Na conta dos venezuelanos
O êxodo em massa dos venezuelanos para Roraima obviamente contribuiu para agravar a situação da saúde pública, mas as sérias deficiências nos hospitais vêm de muito antes dessa crise imigratória e são resultados de uma má gestão. Para se ter uma ideia, o Hospital das Clínicas foi inaugurado recentemente, no bairro Pintolândia, na Zona Oeste, e já passa por uma reforma na parte elétrica, enquanto pacientes ficam espalhados nos corredores do Hospital Geral de Roraima (HGR), como se fosse um campo de concentração.
O Governo do Estado faz de tudo para jogar a culpa nos venezuelanos e tentar pegar recursos federais a qualquer custo. É justo que o governo local receba ajuda federal para custear os gastos com os imigrantes que fizeram inchar a população do Estado, mas se não houver comprometimento com uma boa gestão, os problemas vão persistir na saúde pública. Sem contar que estamos em ano eleitoral, o que requer rigor na fiscalização dos recursos públicos que chegarem.
Nesses últimos dias, os gestores batalham por uma Medida Provisória (MP 820), na Câmara Federal, que autoriza o Estado a fechar contratos sem licitação por até seis meses (que coincide com o período eleitoral). Essa MP tem como justificativa os venezuelanos, citados como refugiados que necessitam de assistência e proteção, aos moldes de como já acontece nos casos de emergência ou de calamidade pública. Ou seja, é mais uma tentativa de conseguir facilidades na conta dos imigrantes.
Se não houver mudanças na forma de conduzir o bem público, nada irá mudar na saúde pública e em outros setores importantes do Estado. E todas essas tentativas de conseguir recursos públicos não passarão disso mesmo: tentativa de conseguir mais dinheiro que não serão bem aplicados. O governo tenta remediar os problemas mudando secretários, porém, são mudanças que visam mais acomodar aliados, na base do toma-lá-dá-cá, do que realmente melhorar a condução do governo.
A imigração não tem nada a ver com a falta de pagamento de empresas terceirizadas para limpar hospitais, falta de material hospitalar e medicamentos, alimentos de baixa qualidade e hospitais com estrutura deficitária. Isso se chama incompetência administrativa, provocada por um governo que não faz a lição de casa e tenta justificar suas falhas jogando a culpa na crise imigratória. Os venezuelanos são apenas uma parte desse grande embaraço administrativo e político.
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