Opinião

Opiniao 02 07 2018 6494

O falso e nebuloso moralismo – Tom Zé Albuquerque*      “A Psicologia nos ensina que sempre que apontamos um erro de alguém ou acusamos um defeito ou um comportamento destoante de outrem estamos, em verdade, refletindo um problema nosso”. Essa linha de raciocínio tem sido constantemente defendida pelo médico e filósofo Rui Souza. É pétreo, pois, o fato de convivermos com inúmeras pessoas que agem exatamente assim, enxergam nos outros aquilo que é seu, próprio de quem mira.

Um exemplo inconteste dessa fantasia adquirida encarna naquelas pessoas que desmedidamente pregam… a moral, como qualidade impenetrável, passível inclusive a ser incluída na página principal do seu currículo. Divaldo Franco, amparado por Joanna de Ângelis, possibilitou refletirmos sobre o tema na obra “O Ser Consciente”, na qual destaca que “Os padrões de comportamento estão estabelecidos através de parâmetros nem sempre fundamentados em valores reais”. E pacienta: “Em todos existem regras estatuídas pelo ego, para uma boa apresentação, que quer significar engodo, em detrimento do Eu profundo ao processo de constantes mudanças e crescimentos”.

Sua sobriedade se agiganta quando relata: “Nos comportamentos sociais estão estabelecidas as regras do bom-tom, para deixar e transmitir impressões agradáveis, compensadoras”. E vai mais longe… “As pessoas submetem-se às pequenas ou grandes regras de etiqueta, do convívio social, sempre preocupadas em dissimular os sentimentos, de modo que produzam os resultados adrede esperados”.

Clarividentes são as fragilidades e asperezas humanas nos convívios cotidianos, para quais se projetam perante os outros de forma subversiva, sob a casca necessária para obtenção de necessidades e desejos materiais e de poder; permanecem estas pessoas, então, atoladas no arrimo movediço, desconhecidas de si e entre si. Isto sim é pobreza! E esta necessidade de analisar o outro pela sua conversão, gera exposição extravagante e desolada, acondicionando sintomas de comportamentos bipolares e depressivos.

A filosofia moral de Kant ergue esse posicionamento, imposto brilhantemente por Anthony Kenny, professor da Universidade de Oxford: “Kant conclui a exposição do seu sistema moral com um panegírico à dignidade da virtude. No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Se algo tem um preço, pode ser trocado por qualquer outra coisa. O que tem dignidade é único e não pode ser trocado; está além do preço. Há dois tipos de preços, afirma Kant: o preço venal, que está relacionado com a satisfação da necessidade; e o preço de sentimento, relacionado com a satisfação do gosto. A moralidade está para lá e acima de ambos os tipos de preço”.

E extrapola defendendo: “Moralidade e a humanidade são as únicas coisas que têm dignidade. A destreza e a diligência no trabalho têm um preço venal; a argúcia de espírito, a imaginação viva e as fantasias têm um preço de sentimento; pelo contrário, a lealdade nas promessas, o bem querer fundado em princípios (e não no instinto) têm um valor intrínseco”. Para nossa salvação (e percepção de uma minoria), os ensinamentos kantianos ecoaram ao longo do século XIX e ainda instigam muitas pessoas nos dias atuais.

*Administrador

A Economia brasileira está um pouco menor – Maria Encarnação Beltrão Sposito*

Não se trata de retração da economia, com letra minúscula, expressa em indicadores como evolução do PIB, comportamento da inflação ou saldo da balança comercial. Estamos falando da Economia, área de conhecimento, para a qual Paul Singer, falecido em 16 de abril de 2018, contribuiu de forma espetacular, com suas ideias e com suas ações.

Sem dúvida, caberia, a ele, a aplicação da concepção de intelectual orgânico, proposta por Gramsci, na perspectiva dessa expressão, que designa aquele capaz de ser simultaneamente um expert, no seu campo de pesquisa e ensino, e um político capaz de orientar sua conduta e de se comprometer com as mudanças orientadas na direção de uma sociedade mais igualitária e democrática.

Sua formação profissional tem início no ensino médio, quando estudou eletrotécnica e teve continuidade em formação e carreira universitária que poderia, mas não o levou, a se afastar de sua atuação como metalúrgico sindicalizado na década de 1950.

