Opinião

Opiniao 06 10 2018 7034

Sou hétero e tenho orgulho de ser Vera Sábio*

Está ultimamente tão propagado o direito de ser homo que pouco se fala do valor natural de ser hétero. E realmente não entendo o porquê da necessidade tão grande de destaque por algo que pela própria natureza não tem valores para grandes propagações. 

Ao observarmos a natureza, verificaremos que desde o princípio existe, dentre todos os animais, racionais e irracionais, aqueles que têm aptidões pelo outro do mesmo sexo. E tanto a paz como a guerra aconteceram, independentes de suas escolhas. 

A tolerância na modernidade é menos exercitada, pelo destaque, pela vontade urgente de se manifestar como tal. Ou seja, pela indiscrição em querer ser diferente, muito mais do que o direito lhes permite. Sou mulher e gosto de homem, o que não me dá direito de expor meu corpo nu, em qualquer local público para mostrar minhas características e desejos. Não tenho direito de parir no público, para que todos vejam e acreditem que sou mãe; não tenho direito de pregar ou ensinar sexo para crianças em formação, simplesmente por querer meus direitos respeitados. Afinal meu direito termina, onde começa o direito do outro. 

O que não é certo é simplesmente eu achar que estou certa, que o mundo me deve porque sou diferente e que tudo precisa girar em torno do meu umbigo. Para tentar ser mais clara e não deixar margem para que pensem que estou sendo preconceituosa ou homofóbica, todos sabem que sou cega, ok. Bom, então seria interessante se todos fossem cegos para me compreender melhor, não deixarem barreiras que me atrapalham, não me olharem como se a visão interferisse na minha inteligência, enfim não tivessem imagens mudas, belezas naturais e nada que meus olhos não possam ver, para que todos fossem iguais a mim… 

Isto é uma hipótese totalmente falha e egoísta; pois na verdade o mundo gosta de enxergar, o mundo foi feito para pessoas que enxergam, embora exista quem não enxerga também. E só para completar, o mundo não tem culpa da minha condição, há coisas como reformas arquitetônicas e conscientização do direito de pessoas que não fazem parte da maioria, que podem e devem ser realizadas e respeitadas. No entanto, para minha melhor convivência não preciso ser revoltada e andar pelada, por exemplo, afinal não enxergo e não quero saber se outros estão vendo o que não vejo. 

Vivemos em uma comunidade ou seja comum unidade, onde todos somos antes de tudo da raça humana, temos limitações diferentes e aptidões diferentes, mas a moral, a ética e o direito, vale para héteros e homos e não é preciso ridicularizar para isto. O respeito para ser recebido, primeiro precisa ser doado.

*Psicóloga, palestrante, escritora, servidora pública, mãe esposa e cega com grande visão interna. Adquira meu livro “Enxergando o Sucesso com as Mãos”

Cel: 99168-7731  Blog: enxergandocomosdedos. blogspot.com.br

Educação, democracia e êxodo Ronaldo Mota*

Graças à educação, bem como à ciência e tecnologia que dela decorrem, a civilização humana vive, em termos comparativos, seus melhores dias. Seja pela inédita qualidade de vida, mensurada pelo acesso a serviços e produtos, seja desfrutando de mais saúde e, em tese, maior potencial de atingimento de felicidade do que tínhamos no passado. Durante milênios, a expectativa de vida permaneceu estabilizada em torno de 40 anos. No século XX, ultrapassamos os 70 anos e continuamos, neste século, a avançar significativamente. A busca pela razão, guiada pelo conhecimento, tem assegurado um desenvolvimento acessível a uma parcela cada vez maior da população mundial. 

A democracia, em que pesem suas fragilidades, é o que dispomos, contemporaneamente, de mais avançado e justo socialmente. A Constituição Brasileira traz no seu Art. 1o, Parágrafo único, o que segue: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 

Êxodo é o nome dado para a saída de um grupo de pessoas de uma região para outra. É também o título do segundo capítulo da Bíblia, onde é descrita a fuga dos hebreus do Egito, liderados por Moisés, em direção à Canaã, a “Terra Prometida”. 

Educação, democracia e êxodo parecem ter marcado um estranho encontro nesta eleição presidencial no Brasil. A polarização política vigente é motivada, principalmente, pela oposição a algo e menos por adesão a determinadas ideias. Ou seja, parcela do eleitorado parece ter mais clareza acerca do que não quer do que o que, de fato, quer. O drama é que por se firmarem mais no “não” do que no “sim”, são eleitores que parecem igualmente tender a sugerir, quase como chantagem, a possibilidade de, caso não sejam vitoriosos, abandonar o país. Ainda que emigrar seja um direito individual ou coletivo inquestionável, o uso desta chantagem é, definitivamente, pouco educado e, no limite, antidemocrático. 

Educação não é somente o alicerce básico da oportunidade de um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável; ela é também a melhor ferramenta para enfrentarmos momentos complexos e difíceis. Educação política é aprender a conviver com os antagônicos e, especialmente, aprender a respeitar as orientações assumidas via maiorias constituídas. Mesmo quando elas, eventualmente, nos pareçam equivocadas e desprovidas de nexo. É hora de lembrarmos que, ao lado de seus defeitos e limites, a democracia permite, usando seus próprios mecanismos, se corrigir ao longo do tempo. 

