As esquisitices do amor e outras tragédias número nº 1 – Hudson Romério*
Porque amar é preciso e viver não é mais preciso. Amar não é viver! Quem ama, não vive. E quem vive de sonhar e amar sabe que o amor e a vida têm existências próprias – são aquém dessas… aquém da morte – são paradoxais em suas formas e conteúdo. As duas coisas não combinam: o amor é a existência sem vida e a vida é a existência em busca do amor.
Quando vi minha cara no reflexo do espelho, não acreditei. Vi que não era eu! Mas era… Era eu refletido naquele pedaço de vidro. Aquela coisa era eu? Depois de quase cinco décadas, eu não poderia ter me transformado naquilo ali. Naquela figura desfigurada era eu sim, metamorfoseado em algo que era eu.
Eu, parado ali, naquela latrina, diante daquele espelho, vi que não tinha mais saída, era eu sim. Nem sei as horas… nem sei que lugar era aquele… eu, ali, inerte, vendo minha imagem, perdido em mim, achado dentro de um banheiro sujo de um desses botecos da vida… dessa cidade que eu até esqueço que existe. Mas era eu…
Sinto-me solapado em toda a minha estrutura. É estranho descobrir quem realmente somos! Depois de tantos anos, a transmutação física e moral nos mostra que, mesmo involuntariamente, é necessário passar pela vida e amar pelo menos uma vez.
Foi numa dessas madrugadas quentes que eu, já de porre, caindo pelas tabelas de uma cloaca imunda, descobri o óbvio dessa verdade… na verdade, revelou-se o que eu já sabia! Descobri que não se morre por amor, como falei acima, não se morre daquilo que não tem vida. É isso que o amor nos causa, nos abala por inteiro, nos desestabiliza em toda a nossa fé – assim como o presente e o futuro.
O amor não é um fato portentoso, não causa essas maravilhas que achamos que acontecem quando se está amando. Mas é um pouco de tudo, porque não seria nada se não fosse tão utópica a ideia de que amar é ser feliz.
Então, mesmo sendo eu mesmo no reflexo do espelho, mesmo o amor não sendo vida e a vida sem amor não fazer sentido, prefiro a ressaca de um dia inteiro do que a esperança de um amor por toda uma vida.
Foi catártica minha solidão. Só de tudo… só de todos… até de mim mesmo. Depois de limpar os olhos e lavar o rosto, fitei-me por mais um tempo e vi um semblante já gasto pelo tempo – sei da infinidade do tempo e a minha finitude me fez crer em nada. Sei que a esperança é infinita, mas sei também que tudo é para já. Sigo, então, minha vida simplória, já velho e cético de tanto acreditar no amor e tropeçar nas pedras da vida.
*Escritor e Cronista [email protected] Tel: (95) 99138.1484
A Educação e a Violência – Parte II – Selma Mulinari*
Continuando o nosso papo sobre a crescente onda de violência que adentrou as escolas, vamos falar do nosso quintal, da violência que acontece em nossas escolas aqui em Roraima. Convivemos com índices altos de violência nas nossas escolas, a indisciplina é um problema constante, os resultados capengas também e agora a onda de ameaças com atentados também já bateu à nossa porta.
O mais comentado foi o acontecido na Escola Lobo D’Almada, mas não foi o único. Pelo menos em quatro escolas já aconteceram problemas similares, portanto, podemos nos preocupar. Roraima, nos últimos dez anos, tem demonstrado inúmeros problemas relativos ao sistema educacional.
Problemas gerados por falta de investimentos, pelo sucateamento das unidades de ensino e pelo crescente aumento da violência entre os adolescentes e jovens.
Esses problemas perpassam por vários outros pontos dentro dessa engrenagem, passam pelo institucional, passam pelo profissional, passam pelo familiar e passam pelo social. Esses problemas só serão resolvidos quando forem olhados e realmente vistos dentro de um contexto que piora a cada ano, sendo necessário que realmente se faça o enfrentamento, não podemos mais jogar a sujeira para baixo do tapete.
A parte que cabe ao sistema é justamente não ter realizado investimentos para evitar o sucateamento, é a falta de planejamento para manter as unidades de ensino funcionando com o básico, é a de não supervisionar o cumprimento do planejamento proposto para cada unidade, é de não ter um sistema que possa ser seguido de forma organizada e de forma a ter eficiência e eficácia naquilo que se propõe a realizar.
A culpa é da instituição quando não consegue conceber um projeto pedagógico atual e coerente com a realidade do estado, dos municípios, das comunidades onde as unidades educacionais que formam esse sistema falido estão inseridas. Construir prédios para funcionamento de unidades educacionais é fácil, transformar essas estruturas em escolas humanizadas é muito difícil.
Não basta prover a escola de estrutura, móveis, materiais didáticos e profissionais. É preciso que se defina um projeto pedagógico que fale mais que meia dúzia de disciplinas e listagens de conteúdos programáticos a serem cumpridos durante um ano letivo de duzentos dias, igual uma lista de tarefas ou uma receita de bolo.
