Opinião

Opiniao 30 03 2019 7918

Um filme em que você é o herói – Pedro Panhoca da Silva*

Já há um tempo que a Netflix planeja um novo tipo de entretenimento: um programa/filme/curta no qual o próprio telespectador é quem decide como o enredo continua.

Esse tipo de entretenimento não é novidade: existe pelo menos desde a década de 1930 na literatura e desde 1980 na indústria de games, seja nos jogos dos primeiros computadores como os TextAdventures (sendo Zork um famoso expoente) ou os livros-jogos (séries como Fighting Fantasy, Lone Wolf e outras dezenas delas) os quais muitos jogadores de RPG tinham como “ritual de iniciação”.

Assim como antigamente se evitavam filmes de super-heróis por falta de recursos, hoje se acredita que o famoso provedor global de filmes e séries de televisão via streaming tenha tecnologia suficiente para fazê-los, e com sucesso. Mas será que o boom vai ser o mesmo conseguido pelas produtoras que apostaram nas eternas rivais Marvel e DC? Alguns creem que seja uma visão utópica, pois o que o assinante gosta mesmo é de consumir passivamente o que lhe é oferecido. Porém, o conteúdo muitas vezes pode ser de alto padrão de complexidade, fazendo-o refletir como questões, tabus e regras podem ser questionadas hoje no mundo. Pois então: o consumidor quer mais do mesmo ou inovação no formato?

Uma boa noite de sono pode ser uma boa metáfora para tal. Comparando tal situação com um sonho (com o perdão do trocadilho, ela ainda o é), os “passivos” diriam que já que tomaram inúmeras decisões em seu dia, como que caminho é o melhor para se chegar ao cliente, qual tarefa precisa ser prioritária nos serviços do dia, o que comer no almoço, entre outras. De fato, nossa vida é interativa. Por isso, o sono deveria nos guiar e não ser guiado, deveria apenas ser obedecido, seguido, aceito. Já os mais “ativos” adorariam aprender a controlar também seus sonhos e torná-los lúcidos para poderem não só vivenciarem 100% de seu dia, mas principalmente por poderem “realizar” atos impossíveis na vida real. Portanto, ambos têm bons argumentos.

De qualquer forma, só avaliamos o produto depois de finalizado. Custa à Netflix tentar, e seu público, avaliar. O certo é que se somos técnicos de futebol e mudaríamos a escalação de nossos times e jogadas em campo, e por vezes também somos roteiristas que fariam do enredo algo diferente. Fazer o filme algo controlável? Se concorda, sorria e imagine essa novidade chegando em nossas telas. Se discorda, desacredite e torça para a Netflix também o fazer. Querendo ou não, já começamos nossas escolhas por aqui, não?

*Mestrando em Literatura do programa de Pós-Graduação em Letras da Unesp – Câmpus de Assis. Atualmente é professor de Leitura e Produção de Textos da Fundação Hermínio Ometto.

Catando Feijão – Selma Mulinari*

Catando feijão eu já meditei, já pensei muito na vida, já fiz planos para o futuro, já tive ideias luminosas, já conjecturei sobre ética, cidadania, direito, política. Enfim! Já transformei o mundo e, principalmente, arrumei soluções para o meu mundo pessoal, ou seja, para os conflitos internos que são normais quando vivemos em família. Adoro esse exercício e acredito que as pessoas deviam experimentar.

Dessa última vez que me peguei no exercício de divagar em meus pensamentos catando feijão para cozinhar, a minha cabeça foi pousar numa mensagem que recebi sobre a noção de respeito, sobre como criar nossos filhos impondo limites, sobre como e quando dizer sim e não. Então, me peguei pensando em uma máxima que todos nós pensamos  quando nos tornamos pais: “quero dar ao meu filho tudo que eu não tive…”. 

É claro que já tive esse pensamento meio retrógado muitas vezes e consigo ver isso hoje que já estou mais madura, que já vivi problemas com a criação e com a educação dos meus filhos. Mas, o meu grande sonho foi sempre o de dar aos meus filhos o amor que recebi dos meus pais sem estragá-los, sem transformá-los em monstros.

Até hoje, já com os filhos adultos, o que mais me preocupa na criação dos meus filhos é se realmente dei amor a eles, se consegui passar para eles o meu sentimento de amor por eles, se eu consegui ensinar o sentido de amar, se consegui ensinara importância do amor e de amar na vida de todos nós?

Hoje, o mundo está mudado, os valores têm pesos diferentes, as oportunidades são outras, o acesso à informação está sempre em um nível alto. As informações chegam numa velocidade incrível e não dá pra triar, selecionar, censurar. Então, meu pensamento na hora vai para a questão e para noção de respeito dentro e fora de casa. Daí a pergunta que não quer calar: como conseguir que as crianças aprendam essa noção de respeito e apliquem no seu cotidiano?

Voltamos para o valor do amor na vida de todos nós, afinal educar é acima de tudo um ato de amor, é o maior ato de amor que podemos dar aos nossos filhos. Quando impomos limites, estamos oportunizando que a criança cresça sabendo, já desde a mais tenra idade, o que é respeito, ética, carinho, amizade, companheirismo e, principalmente, a noção de cidadania. 

