, apoiar as costas, ou fazer alongamento de pernas.
São quatro os melhores pilares para suporte de uma boa ordem social: família, religião, escola e instituições políticas. No Brasil, há longo tempo, todas vêm sendo atacadas por grupos que agem com motivação política, ideológica, partidária e/ou econômica.
A instituição familiar tornou-se objeto de sistemática desvalorização. As uniões são instáveis e os casamentos, quando chegam a acontecer, duram, em média, 15 anos (em acelerada queda). O número de divórcios anuais já corresponde a um terço do número de casamentos. Em 27% das famílias com filhos, a mulher não tem cônjuge (um total de 11,6 milhões de lares). Vinte por cento dos casais não têm filhos e, quase isso – 18,8% – dizem não querer ter filhos. Estou falando apenas em estatísticas, sem aprofundar na análise da nebulosa qualidade dos laços e do exercício das funções parentais. É sabido, porém, que tais funções estão revolutas na desordem dos costumes que tanto afeta a vida social nas últimas décadas. E vai-se o primeiro pilar.
A religião enfrenta notória redução de sua influência. Externamente, correntes políticas que perceberam ser impossível destruir a civilização ocidental sem revogar a influência do cristianismo atacam as religiões cristãs declarando o direito de opinião e o exercício da cidadania territórios interditos a quem tenha convicções decorrentes de fé religiosa. E o fazem em nome da laicidade do Estado. Com esse estratagema, confundem os néscios e reservam apenas para si o direito de opinar e intervir em relevantíssimas questões sociais e morais. Internamente, as mesmas correntes agem de modo perversor na Igreja Católica através da Teologia da Libertação e nas evangélicas através da Teologia da Missão Integral. E vai-se o segundo pilar.
A escola e o controle das funções educacionais foram tomados por militantes mais ocupados em conquistar adeptos às causas revolucionárias do que em desenvolver talentos e habilidades para que os jovens tenham participação produtiva e ativa na vida social. Com isso, oportunidades são dissipadas pela mais rasa ignorância, nutrindo frustrações e revoltas. Professores que respondem por essa realidade reverenciam Paulo Freire e sua pedagogia do oprimido que outra coisa não é senão a definitiva opressão pela pedagogia. Outro dia, um conhecido me contava de certo jovem seu parente que, aos 18 anos, sem ser imbecil, egresso do sistema de ensino, não sabia os meses do ano. E vai-se o terceiro pilar.
As instituições políticas afundam no bioma pantanoso da corrupção e do descrédito. Não apenas pesam dolorosamente nos ombros magros de uma sociedade empobrecida. Fazem questão, por palavras e obras, de deixar claro o quanto os píncaros dos três poderes existem para reciprocamente se protegerem. Vai-se, então, o quarto pilar. E ficamos, todos os demais brasileiros, pendurados no pincel.
*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org
A justa paralisação dos caminhoneiros – Júlio César Cardoso*
O atrelamento do combustível ao mercado internacional é bom para a Petrobras, mas um desastre para a economia interna nacional.
A produção brasileira dependente do combustível fóssil não pode se desenvolver com a atual política governamental da Petrobras. Essa gangorra do preço do combustível, ora acima, ora abaixo, só prejudica a sociedade com a forçosa elevação dos preços dos alimentos e demais mercadorias, e isso já vem produzindo efeito no bolso dos consumidores.
A solução de aumentar a carga tributária para amenizar o custo do combustível é uma medida política perversa diante de um país onde o imposto é um dos mais altos do planeta e não se vê retorno dele em serviços públicos de qualidade.
O governo tem que cortar os gastos da máquina pública nos Três Poderes, mas não corta, e subsidiar quem produz, em vez de acenar com aumento de impostos para neutralizar a perda da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre o óleo diesel.
Assim, estão certos os caminhoneiros com o movimento de paralisação que o governo subestimou. Quem transporta alimentos e demais mercadorias para o crescimento do país não pode ser penalizado com a constante majoração de preços dos combustíveis. E por outro lado, a sociedade e demais empresários e empreendedores, que precisam do combustível fóssil para trabalhar, não podem ser prejudicados por políticas perversas de sustentação da Petrobras.
Sai governo e entra governo, mas a situação brasileira continua a mesma: a população é sempre chamada para pagar a conta do custo Brasil. Uma vergonha!
*Bacharel em Direito e servidor federal aposentadoBalneário Camboriú-SC
Vá com elegância – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“O importante é não forçar a porta alheia. Bata devagarinho e vá entrando de mansinho”. (Ibrahim Sued)
Você se lembra do Ibrahim Sued? Foi um dos maiores e mais respeitados colunistas sociais do Brasil, no Rio de Janeiro. Tinha umas tiradas elegantes que chamavam muito atenção. Uma vez ele disse que o homem, depois dos cinquentas não deveria usar camisas de mangas curtas. E ele se referia à deformação muscular dos braços, depois dos cinquentas. Parece tolice, mas não é. Cuidar da aparência é uma questão de elegância. E elegância é indispensável na convivência social. Cometer falhas é um problema ligado a todos os seres humanos, independentemente de sua condição social. O importante é que reconheçamos as falhas, mesmo sem necessitar alardeá-las. Que é aí que está a elegância. Quando quem sofreu o dano da falha reconhece que você sabe que a cometeu, o assunto se encerra. E isso ocorre nas conversas amigáveis.
Não forçar a porta e entrar devagarinho indica não entrar na discussão. Vá entrando de mansinho na conversa, mas sem questionamentos. Nunca alimente uma discussão. Mesmo porque você nunca vai ganhá-la. Ninguém ganha uma discussão, sobretudo quando discute com pessoas deselegantes. Uma pessoa educada e preparada não tenta ganhar uma discussão. Ela deixa sempre que o opositor pense que ganhou. Ela sempre ganha, naquela do Jaime Costa: “Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo”. E se trazemos este conhecimento do nosso berço, assentamo-nos na filosofia do Victor Hugo: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. Você nunca vai deixar de ser o que é, pelo fato de deixar que seu opositor pense que ganhou de você, a discussão.
No meu livro da escola, quando eu era criança, havia uma historiazinha de uma garotinha que estava se balançando, de pé, numa rede. O pai dela, temeroso, advertiu-a:
– Você vai cair!!
– Não caio.
– Vai cair!!
– Não caio.
De repente ela caiu. O pai correu para socorrê-la. Ela levantou-se rapidamente, sacudiu a poeira e falou alegre, para o pai:
– Viu?… Viu? Eu aposto como o senhor não é capaz de fazer isso que eu fiz. É?
O pai sorriu e respondeu alegre:
– É… Não sou não.
Ela era a mesma garotinha que o pai mandou que ela colocasse o ossinho no cantinho do prato, e ela retrucou:
– Como botar no cantinho do prato, se meu prato é redondo?Quando levamos o sério na brincadeira estamos entrando devagarinho, sem forçar a porta do vizinho. É quando amadurecemos aprendendo que é no berço que aprendemos para sermos hoje, sem deixar de ser o que fomos ontem. Pense nisso.