Os seres humanos e os outros animais – Sebastião Pereira do Nascimento*
Para o filósofo Peter Singer, no decorrer de muito tempo da civilização ocidental era inquestionável a existência de um enorme abismo entre os seres humanos e os outros animais. Para esse filósofo, a principal base para esta presunção humana começou a ser destruída a partir das descobertas de Charles Darwin sobre a origem das espécies, e mais recentemente com a progressiva ruptura da história universal sobre a criação divina.
No decorrer desse percurso houve muito quem tivesse dificuldade em aceitar que as diferenças entre os humanos e os restantes dos animais fossem diferenças de grau, e não de categoria. Na atualidade, os mais céticos da evolução ainda procuraram formas de traçar uma linha divisória entre o Homo sapiens e as outras espécies animais – considerando aqui o grupo dos vertebrados. Contudo, essa fronteira de pensamento sempre foi de curta duração, até mesmo por permitir argumentações frágeis ou alegações destituídas de sentido. Exemplo disso é a questionável pretensão de dizer que só os seres humanos têm a inteligência, ou que só os seres humanos se comunicam entre si. Questões que já não nos parecem tão convincentes como o eram em outros tempos passados.
Não obstante, outros pensadores defendem a existência de uma diferença ainda mais profunda, quando questionam que os animais não pensam nem raciocinam, ou que não possuem nenhum conceito de si próprios, visto que vivem momento a momento e não percebem que fazem parte de categorias distintas. Por outro lado, não deixa de ser um absurdo atribuir a uma espécie não humana a capacidade de autorreflexão, sabendo que esses animais não “possuem” tantas disposições lógicas capazes de construir alguma ideia conceitual, capacidade essa restrita à espécie humana, que embora não seja o desejável, pouco se manifesta em nossa sociedade.
Diante dessas argumentações, ainda que algumas dessas tentativas de traçar fronteiras entre os seres humanos e os outros animais correspondessem a qualquer verdade, os humanos, como apregoa o filósofo Albert Schweitzer, não teriam, ainda assim, qualquer peso moral para celebrar essas convicções, uma vez que mal conseguem reconhecer até mesmo os males de sua própria criação.
Sobre os aspectos da comunicação entre as espécies, pode-se ver que muitos animais usam de fato uma comunicação, que simplesmente é diferente da comunicação humana. Não há dúvida de que a maioria dos animais sociais possui certos meios de se comunicarem uns com outros, quer sejam através de rugidos, assobios, zumbidos, uivos, latidos, cantos das aves, movimentos ou até a dança realizada por algumas espécies animais. Além disso, observa-se que vários grupos animais apresentam formas de vida semelhantes aos seres humanos como, por exemplo, a união de grupos, cuidar dos familiares, dividir os alimentos, defende-los e adverti-los de perigos, além da prática do altruísmo que incita a preocupação de um ser como o outro.
Considerando esses atributos como se fosse uma questão moral, é fácil perceber o quanto os animais, que não seja os humanos, exercem fielmente os seus princípios morais. Pois, eles em equilíbrio social vivem e respeitam seus limites, sabem como se comportarem e até sabem aonde podem ir, apesar de não formarem convergências conceituais, eles obedecem a lei da natureza. Por isso, devemos rejeitar a ideia de colocar a vida da nossa espécie acima da vida de outros animais.
Peter Singer, quando fala das considerações morais relativas ao princípio da igualdade, define que qualquer animal sendo tratado fora do domínio de sua natureza, sofre quando colocado em situações hostis ao bem-estar apenas do ser humano. Sendo que essa subordinação de interesse e domínio do outro, significa a expressão pura de especismo, que resumidamente é quando o ser humano atribui, direta ou indiretamente, uma conduta de exploração econômica e/ou moral em relação aos outros animais, o que suprime a condição básica que assegura a igualdade de todos os seres dotados de senciências.
O mesmo filósofo alega ainda que a sociedade humana naturalizou de tal modo o costume de usar os outros animais em vários meios de vida, que a ruptura desse costume implica numa quebra de paradigma ou mesmo numa revolução por parte do ser humano, sobretudo por conta dos seus aspectos econômicos e morais ou ainda pelo fato dos humanos se declararem francamente favoráveis a muitas práticas de violências, que anulam os interesses mais elevados dos outros animais em detrimento dos interesses menos relevantes do ser humano.
