Bom dia,

Esse episódio que resultou na demissão do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República Gustavo Bebianno serviu para trazer à discussão pública uma questão que vem sendo, até agora, pouco entendida. É difícil negar que o atual presidente da República tenha alguma dose de aversão à imprensa, enquanto instituição que publica notícias e incomoda os eventuais ocupantes do poder com críticas a suas atuações. Essa certa aversão de Jair Bolsonaro (PSL) à imprensa pode encontrar explicação na sua origem militar, afinal, eles não gostam de ser contrariados sobre o que fazem e o que pensam ser certo fazer. Vem de sua noção muito arraigada, de disciplina e obediência.

AGENDA

Mas, é preciso reconhecer o fato de que boa parte da imprensa enquanto instituição – e dos profissionais que a movimentam-, é pautada por uma agenda que, no atual momento brasileiro, vai de encontro frontal ao que pensa e como age o novo presidente do Brasil. Sob um olhar crítico, o imbróglio da demissão de Bebianno é exemplar nesse sentido e oferece a possibilidade de uma explicação razoável para entender o cenário do antagonismo Bolsonaro versus imprensa, e vice versa. E faz todo sentido particularizar o embate Bolsonaro contra Organizações Globo e Organizações Globo contra Bolsonaro.

INIMIGA

Jair Bolsonaro já disse em várias ocasiões que a Globo é sua inimiga desde os tempos em que era apenas candidato a comandar o Palácio do Planalto. Agora manifestou, sem qualquer dúvida, que quer ficar distante o máximo possível do maior grupo de comunicação do País, a quem ele dedica o título de “minha inimiga”. A Globo em resposta diz não ter inimigos, que apenas pratica um jornalismo independente. Para entender esse embate é preciso fazer algumas considerações sobre a natureza do relacionamento entre o presidente e a empresa jornalística.

RUPTURA

Jair Bolsonaro e as Organizações Globo são de fato inimigos? A resposta a tal pergunta merece uma abordagem mais aprofundada. O novo presidente da República Federativa do Brasil quer uma nova política ambiental para o País. Seus ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já deixaram bem claro que o Brasil vai pautar suas relações com os demais países e sua política ambiental sem viés ideológico e com base nos interesses do País, e não no que querem os outros países. Isso significa uma profunda ruptura com o que vinha ocorrendo nos últimos governos brasileiros, especialmente desde Fernando Henrique Cardoso.

PORTA-VOZ

As Organizações Globo são porta-voz e principal difusora do aparato que sustenta o ambientalismo internacional que vem impondo aos países de fraca soberania e detentores de amplos recursos naturais, valores que eles impõem como universais, de utilização da natureza, na base do interesse dos países do Centro desenvolvido e industrializado do Planeta, e do grande capital internacional. Em síntese, o que esse aparato defende é a não utilização desses recursos naturais, com crescimento zero da produção nesses países, e uma taxa de crescimento populacional também zero. Tudo para preservar o que resta da Biota, conjunto de meios que a natureza dispõe para sustentar a vida dos humanos na terra.

CONSERVADORES

No campo dos costumes, Jair Bolsonaro e seu governo são conservadores no sentido de que defendem princípios fundados na família, na mais estreita tradição judaico-cristã, de crença divina, tendo como núcleo fundamental da sociedade humana a família, enquanto união de pessoas de sexos diferentes. As Organizações Globo, no âmbito do ambientalismo internacional restritivo do uso da Biota, propaga um novo tipo de família, que abranja também a união de pessoas do mesmo sexo, que continue sendo o núcleo essencial da sociedade humana, mas sem capacidade de procriação para diminuir o crescimento populacional.

PROFUNDA

Essas duas diferentes formas de ver o Brasil, de Bolsonaro e da Globo, estabelecem, sem lugar à dúvida, uma guerra ideológica profunda. E numa guerra, os contendores são tratados como inimigos, daí a posição externada pelo presidente da República. Consequência dessa guerra ideológica, o conjunto de proposta do novo governo brasileiro bate de frente – no sentido ideológico mesmo-, com o ideário que substancia o conteúdo e a forma do que produz e difunde o maior grupo empresarial da imprensa brasileira.

BATALHAS

Essa guerra ideológica tem frentes de batalha que se formam a partir do conjunto de políticas públicas defendidas e com implementação em curso no novo governo. Isso poder ser visto, por exemplo, na questão da escola sem partido – ensino com base na ciência e não em pregação política/ideológica-; e sem educação sexual, por onde entra a orientação de que o sexo não se define biologicamente, mas por opção pessoal. Existem muitos outros fronts dessa guerra ideológica, mas o espaço da Parabólica não permite mais detalhamentos.

RACIONALIDADE

Se os brasileiros e as brasileiras quiserem discutir com um mínimo da racionalidade essa relação aparentemente tumultuada entre o governo Bolsonaro, parcela da imprensa, e com a oposição formada pelos partidos e instituições de esquerda, que têm estreitas ligações com o aparato ambientalista internacional por razões estratégicas, precisam vê-la do ponto de vista ideológico, e não de simples divergência de opinião. É por isso que a demissão de um ministro, que é competência intransferível do presidente da República, gera tanto banzeiro político.