Opinião

Opiniao 23 03 2019 7878

A riqueza do homem – Paulo Eduardo de Barros Fonseca*

Em suas reflexões, há mais de 2.500 anos, Sócrates, tido como o pai da filosofia, já discorria acerca da independência entre o princípio inteligente e o princípio material, bem como sobre a preexistência da alma, que o homem é a alma encarnada, da imortalidade da alma e sobre a reencarnação.

Atualmente, a teoria quântica demonstra a sobrevivência da alma após a morte do corpo físico ao concluir, em síntese, que a alma está contida em pequenas estruturas no interior das células cerebrais e que, como energia, por parte do universo a morte do corpo físico enseja seu retorno a ele.

Portanto, sem adentrar o campo religioso, mas seja no aspecto filosófico ou no científico, fato é que enquanto a matéria é finita a alma é eterna.

Essa constatação, filosófica e científica, impulsiona o repensar sobre o apego das pessoas aos bens materiais. Isso porque, tal qual o corpo físico, todas as riquezas materiais são efêmeras, são passageiras. Nessa seara é plausível afirmar que a riqueza material somente dignifica alguém quando serve para beneficiar outras pessoas.

Imagino que, contextualizando esse fato, Sócrates ensinava que “a felicidade não pode vir das coisas exteriores do corpo, mas somente da alma, porque esta e só esta é a sua essência. E a alma é feliz quando é ordenada, ou seja, virtuosa. … para mim quem é virtuoso, seja homem ou mulher, é feliz, ao passo que o injusto e malvado é infeliz. Assim como a doença e a dor física são desordens do corpo, a saúde da alma é a ordem da alma – e esta ordem espiritual ou harmonia interior é a felicidade.”

Exemplo disso são os grandes imperadores romanos que conquistaram o mundo e dele se julgavam donos, mas os monumentos erguidos em honra do egoísmo e da ambição hoje são meras ruínas, as quais, aliás, necessitam de constantes restaurações para continuarem existindo.

Quando há a compreensão disso, toda pessoa está pronta para olhar para si mesma e combater os vícios que a submetem à matéria e, em contrapartida, valorizar as virtudes que ajudam formar um saldo positivo na conta corrente do banco da vida espiritual.

Ora, “o homem não possui como seu senão aquilo que pode levar deste mundo. O que ele encontra ao chegar e o que deixa ao partir, goza durante sua permanência na Terra. Mas, desde que é forçado a deixá-los, é claro que só tem o usufruto e não a posse real. O que é, então, que ele possui? Nada do que se destina ao uso do corpo e tudo o que se refere ao uso da alma, a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Eis o que ele traz e leva consigo, o que ninguém tem o poder de tirar-lhe e o que ainda lhe servirá no outro mundo do que neste. Dele depende estar mais rico ao partir do que ao chegar neste mundo, porque a sua posição futura depende do que ele houver adquirido no bem”.

Enfim, a verdadeira e maior riqueza do Universo está dentro do próprio homem!

*Vice-presidente do Conselho Curador da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

A tentativa de desconstruir Deus: Parte 2- Wender de Souza Ciricio*

A partir de uma pequena frase o francês René Descartes fez suscitar uma nova postura pensante na idade moderna. Disse: “penso, logo existo”. Não se vê na história uma pequena frase como essa sacudir estruturas e desafiar seres humanos a uma nova jornada intelectual. Parece simples essa expressão, mas para um mundo restringido ao pensamento cristão essa citação soou como uma libertação da mente pensante. O resultado é que a fé deixa de ser o centro perdendo espaço para o uso da razão. Disso nasce o Iluminismo de John Locke, Voltaire, Rosseau e alguns outros, o chamado século das luzes, causador de grandes transformações históricas.

No Iluminismo, o homem não proclama um ateísmo explícito, o que faz é desconstruir a ideia de um Deus fundamental e essencial. O homem agora pensa por si só, alia-se à ciência e inventa máquinas, produz em larga escala, desenvolve a tecnologia, experimenta o gigantismo do saber. O ser agora é autônomo, autossuficiente, independente, caminha sozinho e acredita na possibilidade de colocar o mundo a seus pés. Antes o homem seguia o curso da natureza, agora faz a natureza obedecê-lo. Entre outros aspectos, vários desenvolveram teorias que frontalmente desafiaram os dogmas cristãos. Deus foi tratado por muitos como persona non grata.

Teorias políticas e econômicas alimentaram a esperança de um status material melhor conquistado através dos braços do homem sem que, contudo, o homem dependesse de Deus. Extremistas vendiam a tese de que Deus é invenção da mente humana. Apesar do existencialismo de Søren Kierkegaarda firmar que a fé é um salto no escuro referindo-se à ruptura de uma antiga vida para uma vida de se sacrificar por Deus o existencialismo de Jean Paul Sartre sugeria o ateísmo. O mundo se embrenhou pelo campo das ideias tentando descartar relações transcendentais. Deus paulatinamente era colocado de lado nesse ambiente da racionalidade humana.

Nossa viagem que passou pela estrada do passado dá um salto e chega agora com uma propensão muito grande a negação da pessoa de Deus. Nesse mundo contemporâneo, herdeiro e ao mesmo tempo autor da ciência e tecnologia, do aqui e do agora, homens e mulheres sentem-se pequenos deuses, não verbalizam, mas agem como se dominassem todas esferas do conhecimento, discutem ideias sem leitura, fazem de seus achismos uma verdade absoluta e intocável. A empáfia tornou-se o vírus que contamina nossa humanidade e como consequência se afastam substancialmente de Deus. A sociedade com todos esses arranjos corre de Deus. Deus, em alguns casos, somente por conveniência e não para um encontro genuíno.

