O Vazio no Mundo
Leonardo Torres*
Por que estamos vazios? Por que, se nós interagimos o tempo inteiro nas redes sociais com familiares, amigos e colegas? Hoje, não estamos mais sós, mas estamos inteiramente vazios. Parece que nunca houve no mundo um momento tão conectado e, ao mesmo tempo, tão sem sentido.
Nos últimos 40 anos, a internet que conhecemos nasceu, cresceu e hoje é praticamente uma necessidade básica. Nesse mesmo tempo, o índice de suicídios no mundo aumentou cerca de 60%, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). James Hillman, estudioso da psicologia arquetípica, aponta que o vazio, o “estar sem sentido”, é um dos fatores que influenciam no suicídio.
Esse vazio amedronta o mundo. Alguns cientistas já afirmam que assim como a Idade Média foi marcada pelas doenças biológicas, a atualidade será marcada pelas doenças psicológicas, principalmente a depressão.
Dietmar Kamper, estudioso da comunicação, sempre nos falou sobre como o mundo está em um processo de “Ocidentação”, ao invés de “Orientação”. Ao nos orientar, seguimos a luz do sol (o oriente é a terra do sol nascente). Ao nos ocidentar, estamos correndo atrás de um sol que já se pôs. Estamos na escuridão. Precisamos e buscamos as luzes dos aparelhos, porém, sem sentido, sem direção alguma, já que eles apontam para diversas direções.
Curiosamente, o “vazio” do mundo oriental é muito diferente do “vazio” ocidental. No oriente, o kanji para “vazio” é a mistura dos kanjis “sol” e “porta”. Deixar a porta aberta para o sol entrar. Deixar o seu “eu” aberto para a luz de dentro brilhar. Permitir-se. É buscar o sol dentro de si. Isso é orientação. Por isso, o mundo ocidental tem uma dificuldade imensa de entender o “vazio” da meditação oriental. Daí caímos no pensamento “deixe sua mente vazia, não pense em nada, você está pensando” e acabamos por pensar em tudo e concluir que a meditação não está funcionando.
Se estamos na “Ocidentação”, estamos procurando as luzes fora de nós, nos aparelhos eletrônicos. Nesse processo, parece que a verdade não está mais dentro, mas fora, na mídia. Interagimos nas redes sociais para tapar buracos sociais; consumimos produtos para tapar buracos emocionais; buscamos o tempo inteiro tapar os buracos de dentro da alma com algo de fora dela. No fim, obviamente, nada funciona. Esquecer o que está dentro de nós é cair na imensidão do vazio ocidental.
*Palestrante, Professor e Doutorando em Comunicação e Cultura Midiática
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As armadilhas das redes sociais
Antonio de Souza Matos*
Embora as redes sociais tenham aproximado as pessoas e facilitado a comunicação a distância, não se pode negar que seus usuários correm sérios riscos, sobretudo os mais jovens e imaturos.
Um dos graves problemas enfrentados por quem vive conectado à internet e às redes sociais é a dependência, que leva o indivíduo a priorizar as relações virtuais em detrimento do convívio com aqueles que estão próximos. Não há nada mais incômodo do que estar ao lado de uma pessoa que se recusa a nos dar atenção. É isso que faz o internauta que não consegue se desconectar um só instante, recebendo e enviando mensagens de texto pelo celular ou por outro suporte, independentemente de estar sozinho ou acompanhado.
Um amigo me contou que, em determinado dia, entrou na sala do chefe para resolver uma demanda de serviço. Permaneceu ali uns trinta minutos tentando conversar com seu superior, mas só conseguiu falar cinco. O homem estava o tempo todo conectado às redes sociais por meio de diversos aparelhos: celular, notebook, computador convencional e tablet.
Outro problema grave é a exposição gratuita. Pessoas postam nas redes sociais suas imagens e textos falando da vida íntima, sem levar em conta que estão lidando com um mundo tão perigoso quanto o real, cheio de gente mal-intencionada, que só espera uma brecha para destruir a reputação dos outros. Há jovens e adolescentes que se expõem demais. Divulgam endereço, telefone e outros dados que podem ser usados contra eles por sequestradores, pedófilos, traficantes, agenciadores sexuais, psicopatas.
Muitos navegantes ignoram que há especialistas em driblar os mecanismos de filtragem e de bloqueio de informações nas redes sociais, deixando-os vulneráveis a ataques cruéis contra sua privacidade. Tudo o que é postado na internet se torna público e pode, portanto, ser usado por pessoas inescrupulosas, que não pensam duas vezes antes de prejudicar outrem. Se cair na rede, não há como escapar. Fica tudo gravado na gigantesca memória virtual.
As estatísticas são assustadoras. Há incontáveis casos de crianças, adolescentes e até de adultos que foram seduzidos por meio das redes sociais e caíram nas garras de monstros porque acreditaram em alguém que exibia um perfil encantador e inofensivo. Confiaram em lobos com peles de cordeiro que se ocultam nas sendas tortuosas da imensa floresta cibernética e que agem sem a menor compaixão quando atraem suas vítimas.
