JUBILEU MISSIONÁRIO – Júlio Martins* Parte I
Pode-se dizer, sem receio de dano à verdade histórica, que a cruz precedeu a espada na obra de ocupação e desbravamento destas plagas do setentrião brasileiro, hoje compreendidas no estado de Roraima.
É certo que as primeiras expedições de penetração e conquista foram todas de cunho militar, culminando com a construção do forte de São Joaquim, no século XVIII. Essa fortaleza foi, sem dúvida, um marco determinante da presença do estado colonial português, em toda a região.
Mas as realizações pioneiras de assistência social, o primeiro hospital, a primeira escola, inclusive o primeiro projeto de desenvolvimento econômico regional foi obra da ação evangelizadora e civilizadora da Igreja. Primeiro, através das viagens missionárias dos frades carmelitas, quando ainda era muito rarefeita a população; depois, a partir de 1909, pela presença efetiva e permanente dos beneditinos, monges e monjas de procedência alemã, que aqui erigiram a Prelazia do Rio Branco, num trabalho continuado de 40 anos. Deixaram um legado de realizações tanto espirituais quanto materiais, ainda hoje visível na paisagem viva de Roraima.
Em 1948 e 1949 chegaram os missionários e as missionárias da Consolata para ocupar o lugar deixado pela Ordem de São Bento. Há aqui uma curiosidade histórica, que vale a pena registrar: a ordem religiosa mais antiga da Igreja cristã do Ocidente, cujas origens remontam ao século VI, na alta Idade Média, sendo substituída por uma organização similar do século XX.
Com efeito, fundado em 1907, em Turim, no norte da Itália, o Instituto Missões Consolata é uma congregação religiosa, a bem dizer, de última geração. Perto de suas vetustas coirmãs, com muitos séculos de idade, o IMC ainda está na primeira infância. Teve como fundador um humilde sacerdote chamado José Allamano, de aspecto e saúde frágil, mas de ânimo inquebrantável. Viveu e morreu servindo o Santuário da “Madona Consolata”, em Turim. Sem nunca se afastar muito dos estreitos limites de sua paróquia, mas dotado da visão transcendental dos santos, foi capaz de sonhar um ideal missionário e de dar a esse sonho realidade concreta e amplitude planetária. A sua imagem de bem-aventurado impressiona pela bondade irradiante e pela força anímica. Já alcançou a glória dos altares; em breve chegará à plenitude da santidade canônica. Não poderia ser diferente. A história do Instituto por ele fundado é bem a reprodução em nosso tempo, diante de nossos olhos, da parábola evangélica do grão de mostarda. Humilde, pequenina, obscura no nascedouro, mas tendo dentro de si o dinamismo misterioso do Reino de Deus, a obra de José Allamano deitou raízes vigorosas, cresceu, agigantou-se, cruzou mares e oceanos, desertos e cordilheiras e hoje se faz presente em dezenas de países, em quatro continentes.
Aqui em Roraima, como ficou dito, o Instituto Missões Consolata chegou na década de 40. Os padres, em 1948; as irmãs, um ano depois. Completam-se, portanto, neste ano e no próximo, 70 anos de duro labor missionário nesta messe equatorial pedregosa e fecunda. Messe que deu muitos frutos, mas à custa de sangue, suor e sacrifício.
Narrar a história desses 70 anos é compor um quadro de colorido épico, povoado de figuras heróicas, homens e mulheres, todos revestidos da abnegação apostólica e impulsionados pelo mandamento missionário. Fervorosos construtores do Reino, a eles nada lhes faltou na doação total de si mesmos, nem coragem, nem privações, nem genuína caridade, nem mesmo a prova suprema da coroa do martírio. Mas a sua verdadeira grandeza só pode ser vista numa perspectiva mais ampla, que ultrapassa o âmbito da fé. Porque muitos deles, querendo ou não, passaram a fazer parte do processo de desenvolvimento econômico, social e político de Roraima. Em momentos cruciais estiveram no centro do palco das decisões.
O que estou querendo dizer é que, enquanto missionários e missionárias, certamente a eles estão reservados os primeiros lugares na Cidade de Deus; enquanto personagens da história de Roraima, hão de figurar para sempre na galeria dos grandes vultos na Cidade dos homens.
* Ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado federal
Um respiro (saudável) em meio à paralisação – *André Ferretti
A greve dos caminhoneiros, finalizada no último mês, causou diversos transtornos em todo Brasil, mas teve também pontos positivos. Entre eles, o benefício ao meio ambiente e à saúde das pessoas, graças à redução da emissão de poluentes na atmosfera.
