Cotidiano

Índios não aceitam nomeação de coordenador

Ao alegarem que não foram consultados sobre nomeação de coordenador do Distrito Sanitário, índios protestaram e não aceitam a posse

A nomeação do cirurgião dentista Robson Rodrigues Mangueira para a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), em lugar deixado pela ex coordenadora Maria de Jesus, causou repercussão entre lideranças indígenas yanomami. O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), Alberto Goes, e o diretor da Hutukara Associação Yanomami, Dário Yanomami, se posicionaram contra a nomeação. Eles disseram que não foram consultados sobre essa indicação e que não haverá posse antes de uma conversa com os índios.  

  Um dia depois de publicada a nomeação, cerca de 15 índios Yanomami foram para a frente do Dsei-Y protestar contra o ato. Embora pintados e com tacapes, arco e flecha nas mãos, o protesto foi pacífico e não atrapalhou os trabalhos no Dsei.  

De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi), Alberto Goes, a manifestação foi para mostrar a insatisfação das lideranças e demonstrar que a etnia é contra a nomeação. “Essa indicação é político partidária e não foi feita consulta aos líderes para essa nomeação. Ninguém nos procurou, quer seja autoridade política ou não indígena, para sentar e conversar com a gente. Queremos que as autoridades competentes façam essa consulta antes de nomear”, disse. “É direito nosso e está na Constituição que o povo deve ser ouvido e consultado antes de decisões assim. O Governo Federal deve entender que quando for mexer com coordenação do nosso Dsei, que cuida de nossa saúde, precisamos ser ouvidos antes”, complementou.

Ele ressaltou que vai exigir uma reunião com o secretário nacional da Saúde Indígena, Antonio Alves, com o senador Telmário Mota, apontado como autor da indicação, e com o Robson Mangueira, antes da posse. “Queremos conversar para conhecermos o indicado, já que ele nunca trabalhou com saúde yanomami”, disse.
O diretor da Hutukara Associação Yanomami, Dário Yanomami, foi enfático ao afirmar que suas lideranças já haviam decidido, em reuniões anteriores, que não aceitariam indicações políticas. Afirmou ainda, que um documento assinado pelas lideranças já foi encaminhado para Brasília contendo a decisão de não aceitar a indicação.

“Por essa razão, somos contra essa indicação e porque não houve consulta ao nosso povo. Os conselheiros de organizações indígenas que representam seus territórios ficaram revoltados por causa disso e não queremos ninguém com indicação dos políticos”, afirmou.

Ele criticou também a postura da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão ligado ao Ministério da Saúde, por ter tomado a decisão sem a prévia consulta aos povos indígenas. “As autoridades em Brasília tomaram essa decisão sem consultar as organizações yanomami e ficamos revoltados por isso”, afirmou. “Diante disso, ele [Robson] não pode sentar na coordenação de saúde indígena e a substituta da Maria [de Jesus, coordenadora exonerada], Claudimar Moreira, é quem vai coordenar até resolver esse problema”, frisou.

OUTRO LADO – A nomeação de Mangueira foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) de terça-feira, 13. Por telefone, ele disse que entende a manifestação dos indígenas e reconhece que a consulta prévia deveria ter ocorrido e que, se convidado, estará aberto ao diálogo antes de tomar posse. Ele negou que sua indicação tenha sido através de política.

“Posso afirmar que minha nomeação foi técnica e que não existiu indicação política”, afirmou em resposta que a sua indicação teria sido feita pelo senador Temário Mota (PDT), como afirmaram as lideranças indígenas ouvidas pela Folha. “O convite partiu diretamente do Ministério da Saúde”.

Ele citou que já foi secretário de Saúde nos municípios de Pacaraima e Normandia, além de ter trabalhado no Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste (Dsei Leste) quando a saúde indígena era de competência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

“Tenho um vasto conhecimento técnico da saúde indígena e isso foi o motivo principal de minha indicação para coordenador do Dsei Yanomami e vou aguardar o convite das lideranças indígenas par sentar e mostrar os planos que temos para melhorar o atendimento à saúde, oferecer melhores condições para os profissionais que trabalham nas áreas e trabalhar a aplicação de recursos com transparência”, frisou. (R.R)