Mais impostos, para quê? – Celso Luiz Tracco*
Um dos principais problemas estruturais do Brasil é o gigantismo da máquina pública, mantido pela arrecadação tributária. Porque é tão difícil reduzir despesas?
Responder essa pergunta é uma dificuldade, uma vez que não há controle. Além disso, os nossos parlamentares, deputados federais e senadores eleitos pelo povo, e constitucionalmente legisladores, são os que aprovam o orçamento da União. Nunca se vê redução de gastos. Deputado julgado, condenado e preso, continua recebendo seu gordo salário mesmo estando afastado de suas obrigações. O número de assessores parlamentares ou cargos de confiança ninguém sabe quantos são e pior, ninguém sabe o que fazem nem para que servem.
O custo do parlamento brasileiro é estimado em R$ 6.5 bilhões por ano, 4 vezes mais caro que o da França e quase 8 vezes mais caro que o da Argentina, para efeitos de comparação. Há mordomias sem fim: auxílio paletó, auxílio para correio (em plena era da internet) auxílio para gasolina, garçons, engraxates, segurança, viagens em aviões da FAB, plano de saúde sem limites, a lista é extensa. Mas isso é apenas a ponta do iceberg.
Devemos somar a essa fábula o custo do legislativo e do executivo de 26 estados e DF, de 5570 municípios, do judiciário, das autarquias e empresas estatais. Existem 146 empresas estatais federais ativas, cujos diretores e gerentes são indicados pelos seus padrinhos políticos. Quantas mais existem nos estados e municípios? O desperdício com o dinheiro público é infindável e crescente.
O Brasil, entre trinta países pesquisados, é o que, todos os anos, mostra o pior resultado em relação aos benefícios para a população por imposto arrecadado. Não é apenas uma questão financeira, mas sobretudo humanitária. O dinheiro não vai para quem precisa, principalmente para os mais de 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza.
Mas prepare-se: o rombo das contas públicas federais está estimado em torno de R$ 150 bi. Nossos representantes certamente irão sugerir mais aumento de impostos, apesar de aprovarem isenções e anistias aos poderosos entes econômicos: grandes empresários, países “amigos” devedores, sistema financeiro e outros. São “bondosos” com os poderosos, mas severos com trabalho e vive de salário: a tabela de isenção do Imposto de Renda está há anos defasada, deveria ser ajustada em, no mínimo, 90%.
Nós, população, podemos mudar isso com o voto. Vamos limpar o Congresso de uma só vez, não reelegendo quem está lá. Será que teremos maturidade e coragem na hora do voto?
*Economista e autor do livro Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual
O Mestre Yoda e a Arte – Oscar D’Ambrosio*
Uma das figuras mais marcantes da série Star Wars, de George Lucas, o Mestre Yoda traz alguns ensinamentos que são de grande valia para a existência, mas que muitas vezes são ignorados pelos artistas. Uma viagem rápida por eles pode nos tornar pessoas mais atentas aos detalhes e mais delicadas e dedicadas ao mundo.
No Episódio V – O Império Contra-Ataca, ele diz: ‘Faça ou não faça. Não existe a tentativa’. Seja um trabalho pictórico, escultórico ou conceitual, está aqui a chave do criador. Ele pensa antes, durante e depois de fazer. Mas faz. Isso leva a uma segunda frase, no Episódio II – Ataque dos Clones: ‘Verdadeiramente maravilhosa, a mente de uma criança’.
Fazer cada obra como se fosse única e primeira constitui um desafio imenso. Manter a virgindade e a pureza do espírito criativo, mas sem deixar de lado o saber acumulado pelas gerações e por si mesmo constitui uma dicotomia complexa, mas prazerosa, que se cristaliza quando Yoda responde, no Episódio V, a uma afirmação de Luke (‘Mas eu não acredito!’), dizendo: ‘É por isso que você fracassa’.
