Na crise, continua tudo normal
Embora o Estado de Roraima até o momento não tenha sofrido consequências mais graves diante da manifestação dos caminhoneiros, por aqui já era normal faltar tudo, a exemplo das unidades de saúde pública, onde faltam constantemente remédios e materiais hospitalares. Logo, obviamente, o problema neste setor não é culpa da crise nacional que estamos assistindo pela televisão e compartilhamentos via WhatsApp ou Facebook.
A saúde pública sempre foi moeda de troca política, a exemplo do que ocorreu recentemente, quando a governadora Suely Campos entregou a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), de “porteira fechada”, para lideranças de sua sigla partidária a fim de que ela pudesse sair candidata a reeleição.
A consequência deste balcão de negócio partidário é a desestruturação do setor, situação que só complicou com o inchaço populacional com a chegada de estrangeiros, em maior parte venezuelanos.
Ainda assim, o setor público de saúde já atendia aos estrangeiros desde muito tempo, vindos não só da Venezuela, ao Norte, como também da Guiana, a Leste. Já naquela época, antes desse êxodo em massa dos venezuelanos, o governo tinha como argumento a demanda extra vinda dos países vizinhos, mas nunca os administradores públicos tomaram uma providência séria, mesmo sabendo que os estrangeiros faziam parte da rotina de atendimento.
Há uma explicação para eles não terem agido: o governo sempre precisou de uma desculpa para justificar sua incompetência. Afinal, o Governo do Estado, quando se explicava sobre as dificuldades na falta de leitos ou de medicamentos no Hospital Geral de Roraima (HGR) e Hospital Materno
Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), sempre jogava a culpa no aumento da demanda de pacientes estrangeiros, porém nunca tomou uma providência, permitindo que a situação se agravasse.
Agora outros setores deverão ser colocados nas mãos de políticos para que eles possam apoiar a reeleição de Suely. Como é um governo enfraquecido, em que sua base aliada sequer comparece a eventos assistencialistas, resta à governadora fazer novos realinhamentos de cargos do primeiro e segundo escalões para acomodar novos aliados com a finalidade de tentar ganhar uma musculatura na sua base de apoio.
As concessões fazem parte desse sistema de governo, mas o grande problema é que os órgãos que entram no balcão de negócio acabam se transformando em cabide de emprego ou em algo pior, como esquemas sobre os quais todos sabem, menos os órgãos fiscalizadores. A saúde pública é o exemplo e pelo qual a população paga um preço muito caro. Aí não tem como jogar a culpa nos caminhoneiro ou nos venezuelanos… Continua tudo como antes.
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