*Zoólogo e Filósofo; E-mail: [email protected]
Diferença de hobby e profissão – Flávio Melo Ribeiro*
Durante a escolha profissional é bastante comum querer transformar um hobby em profissão, mas ter uma atividade como passatempo não significa que gostará de realizá-la como atividade profissional, nem que dará certo caso resolva construí-la. Vamos aprofundar esse tema com o seguinte exemplo: um adolescente adora tocar violão, conhece inúmeras músicas e sempre é elogiado pelos amigos por conta do seu desempenho. No entanto, só toca quando está inspirado e se sentindo bem. Esse mesmo adolescente descobre que sua banda preferida irá tocar em sua cidade dentro de um mês e compra o ingresso. Durante trinta dias ficou ansioso para ver o que considera que será o melhor show da sua vida. Porém, no dia do show o principal músico dessa banda se desentendeu com o empresário, discutiu e se alterou emocionalmente.
Cabe ao músico profissional, independente dos empecilhos emocionais, manter o foco no espetáculo e dar o seu máximo, visto que o público está ali para satisfazer suas necessidades e não para ter empatia com o músico e questionar como ele está se sentindo.
Esse exemplo é válido para qualquer profissão. Basta você refletir como gosta de ser tratado por qualquer profissional que esteja lhe atendendo. Atuar profissionalmente é construir um projeto que dê condições de se realizar através dos resultados, bem como se ver no reconhecimento que seus clientes lhe passam. Portanto, é importante não confundir hobby com profissão.
*Psicólogo – CRP12/00449; [email protected] (48) 9921-8811 (48) 3223-4386; Página no Facebook: Viver – Atividades em Psicologia Canal no Youtube: Flávio Melo Ribeiro
O início de tudo – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Nunca se me retira da vista este pano de fundo da minha primeira existência”. (Joaquim Nabuco)
As lembranças da nossa primeira existência permanecerão em nossa memória por toda nossa vida. Vez por outra ele se descortina em nossa mente, mesmo quando não nos lembramos. Vem daí a dificuldade do ser humano entender isso, quando ele não entende os caminhos de sua origem como ser humano. Vem daí também, as dificuldades em se entender os caminhos das relações humanas. Sempre as vemos como mero ensinamento profissional, quando na verdade elas são um componente da nossa vida. E como tal, sua origem está no início da nossa existência neste mundo.
As relações humanas fazem parte da Educação. E esta, embora digamos que começa no berço, realmente começa na gestação. Como somos tratados ainda no ventre, em condições de feto, tem muita importância
no nosso desenvolvimento depois de nascidos. E enquanto não prestarmos atenção à importância que isso tem no nosso desenvolvimento humano, nunca seremos capazes de educar as próximas gerações.
Ainda não nos ensinaram a observar as reações naturais dos nossos filhos, naturais ao seu desenvolvimento humano. E isso requer maturidade e educação. E se não conhecermos isso não teremos como dirigir a educação, de acordo com o desenvolvimento racional. Para educar precisa que sejamos educados. E ser educado não significa ter passados por escolas que são feitas para ensinar. Observe os passos do seu filho, antes e depois dos seus primeiros passos. Seus primeiros sorrisos, movimentos de pernas, braços e fisionomia. Mas faça isso com maturidade e sentimento de amor. Mas tenha cuidado com os exageros de atenção. Seu filho está se orientando. E educá-lo significa observar seus movimentos que indicam seu desenvolvimento racional.
As relações humanas iniciam-se no início de tudo. Você tem apenas anos para orientar a Educação do seu filho e não para dirigi-lo na educação que você acha que é indicada para ele. Quando orientamos estamos na condição de comandantes, quando dirigimos somos apenas timoneiros. Reflita sobre a importância da Educação. O valor que ela tem para o desenvolvimento da humanidade. Ela é o componente mais importante para nas Relações Humanas, tanto na família quanto no trabalho.
O trabalho, quando considerado um meio de vida, traduz o bom resultado da educação que recebemos no decorrer das nossas vidas iniciadas ainda no ventre materno. Nunca seremos um povo educado enquanto os responsáveis pela educação não entenderem a diferença entre o que educamos e o que ensinamos. Somos os pais os responsáveis pela educação dos nossos filhos. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460