O artista digno desse nome acredita em si mesmo. Como dizia o poeta Robert Frost escolhe um caminho menos trilhado e mais difícil, mas é nele que encontra a motivação para continuar e se renovar sempre. O maior risco é apontado por Yoda no Episódio I – A Ameaça Fantasma’: ‘O medo é o caminho para o lado negro, o medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento’.
A ideia do artista como aquele que sofre para criar e para compreender o mundo é um mito romântico infelizmente muito arraigado.Geralmente quem sofre carrega uma mágoa, motivada por algum sentimento mal resolvido, muitas vezes ligado ao medo de criar ou de ser aceito. Não se cria para ter recompensa na forma de prestígio ou recompensa financeira, mas esse reconhecimento pode vir como resultado de um trabalho sincero, autêntico, verdadeiro e visceral.
Assim se vence o medo. E, como diz o Mestre no Episódio VI – O Retorno do Jedi: “Sempre passe o que você aprendeu’. Aqui está a sabedoria. O conhecimento e as questões que dele advém são para compartilhar. Isso vale para ideias, técnicas e procedimentos. Negar essa frase e se isolar de si mesmo e do mundo – e isso desconecta o criador daquilo que ele pode oferecer sempre de melhor: a sua humanidade.
Reflita com humildade sobre tudo isso e, como diz o Mestre Yoda, no Episódio V, e como diversos personagens alertam ao longo da saga: ‘Que a Força esteja com você’. *Mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura.
Que regime? – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Os regimes que atentam contra os direitos do povo, educam o povo na tendência a desconhecer os direitos do Estado”. (Rui Barbosa)
Fico pensando em como o Rui Barbosa coçaria o queixo se estivesse entre nós. Ele sabia que nunca fomos uma democracia de fato. E não sei se algum dia, seremos. Pessimismo? Coisa nenhuma. O maior problema neste problema é que ainda não fomos educados para viver uma democracia. Ainda vamos votar na obrigatoriedade, orgulhosos, pensando que estamos votando, por dever. Estamos iniciando um novo ano de lutas políticas onde deveria haver concordâncias na política. Ainda não nos ensinaram que a política é o esteio da civilização. E por isso mesmo votamos fazendo bagunça na nossa política bagunçada. Reflita sobre isso.
Decepcionado, não. Só estou preocupado por não ver melhoras nas nossas decisões políticas. Tivemos eleições recen
temente e não vemos nenhuma perspectiva de melhora no nosso regime apelidado de democrático. Não sei se você está atento ao absurdo no descaso político com nossa democracia. Nenhum político está preocupado com isso. E o mais nauseante é que os realmente políticos estão a par do problema. Eles sabem que não seremos uma democracia de fato, enquanto formos obrigados a votar. Mas se fazem de desentendidos para não assumirem a responsabilidade de nos educar para a cidadania. Os argumentos usados pelos entrevistados são os mais fúteis que se pode imaginar. E o pior é que são aceitos como justificativas.
Mas você já sabe que nunca resolveremos um problema, preocupados com ele. Logo, vamos nos preocupar conosco mesmo, na condição de cidadãos responsáveis pelos nossos direitos no nosso futuro. Não tenho a menor dúvida de que vamos viver mais um quadriênio de sufocos e desmandos, que provavelmente nos levarão ao sufoco, a que já estamos acostumados. E este é o maior perigo. Quando nos acostumamos deixamos de pensar. E por isso nunca tivemos condições para analisar os problemas que criamos, e alimentamos com nosso analfabetismo político. Mas não se preocupe com isso. Nenhum político realmente político que tenha sido eleito nas últimas eleições, terá coragem nem condições de enfrentar a verdade.
Vamos fazer nossa parte fazendo para nós o que os que deveriam fazer não fazem. Vamos nos civilizar e procurar estudar mais a política, já que o poder público jamais fará isso por nós. Respeitemo-nos mais, respeitando a política que muitos “políticos” só desrespeitam. E estes são, incrivelmente, a maioria. E inicie sua tarefa conscientizando-se de que os responsáveis por tais desmandos somos nós mesmos. Pense nisso.