Mesmo que não existam dados oficiais divulgados após os dez dias de paralisação nas estradas brasileiras, a diminuição no volume de gases de efeito estufa liberados na atmosfera é notória. No País, caminhões e ônibus são alvos constantes do controle de emissões, pois são responsáveis por aproximadamente 90% da liberação de poluentes – mesmo representando menos de 5% da frota rodoviária brasileira –, os quais pioram a qualidade do ar e impactam na saúde das pessoas.
Atualmente, o Brasil possui uma frota de cerca de 2 milhões de caminhões de carga, e estimativas de algumas entidades do setor calculam que mais de 1 milhão aderiram à última greve. Se levarmos em conta os 102 milhões de toneladas de CO2e emitidas em 2016, somente por veículos de transporte de carga – de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima –, é possível fazer uma rápida conta e verificar o quanto o meio ambiente “ganhou” nesses dias: cerca de 2,83 milhões de toneladas de CO2e deixaram de ser emitidos nos dez dias de paralisação.
Isso sem contar a diminuição da frota circulante de automóveis, em virtude da falta de combustíveis nos postos. Mas, por conta dos últimos acontecimentos, é inevitável pensarmos em novas fontes de energia para melhorar a qualidade do ar e diminuir os efeitos do aquecimento global.
Com a greve tivemos, mais uma vez, um exemplo do quanto somos reféns do transporte rodoviário no Brasil e, consequentemente, do diesel – visto que a luta dos caminhoneiros iniciou justamente pela redução no valor desse combustível. E isso nos faz pensar que estamos cada vez mais longe de contribuir para o objetivo maior do Acordo de Paris, que é o de manter o aumento da temperatura média da Terra, até o final do século, bem abaixo dos 2°C, e continuar os esforços para limitá-lo a 1,5°C.
*Gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima
Liberte-se – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Hoje não se admite, racionalmente, que alguém viva sob o domínio escravizante de qualquer dogma, ou ideia imposta”. (Waldo Vieira)
Enquanto não nos libertarmos, mentalmente, não seremos civilizados. Para ser civilizado é necessário que seja racional. E nunca seremos racionais enquanto não libertarmos nossos pensamentos. Por que ainda vivemos, maior parte de nossas vidas, dominados pelos pensamentos dos que, conscientemente, dirigem nossos pensamentos? Liberte-se. Mas amadureça primeiro. E só amadurecemos na racionalidade. E os racionais não se deixam dominar pelos pensamentos dos outros. Somos, queiramos ou não, responsáveis
pelos nossos atos e atitudes.
Quando nos aborrecemos com o comportamento dos outros, estamos nos igualando a eles. Quando alguém nos critica, ou analisamos a crítica ou nos deixamos levar pela imaturidade no aborrecimento. Cabe a você analisar e ver o que realmente lhe interessa: se se igualar ou se superar, demonstrando superioridade, não se aborrecendo. O crítico pode até não estar certo, mas está mostrando o nível de sua evolução racional. E cada um está na sua. Então esteja na sua e não se deixe levar pela imaturidade do aborrecimento. Seja você mesmo. Saiba-se superior. E quando nos sabemos superior não nos inferiorizamos com os pensamentos inferiores de quem quer que seja.
Nunca se aborreça com uma crítica. Quando você se aborrece é porque a mereceu. A escolha é sua. Nosso crescimento racional depende de nossa caminhada pelos caminhos da vida. E cada um vive sua própria vida e não a dos outros. E quando você se aborrece com uma crítica é porque está se igualando ao crítico. Simples pra dedéu. Sua vida, seu caminho pela vida, seus fracassos e sucessos fazem parte do seu crescimento racional. E só você pode e deve escolher seu rumo. Não permita que ninguém dirija seu rumo. Seja seu próprio comandante e seu próprio timoneiro. Não permita que ninguém dirija seu barco. Mas tem que amadurecer. Saber que você não é inferior nem superior a ninguém. Que somo todos iguais e de uma mesma origem.
O Waldo Vieira também nos diz que: “Milhões de pessoas ainda compõem a massa humana impensante: escravas das opiniões dos outros, não pensam por si mesmas”. Talvez você esteja no time dos milhões. Inda não aprendeu a pensar e vive seguindo ou se aborrecendo com os pensamentos dos outros. Vamos crescer dentro da racionalidade ou nunca seremos racionais. Siga seu caminho. Não permita que o sapo da Alice lhe diga que caminho você deve tomar. Sinta-se capaz e você o será. Você é o que você pensa, mas nem sempre é o que pensa que é. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460