Outro fator negativo para quem é dominado pelas mídias eletrônicas são prejuízos em áreas vitais. A dependência cibernética, por exemplo, leva o indivíduo a negligenciar o sono (os médicos recomendam, no mínimo, oito horas de sono por noite para o organismo produzir os hormônios responsáveis pelo bem-estar físico e mental), além das tarefas escolares. Resultado: sonolência crônica, falta de concentração, perda de memória, notas baixas, rendimento escolar medíocre. Além disso, a obsessão pelo mundo virtual conduz à improdutividade no trabalho. O escravo do Facebook, do WhatsApp, do Instagram e de outras redes sociais, engaveta as tarefas de médio e longo prazos e executa as mais urgentes com rapidez, comprometendo a qualidade dos serviços.
A Rede Mundial de Computadores, com suas múltiplas facilidades de comunicação à distância, vem conquistando adeptos numa velocidade assustadora. Conquanto não se possa discordar de que “navegar é preciso”, o navegador não pode jamais se descuidar dos icebergs ocultos nas águas profundas do mar de informações, que podem causar-lhe prejuízos, às vezes, irreparáveis.
*Professor e revisor de textos.
E-mail: [email protected]
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O delírio do homem pelo homem
Roberta Sousa Cruz*
De repente se deu conta de que o ano estava se despedindo e numa oferta cristã, parou seu tempo de trabalho para jejua e avaliar suas atitudes e meditar nas suas reflexões. Vivendo, de repente, uma alegria inocente e olhando no espelho o esplendor de seu agradecimento, conseguiu chegando aos quarenta anos, enxergar e sentir a maravilha da dádiva de ser da vida.
Ela, que pensava que viver era ser uma estrutura racional, seguindo uma rotina e a mesma música diária do pão de cada dia, surpreendeu-se ao entender que vida é muito mais que o pouco disso, a vida tem vida própria e a s
emente de cada alma recebe dessa força oculta o seu merecimento na hora certa, quando o tempo se encarrega de esclarecer a significância da plenitude de cada um. Como?
Um dia, ela viveu uma mentira e seguiu uma melodia inexistente, sofrendo muito por se perder de si, jamais ousou acreditar que um dia se reencontraria com a vida e dignamente agradeceria o mérito da dignidade humana merecida de qualquer um.
Eu não sou da catástrofe, assisto os super-heróis, mas prefiro os milagres diários que naturaliza o pensamento das mais belas lembranças e enobrece nossas próprias descobertas. Me perdoem os pessimistas de plantão, que aprendam a procurar suas próprias verdades e respeitar o caminho alheio, porque lindo mesmo, melhor que o mundo não há.
Pouco a pouco, na sua longa caminhada de lágrimas e nós esclarecidos, ficou explícito no coração que nunca houve erros nem calúnias, pois, somos o que podemos ser, sonhos que podemos ter. A hora de agora é mergulhar o espírito nessa misteriosa e delirante alegria que é a inteligência da vida.
Feliz 2019!
*Articulista
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Vamos proteger o que amamos
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“É nosso dever proteger o nosso maior patrimônio nacional, porque a nação que destrói o seu solo destrói a si mesma.” (Theodore Roosevelt)
E como vimos destruindo nosso solo há milênios, estamos nos destruindo a nós mesmos. Recentemente falei, aqui, da decepção que vivi com uma tolice ouvida pela televisão. Numa entrevista com uma autoridade, o repórter perguntou se a dessalinização da água do mar não resolveria o problema que vivemos com a falta de água. A resposta do cidadão, ao repórter, foi a mais corriqueira que já ouvi: “É… Mas isso ficaria caro demais.” Não sei pra você, mas pra mim esse é o pensamento mais destruidor do solo. Mas meu objetivo é que comecemos a prestar mais atenção às palavras dos que são pagos por nós, para nos proporcionarem uma vida sadia. O que só será possível quando entendermos a importância da preservação ambiental.
Vamos cuidar mais do nosso ambiente, onde quer que estejamos. A sujeira que vemos pelas ruas da nossa cidade nos dá o mais escabroso mau exemplo do nosso despreparo para a vida. E não nos iludamos. O mau exemplo, para o qual nem damos atenção é resultado da nossa má educação. Porque não somos educados, continuamos elegendo políticos mal-educados que nos deseducam. O problema é preocupante. Continuam destruindo nossas florestas, nossos rios, mares e todas as fontes de riquezas para o conforto das nossas vidas. Nossa saúde está virando um balcão de negócios para os que se preparam para as doenças, na triste ilusão de que estão se preparando para a saúde.
Pode até parecer brincadeira, mas preste mais atenção a isso: você não vai ao médico para cuidar da sua saúde, mas para se livrar da doença. São coisas distintas. Da sua saúde quem deve cuidar é você mesmo, ou mesma. Essa não é piada. Li-a num livro do médico, Nuno Cobra. Um cliente estava se consultando com ele. O cliente ficou um tempão falando sobre as doenças que tinha. Quando ele parou de falar, o Nuno Cobra falou:
– Meu amigo… Você não tem nenhuma doença. O grande problema é que você não tem saúde.
Concordo plenamente com o Nuno Cobra. Mas arriscadamente, pretendo ir mais além, achando que o nosso problema quanto à preservação dos nossos solos é a doença mental que está nos matando lentamente. Enquanto vamos nos iludindo pensando que estamos vivendo mais do que os nossos antepassados viviam. E continuamos destruindo, pensando que estamos construindo. E os que deveriam nos educar nos informando não nos dizem que o dia hoje não tem mais vinte e quatro horas. Nem percebem que estamos rodando, iludidos com os ponteiros do relógio. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460