Metalinguagem em “A rosa púrpura do Cairo” – Sebastião Pereira do Nascimento*
A origem da palavra metalinguagem remete a segunda metade do século XX, a partir dos anunciados linguísticos de Roman Jakobson (pioneiro no estudo da análise estrutural da linguagem), quando o mesmo procurou definir a linguagem em pelo menos seis funções: emotiva, conativa, poética, fática, referencial e metalinguagem. Esta última, se refere a um expediente em que a própria linguagem é utilizada como conteúdo de alguma coisa que logo será escrito, falado ou representado.
Na literatura corrente, os primeiros registros da metalinguagem se percebe na poesia, onde os poetas podiam expressar os seus sentimentos diante de suas palavras, isto é, o poeta revelando a sua própria essência poética. A propósito desses registros, o dicionário também se coloca como um bom exemplo de metalinguagem, pois tem o objetivo de descrever e falar sobre os códigos que compõem a própria linguagem, tendo como função dar o significado às palavras, descrevendo a sua linguagem.
Como função, a metalinguagem pode ser aplicada em diversos meios, com grande destaque para as áreas artística e cultural, onde além da poesia, aplica-se na música, teatro, cinema, artes plásticas, publicidade, entre outros seguimentos do universo humano. No meio artístico podemos nos referir, por exemplo, à natureza de um autorretrato feito por um pintor ou mesmo por um fotógrafo – no que se refere ao fotógrafo, esse estilo metalinguístico passou ser algo tão comum na atualidade, a partir da prática descomunal da autofoto (ou selfie, como muitos chamam).
No teatro, as expressões metalinguísticas também são bastante usuais, sendo um caso típico quando o personagem rompe o limite da encenação e passa interagir com o espectador, como se ele fosse, e na verdade não deixa de ser, um elemento de uma outra história que mistura a realidade com a ficção. No cinema há também diversas formas em que o recurso da metalinguagem pode ser utilizado. Aqui podemos considerar como exemplo o filme “A rosa púrpura do Cairo”. Uma comédia estadunidense produzida em 1985 e dirigida por Woody Allen. A história que mistura a realidade com a ficção, mostra com bastante clareza a multiface da metalinguagem.
O filme se passa após a primeira guerra mundial, numa época de grande recessão econômica marcada também pela violência e o autoritarismo, principalmente contra as mulheres estadunidenses. A trama começa com Cecília (Mia Farrow), uma mulher honesta e trabalhadora que sustenta um marido, alcoólatra, rude, violento e ainda por cima adúltero; que por tudo isso Cecília leva uma vida frustrada e infeliz, ainda que tenta fugir de sua realidade, mas nunca consegue.
Na trama, por causa dos maltratos e das traições do marido, Cecília resolve sair de casa, mas o marido não se importa, pois sabe que ela volta. E na manhã seguinte ela voltou, vestiu-se para o trabalho e deu continuidade à sua rotina diária. No entanto, completamente absorta com todos seus infortúnios, Cecília, que trabalha em um restaurante, deixa cair um prato e por conta disso é sumariamente despedida.
Fugindo de sua realidade, resolve ir ao cinema assistir mais uma vez o filme “A rosa púrpura do Cairo” – fita que já havia assistido pelo menos cinco vezes. Todavia, dessa vez Cecília tem uma grata surpresa, quando fora da cena o personagem principal, Tom Baxter (Jeff Daniels), começa a conversar com ela. Ele percebe que é a quinta vez que ela assiste ao filme e simplesmente se descobre apaixonado por Cecília. Então, o inacreditável acontece, o ator sai da tela, deixando os espectadores perplexos e seus colegas de cena também, afinal, um personagem sair da tela do cinema não é coisa comum. Assim, é a partir dessa casualidade que o filme passa explorar um código de linguagem que incide numa integrada função metalinguística.
Durante a narrativa, após se conhecerem mutuamente, Cecília percebe que também está apaixonada por Tom, um homem romântico e bom caráter. Tudo vai bem, até quando aparece Gil Sheperd (o mesmo Jeff Daniels), o ator que interpreta Tom no cinema. Preocupado, vai procurar Tom e pede para que ele volte para o filme, pois ele pode acabar com sua carreira. Quando percebe que não tem resultado, ele vai atrás de Cecília, que se apaixona por ele também, e passam agradáveis momentos juntos.
Assim, a história segue dessa maneira e chega um momento que Cecília deve decidir se fica com a realidade ou com a ilusão. Encurralada decide pelo concreto, e toma a decisão de volta a sua dolorida realidade. O filme, “A rosa púrpura do Cairo”, mais do que uma história divertida e bem contada, remete também um código linguístico que foca, através da intertextualização, verdadeiros significados da metalinguagem.
*Filósofo E-mail: [email protected]
Pontos de Cultura – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Os pontos de cultura são a bolsa-família das entidades, dos valores, dos significados e da imaginação criativa dos que são maioria, mas tinham se tornado minoria silenciada”. (Emir Sader)
Quem viveu os momentos alegres do final da década dos oitentas, sente saudade do movimento. Foram dias sadios e felizes. O movimento do Ministério da Cultura, com as Teias, fez-nos orgulhosos. Um movimento que agitou e mobilizou todo o País. Em Roraima tivemos, e fizemos, uma tarefa gratificante. Orgulho-me de ter participado da luta renhida que encaramos para acordar os que tinham se tornados minoria silenciada. As rejeições que sofremos, de dirigentes públicos que tiveram dificuldade em entender o valor do trabalho que iniciávamos, foram chocantes. E tudo para desvincular a cultura da educação. O que ainda continua parecendo extravagância.
Mas, como tudo mais no país do já teve, nas mudanças dos governos, tudo foi jogado para escanteio. A cultura voltou a ser vista vestida de terno escuro e gravatas caras. As escolas voltaram ao mesmismo em relação à cultura. Em pouco mais de quarenta anos a população do Brasil quase triplicou. E o poder público não prestou atenção a isso e continuou com a mesmice do blá-blá-blá.
Mas vamos tentar fazer nossa parte, sabendo que a tarefa não é simples nem fácil. Mas é nas dificuldades que aprendemos a facilitar.
Acordei com saudade daqueles tempos. De todos os que participaram do evento inesquecível. Mas não vou mencionar nomes por falta de espaço. Mas todos os que participaram sabem de quem estou falando. Meu carinhoso e caloroso abraço a todos que fizeram sua parte no engrandecimento da cultura no nosso País carente de cultura. O importante é que tenhamos consciência dos nossos dever e obrigação de fazer tudo para voltarmos à luta esquecida no menosprezo dos dirigentes que não estão nem aí para o desenvolvimento do País. Vamos fazer nossa parte com nossas limitações.
E porque não nos preparamos para o futuro não estamos conseguindo viver o presente que deveríamos ter construído. Mas cada um de nós tem o poder de mudar esse espetáculo. Ponhamo-nos na ribalta, e digamos aos espectadores acomodados no poder, o que realmente queremos e vamos fazer. E nossa arma é o nosso voto. Mas este tem que ser consciente. E não votaremos conscientemente, enquanto não formos educados para o voto. Então vamos nos educar para podermos votar conscientemente, com o voto facultativo. Mas só o teremos quando
formos educados para ele. Então vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita: com qualidade e responsabilidade. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460