Qual o nosso patrimônio?
Fernando Caparica*
Nossas prioridades são definidas de maneira responsiva, de acordo com a tragédia do dia. Assim como nos “Stories” do Instagram, elas logo saem de cena e da pauta do dia, sendo substituídas por algo mais recente – não necessariamente mais importante. O massacre do Carandiru, em 1992, gerou um clamor geral sobre a insustentabilidade de nosso sistema carcerário.
Vinte e cinco anos depois, já havíamos até esquecido quando novos massacres pipocaram em nossos presídios no ano passado, com ainda mais mortos. A chacina da Candelária, em 1993, gerou um clamor geral sobre nossas crianças em situação de vulnerabilidade. Novamente, após vinte e cinco anos, estudo realizado pelas Organizações não Governamentais Observatório das Favelas e Open Society Foundations mostrou que a participação de crianças no tráfico do RJ dobrou nos últimos cinco anos.
Faço essa breve preleção, apenas para contextualizar e justificar o meu ceticismo com toda a celeuma suscitada pelo incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro com relação ao nosso patrimônio histórico e cultural. Passado o clamor inicial, outros temas tomarão o palco e a nossa história voltará a ser desinteressante para a maioria de nossa população.
O cuidado por nosso patrimônio tem de se iniciar no berço, nas escolas de educação infantil, na conscientização de nossas crianças sobre a importância de nossa história, de nossa cultura, de todas as nossas crenças e valores. As crianças são o nosso amanhã, as sementes que germinarão e cujos frutos alimentarão nosso planeta. Assim como a diversidade de espécies é indispensável para a sobrevivência das plantas, a diversidade cultural é indispensável para a preservação de nossa herança.
Tragédias históricas como o Nazismo, o Estado Islâmico (ISIS), o Ku Klux Klan, as Cruzadas, o Nakba, dentre outras que já foram ou ainda estão acontecendo, decorrem da necessidade estúpida e inócua de um ser humano em impor suas crenças e valores ao seu próximo. Não adianta querermos preservar nossos prédios se não preservarmos nossa gente. Prédios são importantes, animais e plantas são importantes, mas quem pensa e age somos nós, seres humanos.
Essa é a razão pela qual a Mostra Sustentável, além de preservar prédios históricos como o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, referência nacional em saúde mental, se coloca como uma ferramenta de transformação social em benefício de uma instituição de benemerência. É também a razão pelo qual, além de fazermos a compensação ambiental das emissões de gases de efeito estufa, também inserimos um projeto pedagógico com visitas escolares para alunos do ensino fundamental.
No final das contas, nosso patrimônio é o presente que cuidamos e o futuro que plantamos.
*Empresário e empreendedor, engenheiro eletricista, pós-graduado em administração de empresas e construções sustentáveis, sócio proprietário da Ecotopia Soluções Sustentáveis, empresa organizadora da Mostra+Sustentável e das SustenTalks.
Eleição livre
Tom Zé Albuquerque*
Imagine um país cuja população defende a candidatura de um político, há meses preso, condenado por corrupção, após, sustentadas sentenças em várias instâncias, frutos de exaustivas investigações (apenas uma de outras tantas) por parte de reputados magistrados.
As sanções ao quase candidato, de tão explícitas, em muito se alinham com o comprovado e espantoso enriquecimento fenomenal do condenado e sua esposa, já falecida e injustamente acusada (pós-morte) de ser responsável por caprichos que levaram o esposo a se locupletar. Sim, o Brasil pariu um dos maiores malandros da política brasileira, aquele que assenta a prática do “em tudo se dá um jeitinho”, ou “se é companheiro, tá dentro”. O autor dessas asneiras chama-se, como se deu para notar, Lula.
Este pulha também já elogiou Adolf Hitler e Khomeini, dois sanguinários, que dispensam apresentações, por horrorizarem o mundo ao tratarem seres humanos como escória, sempre que contrariedades ao seu ideário fossem rebatidas. Quando ainda presidente do Brasil, Lulão, ao passear pela África, disparou: “A escravidão é como dor de cálculo renal, não tem explicação, só sentido”. Para essa asneira, o conceituado jornalista José Simão discorreu… “E eu acho que o governo lula é como exame de próstata, não tem explicação, só sentido”.
Por falar em África, o preso tríplex em mais uma visita àquele continente, curtiu o momento dizendo: “Eu fui ao Gabão aprender como um presidente consegue ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar à reeleição”. Bem, considerando as raízes de amizade do bizarro ex-presidente tupiniquim com Hugo Chavez (o mesmo que recebeu fortunas de dinheiro público brasileiro para fomentar a ditadura venezuelana), presume-se que a perpetuação de poder é uma espécie de tara do ex-sindicalista. Ou era, até o Superior Tribunal assegurar o axiomático: que presidiário não pode representar o povo.
Estranho a suprema corte de um país ter que decidir o óbvio. É sinistro não só a candidatura, como o pedido de deferimento, como o julgamento e, mais bizarro, ter brasileiro vislumbrando que um facínora possa reassumir o desenrolar político de uma nação. O mais engraçado é que os que defendem o famigerado “lulalivre” defendem o combate à corrupção. Ora, ou uma coisa ou outra. Aliás, não há nada mais bizarro que um político invocar um corrupto como referência para angariar votos. Antes as referências eram pessoas honestas, íntegras; hoje, um presidiário é o parâmetro para campanha de convencimento para adesão. Loucura total.
