Opinião

Opiniao 06 09 2018 6875

UMA MÃO LAVA A OUTRA NA BACIA DE PILATOS

Percival Puggina*

O incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista foi como destocamento de raízes em área desmatada. A floresta que se perdeu não volta mais. É de doer na alma! A tragédia anunciada ocorre, coincidentemente, num período em que, por diversas circunstâncias, eu vinha escrevendo sobre as maliciosas mistificações envolvendo a História do Brasil e a identidade nacional.

Para alguns brasileiros que dirigiram a área cultural neste início de século, a história interessa como espaço para construção de narrativas convenientes sob o ponto de vista político e ideológico. Para outros, velharias como as que se exibem nos museus não têm qualquer significado e deveriam ser vendidas para “socorrer os pobres” (exatamente como pretendia Judas Iscariotis, exalando uma generosidade que não tinha, ao repreender a mulher que derramou perfume caro nos pés de Jesus). Nestes casos, temos a perigosa combinação da ignorância com a demagogia. Para os radicais, por fim, há mais cultura na pichação do que no monumento, nos poucos acordes do funk do que na música erudita, no Queermuseu do que no Museu. Fazer o quê?

A “cultura” tem outras prioridades. O Museu Nacional ardeu, então, com as centelhas da omissão e do desinteresse. Em tempos de verba curta, era preferível financiar eventos e artistas que, ali adiante, estariam subscrevendo manifestos de apoio político, participando de showmícios e fazendo denúncias em eventos no exterior. Uma mão lava a outra, na bacia de Pilatos.

Coincidentemente, no mês de julho, escrevi um texto apoiando a iniciativa de amigos que pretendiam, no Rio de Janeiro, preservar – vejam só! – as Cavalariças Imperiais da Quinta da Boa Vista. Os sucessivos retalhamentos do parque haviam levado mais da metade da área original e as cavalariças se extraviaram do belo projeto paisagístico de Augusto Glaziou. Considerávamos imperioso preservá-las. Tão pouco tempo depois, não eram as cavalariças que se perdiam, mas o próprio museu que ardia.

Sociedades civilizadas sabem que prédios e lugares históricos abertos à visitação, ao lazer e à cultura são imprescindíveis à construção da identidade nacional e, logo, da identidade individual dos cidadãos. Não há cultura sem raízes e as nossas veem sendo sistematicamente cortadas em virtude do anacronismo. Indivíduos sem raízes são levados para onde soprar a ventoinha das conveniências.

*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+

Museu Nacional: uma parte da história do Brasil que virou cinzas

Flamarion Portela*

Mais de 200 anos de história foram destruídas em poucas horas no último domingo, 2 de setembro, com o incêndio que atingiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Sem contar algumas peças milenares que compunham o acervo e que também foram destruídas pelo fogo, foram quase 20 milhões de itens queimados, apagando para sempre parte da história do Brasil.

Anos e anos de pesquisas feitas por especialistas também foram transformadas em cinzas. Fósseis e documentos históricos foram queimados e destruídos, entre eles o crânio de Luzia, o mais antigo morador das Américas já encontrado até agora, aqui no Brasil, de mais de 10 mil anos. O que mais nos deixa perplexos é a falta de responsabilidade e de apoio do Governo Federal com a manutenção não apenas deste, mas de vários museus espalhados pelo País.

O Museu Nacional, por exemplo, até abril deste ano, havia recebido apenas R$ 54 mil para sua manutenção. Uma quanta ínfima, se considerarmos a importância da instituição no contexto histórico para o País. Vários outros museus também estão fechados ou foram destruídos em incêndios recentemente, como é o caso do Instituto Butantã, o Memorial da América Latina, a Cinemateca Brasileira e o Museu da Língua Portuguesa.

Agora, após a destruição, o Governo Federal já anunciou a liberação imediata de R$ 10 milhões para que a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que administra o Museu, possa iniciar sua recuperação. Também devem ser liberados mais R$ 5 milhões para a elaboração de um novo projeto de reconstrução do Museu.

O que causa estranheza é que até pouco tempo houve contingenciamento de verbas para a manutenção do Museu, que, se tivesse sido liberada, certamente teria evitado esse desastre.

Em entrevista à Globo News, o diretor adjunto do Museu Nacional, Luiz Fernando Dias Duarte, deu uma declaração que demonstra o quanto o próprio povo não tem o cuidado e o interesse que deveria com sua própria história. “Infelizmente, não é apenas um mau hábito das elites políticas, é uma coisa mais generalizada. Faz parte da cultura brasileira um certo desprestígio dessas dimensões mais ligadas à tradição, à manutenção da memória, etc.”. 

A declaração jocosa do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, ao dizer que “Agora que aconteceu tem muita viúva chorando (…). Tá aparecendo muita viúva apaixonada, mas, na verdade essas viúvas não amavam tanto assim o Museu (…).” é um reflexo contundente da falta de interesse do próprio Governo Federal na manutenção do seu patrimônio histórico e arqueológico.

É preciso um olhar mais atento para essas instituições que guardam nossa história. Um País que não cuida do seu passado, não pode garantir um futuro decente às novas gerações. 

*Presidente do Iteraima e ex-governador de Roraima

GREVE À VISTA?

