Cotidiano

Após curada, mulher se torna voluntária

Exemplo de quem conseguiu vencer a batalha contra o câncer de mama fortalece aquelas que estão em tratamento

Durante o período da campanha Outubro Rosa, ganham destaque as comoventes histórias de pacientes que, com muita determinação e força de vontade, superaram a doença e hoje lutam para ajudar outras mulheres que passam pelo mesmo drama. Dona de uma risada cativante, Erilucia Teles, 52 anos, é uma dessas pessoas que até hoje batalham contra os obstáculos do dia a dia.

A vendedora autônoma disse que jamais imaginou passar pelo drama de conviver com o câncer de mama, doença oportunista que afeta anualmente mais de 52 mil mulheres em todo o País. “Infelizmente, é uma doença muito silenciosa, que entra na sua vida sem que você perceba. É algo que mata de forma tão repentina, porque não se manifesta em forma de dor, porém, não é algo impossível de ser superado”, comentou.

Ela descobriu a doença durante o banho, quando decidiu fazer um procedimento chamado autoexame. Ao notar algo estranho no seio, buscou imediatamente ajuda médica. Começou aí uma saga de desafios e superações em sua vida.

“Foi em abril de 2011 que descobri a doença. Na época, eu tinha 47 anos e, de fato, não tinha tanta preocupação com a minha saúde. Durante o banho, resolvi fazer o autoexame das mamas e notei algo duro em um dos meus seios, como se fosse um caroço. Procurei o médico e alguns dias depois veio a confirmação. Foi um choque saber disso, mas era necessário fazer algo o quanto antes”, disse.

Viúva e com uma renda não compensatória, a vendedora sabia que a busca por tratamento seria o segundo desafio na jornada. Como naquela época, por conta da falta de centros especializados em câncer, não havia a possibilidade de tratar a doença no Estado, a única solução seria partir para outras localidades do País. Foi quando ela tomou a atitude mais ousada de sua vida até hoje.  

“Contei para a minha família sobre a doença. Eles ficaram impactados, mas sempre procurei mostrar para eles que manter a calma naquele momento era fundamental. Como aqui no Estado não tinha como tratar a doença, a única solução era fazer tratamento fora. Nós tentamos conseguir TFD [Tratamento Fora de Domicílio], mas era um processo muito demorado. Foi quando decidi vender a minha casa para me tratar em São Paulo. Foi a atitude mais prudente a se fazer”, frisou.

Todo o tratamento de dona Erilucia Teles foi feito no Hospital Antoninho da Rocha Marmo, entidade filantrópica pertencente ao Instituto de Pequenas Misericórdias da Maria Imaculada, situado na cidade de São José dos Campos, interior do Estado de São Paulo. Foram dez meses de intensos procedimentos, até normalizar a doença.

“Como eu tinha um irmão que morava na cidade, e ele é uma pessoa muito conhecida de lá, então foi bem mais tranquilo todo o período em que fiquei em tratamento. Foram, ao todo, oito sessões de quimioterapia e 37 de radioterapia durante 10 meses. É um procedimento que não é fácil, mas quando se tem Deus no coração e vontade de viver, tudo é possível”, frisou.

Por recomendação médica, a autônoma continua a manter sua rotina de exames. Esse ritual é feito a cada seis meses, além de fazer o uso de medicamentos contra a doença. Para ajudar mulheres que passam pelo mesmo drama, ela se dedica ao trabalho voluntário na Liga Roraimense de Combate ao Câncer, uma Organização Não Governamental que trabalha há 23 anos na ajuda portadores do câncer.

“Todas às quartas-feiras, a gente desenvolve uma série de atividades para as mulheres que passam por tratamento. É uma maneira de trazer um pouco de conforto a elas, já que é uma doença que causa muito espanto e, por muitas vezes, está associada à morte. A gente tenta, com todo esse serviço, elevar a autoestima e minimizar um pouco o sofrimento delas. Só quem passou por isso sabe o quanto é complicado lidar com a doença”, salientou.

Para Erilucia Teles, o apoio que recebeu dos três filhos, aliado à fé, ajudou a superar os obstáculos impostos pelo câncer de mama. “Sou a prova viva de que a fé em Deus é a única solução para superar todos os problemas da vida. Sou muito grata por todo o apoio que recebi. O meu recado é que todas as mulheres se cuidem. Procurem o médico e façam seus exames. Isso faz toda a diferença a sua vida e na vida das pessoas”, aconselhou. (M.L)

Liga atua há 23 anos dando apoio para mulheres com câncer de mama

Com 23 anos de existência, a Liga Roraimense de Combate ao Câncer (LRCC) é uma das principais entidades do Estado a desenvolver uma série de ações de combate ao câncer. A Organização Não Governamental é reconhecida por seu árduo trabalho na promoção da saúde e bem-estar para a população, visando sempre a prevenção e o diagnóstico precoce dos vários tipos de câncer.

“As atividades da Liga iniciaram em 11 de setembro de 1992 e a principal motivação para esse trabalho foi que, naquela época, o Estado ainda não tinha unidades para o tratamento de câncer. A única opção era fazer encaminhamento dessas pessoas para tratamento fora, e o local mais próximo para isso era o Amazonas. Só que muitos desses pacientes tinham dificuldades para se manter por lá. Foi daí que surgiu a associação para ajudar essas pessoas a se manterem fora do Estado, fazendo o tratamento do câncer que a gente diagnosticava, que nós chamávamos de Programa Renascer”, comentou a presidente da Liga, Magnólia Rocha.

Com a ajuda do Governo do Estado e do Lions Clube Dom Pedro, de Manaus (AM), a entidade conseguiu montar uma sede provisória no Estado vizinho para acolher os pacientes que faziam o tratamento contra a doença. O Estado era responsável por viabilizar o transporte aéreo, enquanto os demais custos ficavam a cargo da entidade. “Anos depois, o Estado refez a casa de apoio e nós deixamos de trabalhar nisso. Vimos que pela falta do hospital de câncer, seria conveniente trabalhar na prevenção”, frisou a médica.

Com as reformulações, as ações da Liga passaram a ser desenvolvidas com base em dois programas. O primeiro deles, o Renascer, viabiliza encaminhamento de pacientes a tratamento especializado na rede pública de saúde. O serviço é realizado pela Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacom), que fica dentro do Hospital Geral de Roraima Francisco Elesbão (HGR). Outra ação é o Programa de Combate ao Câncer, no qual são disponibilizados, dentro da sede da entidade, no bairro Aparecida, zona Norte, serviços de mastologia, ginecologia e urologia.

“A Liga recebe apoio de praticamente todos os segmentos, mas existem aqueles que se destacam. Se ela ainda sobrevive hoje, deve-se ao apoio financeiro do Sesi e da Fecomércio, que nos ajudam mantendo duas funcionárias de apoio logístico. Os demais profissionais são cedidos. A sociedade, por meio de doações em nossa conta corrente, ajuda manter esses serviços. Até o ano de 2012, nós trabalhávamos com a cedência de profissionais do município e Estado. Hoje, trabalhamos apenas com apoio dos cedidos pelo Estado, que são um bioquímico e um assistente social”, frisou a médica.