Estado quebrado e crime organizado
Com pelo menos três anos de atraso, o Governo de Roraima criou o Distrito de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), dentro da estrutura da Polícia Civil, no início deste mês. Pouco se sabe sobre esse novo órgão porque ele praticamente só existe no papel, já que não tem uma sede física, sob a alegação de que irá trabalhar em conjunto com as demais delegacias. Ou seja, cheirando algo só para justificar que o governo estaria se esforçando.
Curiosamente ou coincidentemente, nos dias posteriores ao anúncio da instituição desse órgão de combate ao crime organizado só aumentou o número de corpos desovados sem cabeça, na Capital, e de execuções a tiro na cidade e no interior do Estado com claras evidências de acerto de conta entre facções criminosas. Sinal de que o crime não ficou nem um pouco preocupado com esse anúncio governamental.
Como o Draco parece algo que não tem corpo nem rosto, é de se imaginar que se trata de um órgão virtual, portanto inócuo, pois o combate ao crime organizado necessita de estrutura especializada de verdade, com recursos para atuar com inteligência e tecnologia não só para investigar as organizações, como também atuar no combate à lavagem de dinheiro que mantém e financia o crime.
Há de se levar em consideração que Roraima fica em uma área de tríplice fronteira, o que significa que não há como o combate ao crime organizado prosperar se não houver uma cooperação federal com atuação nas fronteiras, a fim de coibir o tráfico de droga e de armas, além da movimentação ilegal de dinheiro nas fronteiras. Mas o Governo Federal sequer consegue coordenar o fluxo da imigração.
Também não tem como esse combate ao crime prosperar se não existem sequer presídios para garantir isolamento de líderes e integrantes das facções, nem como evitar que presos comuns acabem sendo lançados no berço das organizações criminosas dentro dos presídios caindo aos pedaços, sobre os quais o governo não consegue manter o controle do portão para dentro. Até no Centro Socioeducativo (CSE), onde ficam menores infratores. O governo perdeu o controle.
Por fim, não há como esperar muito de uma segurança pública que não consegue abastecer de combustível os carros das polícias, a exemplo da Polícia Militar que é obrigada a parar suas viaturas porque não têm mais como abastecê-las. É aquela antiga máxima: Estado quebrado querendo combater crime organizado. Não há como. O anúncio do governo parece muito com propaganda em período pré-eleitoral.
*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main