Nunca esqueci quando, em 2005, o lulão, em prol do postulado que “tudo pode”, proferiu a surpreendente frase: “Diga ao Roberto Jefferson que sou solidário a ele. Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade”, sem saber que mais tarde o deputado condenado e inelegível, tão seu aliado, seria um homem-bomba de seu governo. No mesmo ano desferiu a nojenta frase: “O PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil, sistematicamente”, ao, segundo sua índole, sugerir que o caixa-dois não é nada de mais.
O Brasil está livre de um dos seus tumores, pelo menos temporariamente. A anarquia e a velhacaria estão em declínio e somente ausência de vícios e muita coragem do próximo Presidente pra reverter o enxerto da esculhambação predominante nos mais diversos flancos sociais.
*Administrador
Independência e Morte Daniel Severino Chaves*
Ouviram um grito horripilante em Juiz de Fora, de um povo paranoico com brado retumbante, e o sol da verdade, com seus raios fugidos, apagou o grito de ódio no céu da pátria naquele instante. Se o louvor é desigualdade, conseguiremos conquistar a pena de morte, em teu seio, ó liberdade, desafia o vosso peito à própria sorte! Ó política amarga, idolatrada mire o calvo e acerte o alvo!
Brasil, esse sonho intenso, já foi vivido, de amor e de esperança e um marajá ninguém esquece, se naquele formoso céu que hoje é réu, risonho e límpido, a imagem da corrupção rejuvenesce. Meliante pela própria natureza, foi belo, foi forte, impávido colosso, mas seu futuro espelhou a safadeza, terra abobada, entre outras mil foi imbecil ó pátria amarga! Dos filhos deste solo foi mãe senil, pátria amarga Brasil!
Deitado eternamente no Congresso em berço esplêndido, viu a política passar à luz do seu sono profundo, fulguras, no Brasil, como rufião do estudante, irradiando ódio com seu sol de meliante! Atrai pra terra, mais guerrilha, sem quilombos, lindos campos sem as flores. Nas malocas mais feridas, nessa vida no teu seio mais horrores, ó pátria amarga mude o alvo e salve o calvo!
Brasil, de horror e enterro n
ão seja símbolo, a labareda que ostentas seja apagada, e diga ao condenado que a luta inflama, paz no futuro é enterrá-lo no passado, mas, se tens na justiça um braço forte, verás que não morreu seus filhos da luta, nem o triplex, que te jogou à própria morte, bebum descolado, esse outro vil que se pariu, encarcerada!
Dos filhos deste, tolos és o mais buril, pátria amarga Brasil! Prospectivista*
Viver sem reviver
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Os dogmas do passado tranquilo são inadequados para o presente; como o nosso caso é novo, temos que pensar de maneira nova, e agir de maneira renovada.” (Abraham Lincoln)
Não esquecer o passado nos traz bons resultados quando sabemos a importância do que lembramos. Lembrar o passado não significa viver o passado, nem no passado. Ontem, pela manhã, casualmente peguei um papelito na minha gaveta e nele estava o nome de um amigo. Amigo de velhos tempos. Era o nome do jornalista Ney Marinho de Melo, do grupo “Diários Associados”. E estou preparando um momento adequado para iniciar essa história interessantíssima do meu contato com o Ney e tantos outros jornalistas da época, como o jornalista e escritor, Manuel Rodrigues de Melo, que não tinha parentesco com o Ney. Foram momentos importantíssimos na minha vida de adolescente.
Mas não estou tendo paciência para esperar o tempo adequado para falar disso. É só uma dica: foi mais ou menos em mil novecentos e cinquenta, quando, um dia entrei na redação do jornal, e o Ney me falou:
– Afonso… estou lendo um livro muito interessante. Quando terminar de lê-lo o emprestarei a você. Vai ser muito importante pra você.
Uma semana depois ele me passou o livro: “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, do Dale Carnegie. Não sei quantas vezes já reli esse livro em todas essas décadas. Já o comprei várias vezes e ele sempre foge de minha estante. Mas tenho um volume, aqui, que o comprei num sebo, em São Paulo. É gostoso pra dedéu, quando você começa um domingo, defrontando-se com lembranças que vale a pena lembrar. Faça sempre isso. Sempre que uma lembrança agradável lhe vier à cabeça numa manhã agradável de um domingo, aproveite-a e viva o momento.
Já estávamos à mesa, para o café da manhã, e comecei a falar com a dona Salete, sobre o quanto lamento não poder dar uma caminhada, agora, pelas ruas daqueles tempos. Mas ela ficou enciumada e começou a falar do quanto ela gostaria de rever familiares, amigos e ruas de sua terra. Aí, meus sonhos naufragaram. Sentei-me ali e comecei a bolar um papo com você, falando daqueles dias felizes que vivi nas minhas, infância e adolescência.
Mas é um papo longo, vou ter que dividi-lo em capítulos. Mas não fique apreensivo. Serei moderado. Mas tenho muita história pra contar. E tenho a impressão que alguém está mexendo no meu baú. E isso me ocorreu quando depois de encontrar o papelzinho com o nome do Ney Marinho, sem intenções, fui até a estante e lá estava uma cópia de uma matéria publicada no jornal “Diário de Natal,” referindo-se a todos os assuntos que acabei de mencionar. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460