Jessé Souza

A equacao presos x estudantes 6445

A equação presos x estudantes

Independente da crise provocada pelo êxodo venezuelano, a realidade do Estado de Roraima só irá mudar a partir de uma educação de qualidade, algo que está muito distante da nossa realidade. Não precisa fazer muito esforço para demonstrar isso. Os seguidos protestos de alunos e professores indicam falta de transporte escolar na zona rural, reclamações constantes com a qualidade da merenda, prédios de escolas precisando de reformas e falta de materiais didáticos.

Não haverá qualidade de ensino quando se falta o básico nas unidades de ensino. Para complicar ainda mais, nos últimos três anos, nenhuma escola foi construída, a não ser reformas superficiais, com a pintura dos prédios. Ao contrário, escolas na Capital vêm sendo fechadas, a exemplo do caso mais recente, o da Escola Estadual 31 de Março, no bairro do mesmo nome, na zona Norte da Capital, cujo prédio foi entregue ao Corpo de Bombeiros.

Quando os governos falham, ocorre o que profetizou o antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro, em 1982: “Se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. É exatamente isso o que está ocorrendo em Roraima, que não tem dinheiro sequer para pagar o funcionalismo em dia.

Os especialistas são unânimes em afirmar que a crise no sistema carcerário no Brasil está ligada diretamente ao fracasso na educação, o que faz os governos gastarem mais com presos do que com os estudantes. Chegamos a um momento crítico em que o Estado diz não ter recurso nem para presídios muito menos para a Educação. Enquanto os presos fogem constantemente do maior presídio roraimense, os estudantes não estão sequer conseguindo chegar às escolas.

Nos municípios, onde o Estado é mais ausente e as cidades vivem em situação de penúria financeira, a realidade é muito pior. Por lá, as dificuldades iniciam na hora de chegar à sala de aula: além da falta de transporte escolar, as condições das estradas e pontes de madeira no período de chuvas deixam as populações isoladas, impedindo que as crianças cheguem às escolas.

Na Capital, faltam creches para a infância muito antes da crise imigratória com a chegada em massa dos venezuelanos. Essa é uma falha grave que precisa ser corrigida o quanto antes, pois é aqui onde a educação deve começar a formar as futuras gerações. Se quisermos uma sociedade melhor, com menos violência e uma geração preparada para enfrentar os seus desafios, a mudança tem que partir da sala de aula já desde a infância. Se não cuidarmos disso logo, pode se preparar para entregar as chaves do Estado para o crime organizado.

*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main