Quando estabelecemos os limites e ensinamos o valor do SIM e o valor do NÃO, estamos preparando a criança para a vida em sociedade. Evitando que ao crescer se tornem pequenos monstrinhos sem caráter, incapazes de amar, de respeitar, de obedecer às regras de convivência, de serem éticos, de terem respeito pelo próximo e principalmente, de exercerem a sua cidadania.

Nesse mundo de hoje, o velho ditado “não é comigo” está transformando a sociedade em um mundo de exclusão, onde voltamos a ter a “lei do mais forte”, onde o respeito ao próximo e à família como principal instituição de nossas vidas, caiu em desuso. O que vale são as realizações pessoais, mesmo que para conseguir se realizar seja necessário passar por cima de tudo e de todos.

Neste mundo de hoje, vemos verdadeiros massacres acontecerem em praças, escolas, igrejas, locais públicos, numa banalidade tremenda. Vemos crianças e adolescentes venerando ações do mal, ações de violência. Vemos crianças agindo com extrema violência com seus professores, depredando suas escolas e transformando a vida de seus colegas num inferno. 

Neste mundo de hoje, vemos desrespeitos acontecerem no seio da família quando se trata do cuidado com os idosos, assim como vivemos um processo de violência contra a mulher sem precedentes. Vemos abusos de todas as naturezas serem praticados contra crianças. Vemos a cada dia a violência espalhar o seu lastro desagregando famílias inteiras e trazendo para o seio familiar os problemas oriundos do uso de drogas. 

Daí surge uma antiga pergunta: onde erramos na nossa tentativa de educar? A resposta a essa questão nem me parece ser descobrir como respondê-la a contento, de forma aceitável. A questão maior, complexa, difícil, é ter a consciência de ter errado e arrumar força para retomar o processo e reestruturar toda a caminhada.

Catar feijão é realmente um excelente exercício para reflexões, meditações e para termos grandes ideias. Ótimo para se pensar na vida, sonhar, planejar o futuro e chegar a algumas conclusões. Cheguei às seguintes: o Sr. Antonino e a dona América tinham razão: ser rígidos e dar responsabilidade
aos filhos é muito legal, cobrar resultados e vigiar os passos dos jovens é legal. 

Cheguei à conclusão que amar e ensinar a amar é ensinar a ser gente, gente de carne e osso, gente com o pé no chão. Gente que enxergue o outro, que valorize o próximo. Gente que tenha compaixão e respeito pelas pessoas. E, principalmente, que o amor ou a ausência dele, é a mola-mestre de toda a engrenagem de nossas vidas!

*Mestra em História Social; Conselheira – CEERR. [email protected]

Detalhes na educação – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Educação não é uma questão de falar e ouvir, mas um processo ativo e construtivo.” (John Dwey)

Construtivo é o termo certo. Não implantamos a educação sem antes construí-la. E não a construímos da noite para o dia. E se se considerar o tempo em que a nossa educação está em queda livre, vai ser difícil reerguê-la. Mas mais difícil é se vencer uma luta sem lutar. Então, vamos iniciar nossa campanha para reerguer a nossa Educação. Mas primeiro temos que vê-la com respeito. E não basta criarmos muitas faculdades sem o preparo necessário para mantê-las no nível exigido pelo progresso da Educação. O professor tem que ser preparado para a função que exerce. E é dever do Poder Público preparar a qualidade de tudo que se relaciona com a Educação. E devemos começar a campanha pela família. É simples, quando se leva em consideração que a escola não educa, ela ensina. A educação nasce com a criança, no berço. Se as crianças fossem educadas no lar, não teríamos tantos alunos mal-educados nas escolas. 

O que me levou a esse papo foram dois exemplos a que assisti ontem. Gripado, fui até o Centro de Atendimento. Enquanto eu seria atendido, um cidadão estava sentado ao meu lado, com sua filhinha de aproximadamente seis aninhos de idade. Durante o tempo que estivemos ali, a garota ficou o tempo todo conversando com seu pai, numa conversa maravilhosamente equilibrada para sua idade. Enquanto a garota conversava com o pai, uma senhora chegou com um garoto de aproximadamente uns dez anos de idade. Logo que se sentaram, o garoto levantou-se, foi até uma maca no corredor. Todas as macas estavam vazias. O garoto jogou os chinelos de lado, pulou sobre a maca, deitou-se e permaneceu ali até que sua mãe foi chamada para o atendimento. A mãe do garoto não deu a menor bola para o mau procedimento do filho. 

O mau comportamento daquele garoto é culpa do professor dele ou de seus pais? Pelo que me parece não há professor, por mais preparado que seja, que possa fazer alguma coisa pra educar aquele garoto. Entretanto, aquela garotinha que conversava com o pai dela, dificilmente será uma aluna mal-educada na escola. Vamos ver com mais seriedade o problema da nossa educação no Brasil. Mesmo que nos considerem repetitivos, não devemos menosprezar Miguel Couto: “No Brasil, só há um problema nacional: a educação do povo”. E de nada vai adiantar criar novas escolas, se não melhorarmos o comportamento familiar. Mas não podemos nem devemos, deixar de construir escolas. Napoleão Bonaparte também disse: “Devemos construir mais escolas para não termos que construir mais prisões.” Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460