Bom dia,

Impossível fugir do assunto. As opiniões parecem bastante divididas com relação à decisão do governo brasileiro de embarcar na decisão dos governos estadunidense e colombiano de oferecer ajuda humanitária aos venezuelanos abatidos pela fome e doença por conta da ditadura de Nicolás Maduro e de seus generais. Na verdade, mesmo os que são simpáticos à ideia, hão de convir que essa ajuda de comida e remédio de algumas poucas dezenas de toneladas para uma população de 26 milhões de habitantes, com cerca de 80% vivendo na linha de pobreza, é simbólica e tem motivação política. Convenhamos que se esses poucos caminhões tivessem entrado mesmo em território venezuelano, por certo a falta de um esquema de distribuição organizada teria resultado em saque da mercadoria transportada por ser absolutamente insuficiente face à população carenciada.

No fundo, essa ajuda humanitária foi o mote arranjado pelos países que reconhecem como presidente legítimo da Venezuela o jovem engenheiro Juan Guaidó. E não são poucos esses países, eles já chegam a 50, incluindo o Grupo de Lima, os Estados Unidos e a maior parte dos países que compõem a comunidade europeia de nações. A ideia central é demonstrar ao mundo que Nicolás Maduro já não tem condições de exercer soberania no território nacional do país que ele e seus generais ainda pensam controlar. E sob esse aspecto, o jogo parece ter empatado, afinal, se milhares de venezuelanos foram à fronteira para protestar e receber donativos, Nicolás Maduro e seus generais foram suficientes para não permitir a entrada da ajuda humanitária.

ÍNDIOS 1

Na fronteira com o Brasil, através de Roraima, a resistência civil e popular contra Nicolás Maduro foi comandada pelas lideranças indígenas da etnia Pemón, que dominam politicamente a região da Gran Sabana. Embora a Venezuela não tenha reconhecido legalmente a existência de terras indígenas, como fez o Brasil devido às pressões internacionais, o país considera algumas regiões, como o caso da Gran Sabana, uma área de usufruto exclusivo das populações indígenas que lá habitam. Isso, apesar de agradar as autoridades brasileiras que desejam desgastar o governo de Nicolás Maduro, pode soar como uma advertência aos estrategistas militares brasileiros.

ÍNDIOS 2

No caso da Venezuela, a conexão terrestre entre a porção norte do país e seu interior a Sul é feita exclusivamente através da Gran Sabana, cortada por uma rodovia que a liga a Caracas e outros centros do litoral venezuelano. É uma região de fraquíssimo desenvolvimento pelas restrições que se impõem como território de usufruto exclusivo dos indígenas. O imbróglio trazido pela entrada dessas doações humanitárias demonstrou claramente que os índios já têm capacidade de reagir a uma determinação do Estado nacional venezuelano. E quando um Estado já não consegue ter soberania sobre o povo que vive em seu território, ele deixa de existir do ponto de vista do exercício do poder.

BRASIL

No caso do Brasil, o acesso à sua porção mais ao Norte (o Estado de Roraima) só é possível via terrestre pela rodovia BR-174 tanto pelo Sul quanto pelo Norte. Ao Sul, para chegar a Roraima vindo do Estado do Amazonas, é preciso atravessar mais de 120 km dentro da Terra Indígena Wamiri-Atroari, cujas lideranças já controlam o tráfego estabelecendo horários para circulação de não indígenas pela região. Na via Norte, o acesso terrestre ao restante de Roraima só é possível através da Terra Indígena São Marcos. Logo, não é bom ficar desdenhando do Estado nacional venezuelano que não está conseguindo controlar politicamente os Pemón. Do ponto de vista geopolítico, o Brasil pode amargar a mesma experiência que está sendo vivenciada pelo país vizinho.

BARULHO

Moradores da Avenida Ville Roy, nas proximidades do edifício Varandas do Rio Branco, mandaram mensagens, acompanhadas de vídeos, para reclamar de um “pancadão” musical que vem sendo realizado à noite nos fins de semana. O evento, que já foi denunciado à Prefeitura de Boa Vista, é feito sem qualquer controle da altura do som produzido, que além das músicas é igualmente animado com a soltura de fogos de artifício incomodando as pessoas, inclusive, crianças e idosos, porque a área é essencialmente residencial. Até agora, a prefeitura tem se mostrado inerte para reprimir o abuso, e por isso o caso deve ser objeto de demanda judicial ainda esta semana. Ah, sim, devido à insuficiência de banheiros, alguns frequentadores utilizam o muro da vizinhança para fazer xixi.

AGORA VAI

Entrevistado ontem, domingo (24.02), na Rádio Folha FM 100.3 (programa Agenda da Semana) o senador Chico Rodrigues (Democratas) garante que a licença ambiental para a construção do Linhão de Tucuruí deve ser expedida pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) e pela Fundação Nacional do Índio (Funai) até o fim de maio próximo. E, segundo ainda o senador, o início das obras está marcado para novembro de 2019. Chico disse que foi o ministro de Minas e Energia, almirante Bento Costa Lima Leite, de quem é amigo de longa data, que deu essa informação.

VIAGEM

Chico Rodrigues também anunciou que esta semana o ministro Bento Leite vem a Roraima para visitar a região. Aqui deve anunciar a decisão do governo Bolsonaro de iniciar as providências para a construção do Linhão de Tucuruí. O senador, que deve acompanhar o ministro, disse que vai sugerir o início imediato da obra partindo desde Manaus para Boa Vista e desde a capital de Roraima em direção à capital amazonense. Como, aliás, chegou a ser cogitado no governo de Michel Tremer (MDB).