Cotidiano

Drama inspira mulher a criar entidade

Depois de desenganada pelos médicos e de ter vencido a luta contra o câncer, mulher criou casa de apoio a portadores da doença

Descobrir uma doença como o câncer de mama nem sempre é uma tarefa fácil de aceitar com naturalidade. Entretanto, algumas pessoas costumam encarar o problema de frente, acabando por enxergar na dor uma maneira de ajudar outras pessoas. Esse é o caso de Francinete Alves, de 50 anos. Natural do Maranhão, ela mora em Roraima há aproximadamente 25 anos. De origem simples, sempre batalhou para ajudar não só a família, mas também a pessoas que mais necessitam.

Aqui, na Capital, decidiu criar uma associação para cuidar de pessoas idosas. Mas, tempos depois, o acaso mudaria completamente a sua vida. “Quando eu descobri o câncer, eu tinha por volta de 34 anos e foi um choque para mim. Na época, eu tinha adotado um filho e meu marido estava desempregado, e isso mexe muito com o psicológico da gente. É muito difícil descobrir que você tem uma doença e que ela pode causar a sua morte a qualquer momento”, comentou.

Francinete tinha reais motivos para se preocupar. O câncer de mama que desenvolveu era do tipo maligno com tumor exposto, mostrando enormes feridas difíceis de cicatrizar.  Pela gravidade da doença, era necessário correr contra o tempo para iniciar tratamento. “O início do tratamento foi péssimo. Tive que ir para Manaus, não tinha condições de me manter lá, passei fome. Sofri muito, tanto pela necessidade quanto pela doença”.

Foram sete anos de luta na capital do Amazonas, desde as sessões de quimioterapia aos demais procedimentos pertinentes ao tratamento contra a doença. Durante esse período, ela teve que lidar também com os desafios psicológicos, já que muitos médicos acreditavam que a situação clínica era irreversível.

“Foram sete anos em Manaus e três meses de acompanhamento aqui, em Boa Vista. Durante esse período, fui desacreditada por dois médicos, e um deles me deu apenas três meses de vida. Disse que era para eu ir para casa, para morrer tranquila, porque não tinha mais nada para fazer por mim. Só que eu nunca acreditei nisso. Cheguei a dizer que ele era um ignorante, porque ele não era Deus e que eu não acreditava no que ele dizia. Venci e hoje estou curada”, relembrou.

Casada e mãe de seis filhos, sendo quatro biológicos e dois adotivos, Francinete ressalta que o apoio familiar foi fundamental para manter viva a sua luta contra o câncer. “Na época, meus filhos eram muito pequenos, mas mesmo assim estiveram comigo nessa luta, além do meu marido, Francisco do Espírito Santo, que também me ajudou nesse período de tratamento”, frisou.

Após todo o tratamento, Francinete Alves viu no drama que passou uma oportunidade de ajudar pessoas com câncer, fundando, em 1999, a Associação Beneficente ao Portador de Câncer, uma entidade sem fins lucrativos voltados para o amparo de pessoas que sofrem com a doença. “É uma entidade que funciona por meio de doações. Aqui, nós hospedamos pacientes de todo o Estado, principalmente aquelas pessoas do interior, que na grande maioria das ocasiões não têm onde ficar durante o tratamento. A gente aloca esses pacientes até a finalização do tratamento”, pontuou.

Dos mais de 800 pacientes cadastrados, a entidade disponibiliza cerca de 150 com doação de cestas básicas. Todos os materiais, assim como os mais de 10 voluntários, são mantidos por meio da ajuda de empresas parceiras.  “A gente faz um acompanhamento domiciliar de todos os cadastrados na associação, para saber como é a vida dessas pessoas e quais as necessidades mais imediatas. As cestas básicas são voltadas para aqueles pacientes mais carentes, que estão fazendo tratamento. Geralmente, são mulheres cujos maridos estão fazendo tratamento e as esposas não têm como trabalhar para manter o sustento da casa. Então, acaba sendo uma ajuda muito positiva para essas famílias”, disse.

No dia 28, a associação realizará uma ação especial em alusão ao Outubro Rosa, campanha internacional voltada para a conscientização contra o câncer de mama. As atividades serão abertas ao público, das 08 horas às 12 horas.

Quem tiver o interesse de saber um pouco mais sobre as ações da Associação Beneficente ao Portador de Câncer (ABPC) pode entrar em contato pelo (95) 9913-8821, ou comparecer no endereço da sede, que fica localizada na Rua Francisco Inácio de Souza, número 1.687, bairro Tancredo Neves, zona Oeste. (M.L)