Ranior Almeida Viana*

Com mais um perigo de paralisação à vista a Câmara dos Deputados aprovou na última terça-feira (04/09/18), a medida provisória de subsídio ao diesel fóssil, que vigora até o final de 2018.

Tá certo que o texto ainda tem que ser aprovado pelo Senado. Porém é importante que os nossos caríssimos representantes na câmara baixa tenham tido uma atitude em minimizar o poderio ofensivo dos “boatos” de possível de paralisação dos homens que tem o poder de parar o país, me refiro aos heróis e trabalhadores que fazem esse país literalmente andar, os caminhoneiros. 

No texto aprovado, o governo subsidiando R$ 0,30 em cada litro de diesel isso até o próximo 31 de dezembro, com o intuito de baixar o preço e chegue às bombas dos postos de gasolina. A medida deve custar R$ 9,5 bilhões aos cofres públicos.

Lembrando que a subvenção do combustível foi instituída após paralisação de caminhoneiros em maio. Com o rumor, o “saturado governo de final melancólico” (chega logo 31/12/2018!) tem que ser ágil para aprovar tal medida.

O relatório do deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) teve aprovação em votação simbólica por meio de acordo entre os parlamentares. Sabemos bem, como é à disposição deles neste período em que a maioria dos 513 deputados pretende retornar ao congresso nacional na próxima legislatura ou pleiteiam outros cargos nessas eleições. 

Um pouco de alívio, conforme a ABCAM (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), as mensagens de áudio que circularam neste último final de semana são antigas e se referem à paralisação que ocorreu no fim de maio. 

A paralisação partindo e sendo dos caminhoneiros é um movimento legítimo, até porque a greve é um direito dos trabalhadores garantido pela Constituição (Art. 9º). Agora se partir dos patrões e empregadores, é o chamado “lockout”, aportuguesando “locaute” que é quando o empregador impede seus funcionários de trabalhar para desestabilizá-los emocionalmente e obrigá-los a aceitar as condições impostas por ele. Que vedad
o pelo Art. 17 da Lei Nº 7.783, de junho de 1989, a chamada “Lei de Greve”.

Não esqueçamos que a paralisação de maioimpôs um duro ônus aos maiores centros com limitações ao transporte público e desabastecimento nos supermercados, e o alto índice de apoio aconteceu a despeito dessas dificuldades, o que mostra o caráter resoluto do protesto popular. Tendo consciência que fatura será paga por alguém, neste caso a nós mais uma vez, eles seguram o preço do diesel e aumenta-se o da gasolina. 

*Sociólogo – CRP 040/RR. [email protected]      

Se discutir, perde

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“É melhor calar e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, do que falar e acabar com a dúvida.” (Abraham Lincoln)

Por que discutir? Se você estiver com razão não há por que discutir. Deixe seu adversário se iludir, pensando que você perdeu a discussão. É o mais inteligente. As discussões só levam ao blá-blá-blá. Quando alguém estiver tentando fazer você parecer um bobo, lembre-se do Jaime Costa: “Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo.” Mas mostre que não é, calando-se e deixando que o bobo fique pensando que o bobo foi você. O general Heleno mostrou isso, no programa de televisão, ontem, quando um participante tentou discutir com ele e ele, simplesmente, não discutiu. 

Não alimentar discussões é a maneira mais inteligente de manter o bom humor, na sua. E nada é mais agradável do que o humor. Ele alimenta a saúde. Mantenha sempre o seu humor nas alturas. Mas, cuidado, não exagere. Brincar com alguém é coisa séria. Nunca ofenda alguém com uma brincadeira. Nunca use palavras grosseiras nas brincadeiras. O sorriso deve ser sempre moderado. A fala deve ser moderada, e se possível, sem gestos. E o mais importante nisso tudo é você ser sincero. Ame as pessoas seja quem for. Sua superioridade está na superioridade que você vê na igualdade.

Seja sempre uma pessoa feliz. E você nunca vai ver uma pessoa feliz e arrogante. É na arrogância que se demonstra a inferioridade. Respeite para ser respeitado. É no que fazemos que mostramos quem e o que somos. E se é simples é grande. Nunca permita que a inferioridade de alguém, no comportamento dele ou dela, faça você se igualar com ele. O importante é que sejamos iguais, mas sem familiaridade. Cada um na sua, respeitando as diferenças. Ao acordar, pela manhã, pergunte-se o que você vai fazer durante o dia. A resposta será sempre sua, e de acordo com sua evolução racional. E esta depende da sua capacidade em se conhecer. 

Não se esqueça de que você é a única pessoa capaz de fazer você se sentir feliz ou infeliz. Tudo vai depender de você e de mais ninguém. Então evolua. Seja você em você mesmo ou mesma. Nunca tente ser igual ou melhor do que alguém. Você já o é na igualdade. O que o torna superior sem exibir superioridade fajuta. Sorria sempre, sem o receio de parecer bobo. Quando o sorriso é sincero, sempre cativa. Cuidado sempre com o que fala. E não tente ser o dono da palavra, nem da cocada. Seja simplesmente você. Isso de per si já é suficiente para você ser respeitado. Tenho certeza de que ninguém já foi capaz de tentar ridicularizar você por ser uma pessoa sorridente. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460