Escrevendo no abstrato, que a antecedência do fato permite, entendo que, uma vez eleitos, mesmo quando, eventualmente, contrários em temas substantivos para cada um de nós, eles merecem o reconhecimento geral de legitimidade. Sem prejuízo de garantirmos a todos a oportunidade de continuarem defendendo projetos e ideais diferentes dos eleitos. Acima das peculiaridades de breves momentos históricos, por mais relevantes que eles sejam, há a saga de um país que não pode jamais se deixar vencer. Os fatos serão alimentos para uma educação social consistente de uma nação que permanentemente aprende, de forma solidária e cooperativa.

*Chanceler da Estácio

Inteligência espiritual Salvatore D’ Onofrio*

Parece-me que há alguns estudiosos de psicologia que costumam misturar ciência com religião, duas atividades mentais bem distintas, com metodologias irreconciliáveis, pois a primeira está baseada no raciocínio lógico e na experimentação e a segunda na crença nas palavras de presumidos profetas ou na fantasia, o templo comum da religião e da arte. 

Fiquei intrigado com a leitura do artigo “A inteligência que vem da alma” (Revista Bem Estar, Diário da Região, 17/-9-17), em que a jornalista Gisele Bortoleto relata a descoberta por neuropsicólogos norte-americanos daquilo que está sendo chamado de “Ponto de Deus” no cérebro humano. Se entendi corretamente, teriam encontrado conexões neurais específicas de um tipo de inteligência que eles denominam de “espiritual”, porque viria da alma humana por um contato com o divino que estaria dentro de nós, independentemente de qualquer profissão de fé ou até de ateísmo. 

A meu ver, não existe nada de natureza divina no ser humano, pois a inteligência é apenas um produto do cérebro, órgão do corpo humano que nos faz pensar e sentir, assim como o coração impulsiona nosso sangue. Evidentemente, o cérebro, como qualquer outro órgão, pode ser analisado cientificamente, encontrando-se diferentes fases ou tipos de atividade mental, na dependência de fatores genéticos e educacionais. Poderíamos chamar de “espirit
ual” a inteligência de gênios e benfeitores da humanidade (grandes filósofos, cientistas, artistas) e dos mortais comuns que praticam o autoconhecimento, têm uma visão integrada da realidade e se preocupam com o bem estar da coletividade, convencidos de que ninguém pode progredir e ser feliz sozinho.

*Doutor pela USP e Professor Titular pela UNESP

O valor do entrosamento Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O segredo é não forçar a porta alheia. Bata devagarzinho e vá entrando de mansinho.” (Ibrahim Sued)

O entrosamento nas relações humanas parte daí. Nada de euforia nem vulgaridade. Quando você se entrosa com as outras pessoas tudo fica mais fácil e mais agradável. Até mesmo nas coisas mais simples. Já lhe falei daquele mercadinho na Praça João Mendes, em São Paulo. No café da tarde eu sempre ia comprar o queijo, no mercadinho. Cheguei e apontei para dois queijos diferentes e falei: 

– Cem de cada. O balconista ficou me olhando e perguntou:  – Está de carro aí?  – Não, por quê?  – Porque vai demorar muito pra pesar duzentos quilos de queijo.

Rimos e ele me passou os duzentos gramas. 

– Aqui, em Boa Vista, compro o pão da tarde no supermercado aqui pertinho de casa. 

Sempre que chego, levanto a mão com os quatro dedos em riste, e falo para a garota atendente: 

– Quatro e quatro. Ela empacota quatro massa fina e quatro, massa grossa. Mas ontem, cheguei lá e só havia duas garotas atendendo e dois clientes esperando. 

Uma das garotas atendia a um cliente e a outra embalava pães em dois envelopes. Cheguei e fiquei esperando que alguém me atendesse. A garota que embalava os pães colocou-os na balança, colocou os selos e passou os pacotes pra mim. Arregalei os olhos e falei: 

– Não querida… Você está enganada. Deve ser daquele cidadão. 

Ela sorriu e falou: – Não é quatro e quatro que o senhor quer? 

Rimos gostoso, agradeci pela atenção dela e saí pela rua chamando a atenção do público com meu sorriso. 

É legal pra dedéu, o bom entrosamento com as outras pessoas, desde que haja respeito no relacionamento. Como sou um péssimo fisionomista, não reconheci aquela garota que já está acostumada com meu hábito no pedir os pães. São momentos simples que ninguém presta atenção a eles. Comece a prestar mais atenção, tanto à pessoa que atende você, quanto à que é atendida por você. Na razão social somos todos iguais nas diferenças. E as diferenças nem sempre existem. Nós é que as criamos focados em nós mesmos. E é aí que caímos na esparrela de pensar que somos o que realmente não somos. 

Nunca deixe de elogiar alguém, e isso pode ser nas coisas mais simples. Sempre há o que elogiar em alguém. O importante é que sejamos sinceros e cordiais. É por essa vereda social que alcançamos o respeito no respeito que damos. Tudo é retorno do que enviamos. Só quando respeitamos é que somos respeitados. Eu nunca me esquecerei do comportamento daquele balconista em São Paulo, nem do daquela garota, ontem no supermercado. E foram atitudes simples, mas sinceras e respeitosas. Pense nisso.

*Articulista  [email protected] 99121-1460

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