O que pesa é que nesse escancarado distanciamento de Deus estamos nos destruindo. O planeta terra não cansa de denunciar estupros, violência doméstica, homicídios, insubordinação de adolescentes, gravidez indesejada e tantas desgraças. Suicídio virou moda. Relações humanas estão cheias de arranhões. Estamos um lixo, acabados e experimentando uma felicidade artificial que existe vendo redes sociais, programas de fofocas na televisão, virando a noite em baladas, quando não debruçados em copos de bebidas alcoólicas. O século XXI está à deriva. Tentar descontruir Deus não é bom é péssimo. Deus tem norte, tem proposta de vida, uma vida com sentido, coerência moral e paz sentimental. Há em Deus um jeito de curar o vazio nesse mundo pesado, desencontrado e machucado. 

Todavia, a notícia boa em meio a tudo isso, é que Deus, conforme um olhar teológico, não se deixa desconstruir. Podem, como tem ocorrido na história, tentar fazer isso, porém, Ele é maior do que nós. Deus é Deus, tem atributos inerentes à sua pessoa que faz Dele um ser grande, indestrutível e soberano. Anos se passaram e não conseguiram acabar com Seu nome e sua honra e não será agora nem depois. Para nosso deleite e segurança, Deus está vivo. Vivo e pronto para um encontro. Deus não pode ser descontruído porque Ele não foi construído por ninguém. Alguém infinito, causador do universo não pode ser tocado por suas criaturas. Um objeto não constrói nem destrói seu criador. Abra mão de tudo, menos de Deus.

*Teólogo, historiador e psicopedagogo [email protected]

O álcool e o papel do médico- Guilherme Messas*

Os médicos têm papel fundamental no controle e no tratamento de problemas relacionados ao consumo de álcool. Os problemas ligados à bebida acontecem de diversas maneiras. Estão no cotidiano, quando a pessoa que bebe no dia-a-dia, por exemplo, bate o carro ou comete alguma ação irresponsável e em casos de uso abusivo ou dependência.

Como tudo isso acontece no dia a dia das famílias, a pessoa que mais consegue influenciar esse comportamento, por ter mais contato com as famílias e com os pacientes, é o profissional médico, que tem a capacidade de convencer as famílias que está acontecendo um problema, podendo ajudá-las a dar um encaminhamento profissional para um problema muito frequente na sociedade brasileira.

É um grande desafio nacional conseguir alertar e convencer os médicos do papel extremamente relevante que eles têm para apoiar as pessoas que já enfrentam necessidades de atendimento e orientação e as famílias que precisam de apoio social e que podem ter no médico o melhor instrumento para isso.

*Psiquiatra especialista em Álcool e Drogas, é Professor e Coordenador do Programa de Duplo Diagnóstico em Álcool e Outras Drogas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Coordenador da Câmara Temática Interdisciplinar sobre Drogas do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Contato: [email protected]

Quando fazemos com e por amor – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Na vida, os erros e a ignorância expiam-se como se fossem crimes.” (Armando Palacio Valdés)

Mas nós nãos nos expiamos. Achamos que tudo está numa boa e o resto que se exploda. É assim, sim. Só não percebemos. Ontem eu ia pela Avenida São Paulo, aqui na Ilha Comprida. De repente um garoto de mais ou menos dez ou onze anos de idade, entrou na Avenida, numa bicicleta, com três sacolinhas de lixo. Parou em frente à lixeira. Desceu da bicicleta e atirou uma sacolinha de lixo dento da lixeira. Gostei do que vi e reduzi os passos para observá-lo. Ele atirou a segunda sacolinha dentro da lixeira. Voltou à bicicleta, pegou a terceira sacolinha e a atirou sobre a grama, pegou a bicicleta e foi embora. A sacola de lixo ficou atirada sobre a grama, tal qual o caderno da estudante. Não me decepcionei. Acelerei meus passos e saí tentando aprender com o mau exemplo do garotinho. Imaginei que ele deve ter saído de casa aborrecido com a mãe que o obrigou a ir jogar o lixo na lixeira. 

Nunca obrigue seu filhinho a fazer o que ele deve fazer. Eduque-o ensinando-lhe os bons comportamentos que fazem da pessoa um cidadão ou uma cidadã. E essa jogada faz parte da Educação que vem sendo atirada para o lixo social, há décadas e décadas. Comece a educação do seu filho já no primeiro ano da idade dele. Não é falatório quando dizemos que a educação começa no berço. Quando começamos cedo não temos dificuldades depois. O que devemos é orientar para que sejamos entendidos no educar. Oriente seu filho sem a intenção de dirigi-lo. Não se esqueça de que você está preparando um cidadão ou cidadã, para o futuro deles e não o seu. E o maior e melhor recado vêm do Gibran Khalil Gibran, no seu livro “O Profeta”: “Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, e não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.” Nada mais claro do que essa sabedoria.

Não criamos nossos filhos para nós, mas para o futuro deles. E não sabemos qual o futuro deles. Mas devemos saber que nossa contribuição para futuro deles depende do nosso comportamento como educadores. Porque como pais é o que somos: educadores. Nunca obrigue seu filho criança, a jogar o lixo na lixeira. Eduque-o ensinando-lhe no dever de ele manter a casa e o ambiente limpos, como dever de cidadão e não como obrigação. A diferença entre orientar e dirigir faz a diferença. Mas não confunda liberdade com libertinagem. Só quando somos educados sabemos o nível da nossa liberdade. E esta está na consciência dos deveres cumpridos dentro da civilidade. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460