Graduado em Economia, doutorou-se com tese que, depois, gerou o livro Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana, uma obra importante cujo caráter transdisciplinar já mostrava sua grande capacidade de articular aspectos afeitos à Sociologia, área de obtenção do título, aos de Economia, Geografia, História, Política e Demografia, sendo que, nessa última especialidade, realizou seu pós-doutorado em Princeton.

Desde a publicação de seu primeiro livro, em 1968, intitulado Desenvolvimento e Crise, trouxe a público mais de duas dezenas de outros. Tinha a grande capacidade de escrever de modo didático, de forma a que, mesmo, os leigos fossem capaz de compreendê-lo, sem, com isso, expor suas ideias de modo superficial ou impreciso.

A mesma atitude orientava suas exposições orais, palestras e conferências que imantavam a atenção dos que o assistiam. Ele nos fazia refletir sobre um dado assunto, a partir de muitos pontos de vista, colocando em evidência o potencial que há na apresentação do contraditório, ainda que sua posição apoiada em fundamentos marxianos, fosse mantida de modo coerente e inteligente. Ele era, assim, capaz de iluminar as questões do mundo contemporâneo, impulsionando a todos a reconstruir o edifício teórico sem desconsiderar seus alicerces.

Foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Atuou como professor na Unesp, na PUC, e desenvolveu a maior parte de sua carreira docente na USP. Foi secretário de Planejamento da Prefeitura Municipal de São Paulo, quando Luiza Erundina foi a prefeita.

Desde o final dos anos de 1990 vinha orientando suas pesquisas, orientações e publicações para fundamentar a ideia de Economia Solidária, transformando essas reflexões em subsídios para que muitos organizassem suas atividades na direção de refundação da nossa economia política.

*Docente do Departamento de Geografia, Unesp, Câmpus de Presidente Prudente.

Vidas divididas – Afonso Rodrigues de Oliveira*

Você sabia que, em média, as pessoas passam 70% de seu tempo vivendo o passado, 20% vivendo o futuro e somente 5% vivendo o presente? 

Uma matemática aparentemente esquisita, mas por isso mesmo verídica. Às vezes fico olhando e observando as conversas de certas pessoas. Elas ficam o tempo todo falando sobre coisas e momentos do passado, que não justificam a perda de tempo.

Outras ficam, o tempo todo, falando de um futuro que apenas gostariam de viver. O hábito está tão fixado na mente das pessoas que elas já o levam para as conversas cotidianas. Já reparou como as pessoas nos programas de televisão usam o futuro como presente? Simples pra dedéu. Normalmente o apresentador pergunta?

– Quem quer fazer uma pergunta? 

Alguém levanta o braço e fala:

– Eu gostaria de perguntar…

Ora… Você gostari
a de perguntar ou está perguntando? Nunca reparou nisso? Preste atenção a isso e você verá como o ser humano vive fora do tempo em que vive.

Sei que estou sendo repetitivo, mas não vou parar. A vulgaridade está tomando conta do mundo que deveria estar bem mais civilizado. E isso está pesando na balança do progresso. A população cresce assustadoramente e não nos preparamos para o crescimento profissional. A Educação está cada vez mais se inclinando. Já não damos mais valor ao valor da importância das Relações Humanas no Trabalho e na Família. E o ambiente no trabalho está naufragando no ilusório do progresso a regresso.

Em mil novecentos e sessenta e quatro comecei meus estudos sobre este assunto, em São Paulo. E seis décadas depois, entristeço-me com a decadência no estudo. 

A elegância, independentemente do sexo do elegante, faz parte do profissionalismo. E quem está se tocando para isso, no mundo profissional? O que é ser uma pessoa elegante? A elegância está no seu comportamento, na sua postura, no seu falar, no seu sorriso e no comportamento, onde você estiver. E, cuidado, isso é levado em consideração nas seleções para emprego, em empresas realmente preparadas. Quando estiver prestando um concurso, cuidado pra não dizer que algo está muito lindo. A redundância pode lhe custar a vaga. Atente-se para a diferença entre falar com simplicidade e falar com vulgaridade. E se a empresa não estiver atenta para isso, procure outra. 

Inicie sua semana vivendo o dia de hoje, usando apenas o que você trouxe de bom e certo, do passado. O futuro deixe-o chegar. A qualidade dele vai depender do resultado do que você fizer hoje. Então viva o dia de hoje como se ele fosse o último. Faça hoje o melhor que você puder fazer, independentemente do que você faz. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460