Da chacina e fugas aos desmandos
O que era considerado apenas “barulho da oposição”, pelos governistas, acabou se tornando algo concreto a partir das investigações da Polícia Federal (PF), por meio da Operação Gárgulas, desencadeada ontem em Boa Vista e Manaus (AM). Os indícios levam a uma organização criminosa no antro do Governo do Estado, mais precisamente no sistema prisional. Conforme as investigações, enquanto as organizações criminosas se matavam, chegando à maior chacina dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), servidores estaduais e empresários atuavam no desvio de R$3,5 milhões do Fundo Penitenciário Nacional (FPN), repassados ao Estado.
Todas as provas que levaram a esta ação da PF haviam sido coletadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Prisional, realizada pela Assembleia Legislativa do Estado de Roraima (ALE-RR), as quais foram enviadas também para os órgãos fiscalizadores. Os calhamaços de documentos levaram à conclusão, pela CPI, de um esquema na Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) que envolve superfaturamentos, contratos sem licitação, montagem de processos e outras irregularidades no sistema prisional. Significa que, enquanto os presídios estão caindo aos pedaços, o dinheiro estaria sendo desviado para o ralo da corrupção.
Não há como atacar os graves problemas nos presídios se os recursos não são bem gerenciados e aplicados. As constantes fugas são resultados desse desgoverno que sempre imperou no sistema prisional, piorado pela forte atuação do crime organizado, que passou a dar as cartas dentro dos presídios, sob os olhares complacentes dos representantes do Estado que, em vez de estarem cumprindo com o seu papel, estavam agindo na obscuridade, ajudando a piorar o que já era um caos. Daí a importância de a PF ir a fundo nessas investigações a fim de punir os responsáveis pelos crimes.
Os cidadãos roraimenses sabem que a maior parte da criminalidade que se abateu sobre o Estado de Roraima tem como cerne os presídios, com as ordens dos bandidos partindo da Pamc, que se tornou quartel general do crime. Como as investigações apontam que a empresa que deveria instalar equipamentos de segurança para evitar fugas de presos recebeu o pagamento sem entregar os produtos e realizar os serviços, isso indica por si só que o prejuízo não foi somente aos cofres públicos, mas também à segurança dos cidadãos.
A população precisa estar atenta ao desenrolar dessas investigações, pois a manutenção de um sistema prisional cumprindo com o seu papel, de segregar os bandidos da sociedade, é a garantia da vida das famílias roraimenses, que passaram a viver sobressaltadas até dentro de casa, que deixou de ser um lugar seguro. A Operação Gárgulas é uma esperança de que algo possa melhorar nesse cenário de medo e desesperança em Roraima.
*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main