Dois de Setembro
Luiz Maito Jr*
Já descansados de matar os mortos vivos, agora matam a nossa alma, a devoção ao Deus capital, nos empurra a ladeira que nos jogará noinferno onde talvez arderemos nos mármores. Uma fagulha inicia tudo, mas a fagulha só inicia e a combustão total se dá pelo desaparecimento da f(F)onte histórica, a transformação do passado em poeira, em cinza, serve ao moderno, ao digital, ao virtual.
O crível é criado a cada instante novo, o arcaico é coisa a ser substituída, é coisa de museu. Este arcaico deve ser desmantelado, a destruição do passado é a chama para um futuro sem compromissos com a identidade de um povo, com a identidade que nos torna humanos. O crível tem as virtudes do seu tempo, o crível é ensinado, é construído, mas há um inimigo a ser esmagado. A História.
Muito em breve dirão que é lenda ou coisa de românticos que houve homens e mulheres por aqui há 12.000 anos, cadê a prova dirão em uníssono. Muito em breve dirão nunca houve animais gigantescos na esquecida e futura terra brasilis, não tem como provar isso, onde estão seus fósseis? Muito em breve, ainda mais que hoje, nos dirão de como somos um povo sem memória, porque se esquecerão de como se apagam as memórias de um povo em nome de um futuro que precisa criar a sua própria memória…
Seletivamente escolherão o que deve ser lembrado, seletivamente nos dirão em escolas modernas que somente o crível e a razão pura deverão nos nortear, porque o que não existe documentado, não existe como ciência ou disciplina. Então poderemos dormir tranquilos já que vacinas matam, a terra é plana, a ditadura foi uma revolução, armas salvam, Deus é para ser temido, índios são preguiçosos.
Nosso Onze de Setembro chegou nove dias antes, lá quase três mil pessoas morreram num ataque horrível, que deixou o mundo boquiaberto e estarrecido, o ódio matou e continuou matando mais alguns milhares depois em nome da vingança. E aqui dá pra calcular quantos mortos foram mortos mais uma vez? Quantos vivos perderam a produção de uma vida inteira? Quantos mortos futuros perecerão sem nem mesmo saber que viveriam em pesquisas, teses, conclusões científicas?
Ontem muita gente morreu, mas não haverá corpos a serem contados, não haverá cerimônias reverenciando heróis, não haverá transmissão ao vivo de sepultamentos coletivos com toques fúnebres, não, não haverá. Teremos que esperar décadas ou séculos para contar esses mortos vindouros, talvez nem contemos mesmo, porque essa memória já nem mais a teremos.
*Pós-graduando em História da Amazônia
Olhando para trás
Walber Aguiar*
“De repente, a gente vê que perdeu Ou está perdendo alguma coisa Morna e ingênua que vai ficando no caminho.” (Cazuza)
Era noite. O quarto escuro denunciava qualquer coisa assim inusitada. Vontade de fugir, de ir comprar algo na esquina e desaparecer no meio da multidão. De atiçar lembranças e revirar memórias. De esvaziar o baú de quinquilharias existenciais e arrumar tudo que valia a pena colecionar.
Ali, na geografia do silêncio forçado e da solidão quase patológica, mergulhamos na estrada, percebemos o vácuo, entendemos a ausência de nós mesmos. A noite, regida pelos ponteiros da angústia, revelou tudo que se passava entre muros, paredes, janelas, corredores e avenidas. Diante dos olhos perdidos a mutilação psicológica. Os pedaços significativos que fomos perdendo durante a caminhada.
As estrelas viraram lágrimas, ainda que companheiras da insônia. O vento trouxe os detalhes que estavam armazenados no coração. O medo, amigo de todas as horas, trouxe flores amarelas e medrosas.
A inocência era palpável na escuridão, ainda que estivesse distante. Pensamos no tempo de criança, na ingenuidade perdida, no coração humano e solidário. Entretanto, já não havia espaço para oferecer flores ao desconhecido, para ajuntar os “samaritanos” vitimados pelo trágico. Não podíamos “falar com os estranhos”, pois a estrutura social maligna nos prendia numa bolha individual e utilitarista.
Debruçados na janela da inquietação, tentamos ajuntar os pedaços, os cacos coloridos que ficaram para trás. Perdemos a mãe, a ternura, a capacidade de indignar-se diante da injustiça e de todas as formas de perversidade. Ao perder o sono, achamos a dor da incompletude, do despedaçamento psicológico. Para trás ficou a água limpa da honestidade, a pureza do ético, o fogo da compaixão, o senso de coletividade.
Ali, entre o céu da virtude, a movediça realidade e o “pântano enganoso das bocas”, sentimos falta da amizade incondicional, do amor desinteressado, dos mais quentes afetos. Entretanto, ainda podíamos resistir a nós mesmos e àquilo que na vida nos vence. Tentar recuperar os fragmentos, a coisa morna e ingênua que ficou no caminho.
Era noite. Uma longa noite. Tempo de lançar fora todos os “rebotalhos” e trapos de auto-respeito e ajuntar o que sobrou da vida.
*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. E-mail: [email protected]
Fora foro privilegiado Marlene de Andrade* “Na tua bolsa não terás pesos diversos, um grande e um pequeno. Na tua casa não terás dois tipos de peso, um grande e um pequeno. Peso inteiro e justo terás para que se prolonguem os teus dias na terra que te dará o Senhor teu Deus. Porque abominação é ao Senhor teu Deus todo aquele que faz isto, todo aquele que fizer injustiça.” (Deuteronômio 25:13-16).
O “foro privilegiado” é algo abominável e não dá para entender como nós pessoas de bem, minimamente conscientes, nos submetemos a uma lei tão absurda como essa, a qual representa uma afronta ao cidadão de bem. Como é que nós nos submetemos a esse irracional e insensível? Quer dizer que o político com mandato pode matar, roubar e destruir até uma nação inteira, bastando para isso ter a des-graça do “foro privilegiado” que está tudo bem e legal, ou seja, dentro da legalidade?
O Site Globo Brasil declarou que em outros vinte países também existem esse foro, mas não tão amplo como no Brasil e que o foro privilegiado das autoridades brasileiras se estendem tanto para o Poder Legislativo, Executivo e Judiciário. Que isso? Que país é esse? Para mim essa lei é satânica e colabora com os inúmeros desdobramentos e a vontade de roubar dos políticos, escandalosamente, os cofres do povo, pois os cofres públicos pertencem ao povo e não aos políticos.
Esse site fez um levantamento mostrando que até vereador, em nosso país tem direito de ser julgado em instâncias diferentes do restante da população, contudo, nos Estados Unidos, nem o homem mais poderoso do mundo, o Presidente Donald Trump, tem esse benefício, visto que naquele país tanto integrantes do Poder Executivo como os Parlamentares podem ser julgados na Primeira-Instância e na Alemanha a Primeira Ministra Merkel tem tratamento comum como qualquer ser humano. Quanto à Inglaterra nos informa ainda o, Site Globo Brasil, que naquele país ninguém brinca em serviço, sendo assim, a Primeira-Ministra Thereza May ou qualquer um de seus Ministros e Parlamentares estão também sujeitos a julgamento na primeira instância da justiça como qualquer outro cidadão inglês.
Devido a esses fatos, hoje no Brasil, milhares de pessoas resguardadas por esse foro satânico nunca vão pegar cadeia visto que mesmo perdendo o mandato o andar da “carrocinha” em nosso país é lento demais e para esse fato não existe avião a jato que possa chegar a tempo para incriminar esses “santinhos” corruptos e ladrões de nosso Brasil. Aí cabe uma pergunta: será que essa lei não pode ser mudada? Cadê o nosso Congresso Nacional? *Médica Especialista em Medicina do Trabalho
Mantenha-os p
or perto
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Reconhece-se um país subdesenvolvido por nele ser a política a maior fonte de riqueza.” (Gaston Bouthoul)
Infelizmente ainda vemos muitos candidatos nessa linha. E como somos nós, eleitores, os responsáveis pela manutenção da riqueza deles, vamos tomar cuidado. E o melhor que podemos fazer é nos educarmos sobre o que realmente é a política. Ela está em todos, e em todos os lugares e atividades. Ela faz parte da Educação. Não sei se você se lembra daquela pantomima, do cara que pela televisão, fez uma campanha para se mudar a letra do Hino Nacional Brasileiro. Ele alegava que a letra do hino é muito clássica e os jovens não conseguiam entendê-la. Logo depois, foi abolida da grade escolar brasileira, a matéria de moral e civismo. E como é que queremos que Brasil continue sendo escrito com B maiúsculo? Que tal, se começarmos a prestar atenção a isso?
Estou realmente preocupado com o futuro do Brasil. E o mais preocupante é que não nos preocupamos com isso. Já estamos querendo bagunçar a língua portuguesa no Brasil. Sem nem mesmo perceber que ela já vem sendo bagunçada há muito tempo. O que ouvimos de erros simples, ditos a todos os momentos por comunicadores de televisão e por matérias expressas em jornais, não está no gibi. São tantos os exemplos simples, que até encontramos dificuldade em percebê-los. Por exemplo: é comuníssimo ouvirmos o repórter dizer: o show é amanhã, no Parque Anauá. Deu pra sacar o erro na simplicidade?
Voltemos à política, já que ela é o esteio do progresso. E nunca iremos progredir se não aprendermos como eliminar da política, políticos que não são políticos, senão aventureiros, a fim de enriquecer através da política e dos despreparados que os elegerão. Nada de arrufos. Brigas na política são um dos maiores despreparos políticos. Onde quer que estejamos, a política está presente. Politicamente falando, os falares expressam pensamentos políticos. O Dom Corleone expressou-se como um político, na sua atividade considerada abominável: “Mantenha seu amigo por perto. E seu inimigo mais perto ainda”.
Os que progrediram em suas atividades, independentemente do nível delas, souberam agir politicamente. Então vamos considerar a política e agir como cidadãos honestos. E procure ser honesto com você mesmo, ou mesma, com o seu voto. É com ele que você vai manter o amigo por perto e o inimigo mais perto ainda. Cuidado com candidatos que tentam aparecer nos defeitos dos adversários. Afonso Arinos alertou: “Os partidos políticos são arapucas eleitorais e balcões de vendas.” Você vota no candidato ou no partido? Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460