É necessário que tudo isso converse e seja harmônico, há que se observar o funcionamento da proposta pedagógica para que possa ser avaliado e repensado se e quando for necessário. Temos que fiscalizar, pois a ação de acompanhar a execução do caminhar na educação é primordial para que haja acertos. Temos que estabelecer metas, somente assim vamos alcançar resultados. Quando sabemos onde queremos chegar, traçamos estratégias para percorrer o caminho.
A preocupação com o profissional que vai atuar nesse contexto deve ter a mesma medida da que se deve ter com o ambiente, com o projeto pedagógico. Não adianta estar com a casa arrumada, com tudo no lugar, tudo bonito e decorado, se não houver a preocupação com quem vai cuidar, administrar, gerir essa engrenagem toda.
Então, chegamos a um dos mais profundos problemas que a nossa educação perpassa, que são as ingerências políticas nas questões de ordem administrativa. As indicações realizadas através de pistolões e do QI político atrapalham e fragilizam todo o sistema. Nem todo professor vai dar um bom gestor, por isso mesmo a formação é tão importante para que a gestão seja bem-sucedida. Essa máxima serve para todo o sistema.
Seguindo a linha de pensamento, a culpa é da família quando se exime de dar educação familiar e deixa a responsabilidade para a escola. Cada um no seu quadrado, pois é justamente daí que emanam os problemas. Alunos desrespeitam professores porque fazem a mesma coisa em casa com os pais. Alunos não têm limite porque os limites não foram impostos na sua educação familiar. Alunos são violentos porque não receberam atenção nem carinho de seus pais.
A culpa é da sociedade que a cada dia está mais doente e sem saída para os problemas apresentados no cotidiano. A violência se espalhou e banalizou de uma forma que não conseguimos brecar. Quando chamamos a polícia para resolver problemas no âmbito da escola, estamos demonstrando que somos incapazes de detectar os sinais emitidos pelas nossas crianças e jovens de seu adoecimento.
Nos tempos de hoje, a polícia está sendo chamada para mediar conflitos d
entro da escola, para resolver os problemas de gestão educacional. A polícia está sendo chamada para resolver a violência que adentrou onde somente os livros, os brinquedos, o esporte e as oportunidades deviam ter entrado.
No final, não teremos saída e vamos tentar consertar a mente deteriorada da nossa juventude com a polícia, vamos corrigir os erros da vida familiar com a polícia. Assim sendo, não teremos o que esperar dessas tentativas, já que no Brasil não recuperamos ninguém com a polícia, o que fazemos é transformar seres humanos em verdadeiros monstros.
*Mestra em História Social; Conselheira do CEERR [email protected]
O que você procura? – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“O que o homem superior procura está nele mesmo. O que o homem inferior procura, está nos outros.” (Confúcio)
Só as pessoas superiores se conhecem. São as que não ficam julgando as outras pessoas por não corresponderem ao que elas esperam delas. Cada um dá o que tem. Todos nós vivemos numa evolução racional. O que nos leva a respeitar as diferenças. Não podemos ficar esperando que os outros façam por nós o que nós mesmos deveríamos e podemos fazer. Busque sua superioridade em você mesmo, ou mesma. Estamos em mais um fim de semana. E não sabemos quantos ainda viveremos. Mesmo sabendo que nossas vidas estão na gangorra do ir e vir. Mas o que nos importa, no momento, é o que estamos vivendo agora. Porque é aqui que estamos preparando nossa volta. O que nós seremos no nosso próximo retorno, nós não sabemos.
Então, deixe isso pra lá. Vamos viver este fim de semana como ele deve ser vivido. Com amor, coragem e muito entusiasmo. Tudo o que queremos está em nós mesmos. Até o que não queremos, que é não acreditar nisso. Porque quem não acredita nisso, não acredita em si mesmo. O pessimismo é o maior inimigo que temos dentro de nós. É um total descontrole nos nossos pensamentos. E quando não controlamos nossos pensamentos, não conseguimos nos controlar. Então, vamos acordar e pensar na vida. Perder tempo com pessimismo é nadar em águas turvas. E quem nada em águas turvas, acaba se afogando. Que é o que acontece com os derrotistas.
Viva cada minuto do dia de hoje como se ele fosse o último. Tudo que fazemos hoje é preparo para fazer o melhor amanhã. Com alegria, otimismo, esperança e confiança em si mesmo. Nunca perca a esperança de vencer. Todo o poder está em você. Comece a acreditar no poder que você tem em seu subconsciente. É nele que você guarda o que não sabe que guarda: seu poder de ser de origem racional. Não viemos para esta Terra para viver como míseros animais. Viemos para viver, e viver é ser feliz e transmitir felicidade. E o melhor meio de transmitir felicidade é dar o exemplo de como ser feliz. E não espere que alguém faça isso por você. Porque ninguém, além de você mesmo, tem o poder de fazer você se sentir feliz ou infeliz, se você não estiver a fim.
Nunca se aborreça com o que você julga inferioridade nas outras pessoas. Somos todos iguais nas diferenças. Somos todos da mesma origem. Viemos todos do mesmo Universo. E o que devemos fazer é fazer tudo para nos prepararmos para o nosso retorno ao nosso mundo de origem. E você não precisa sair por aí procurando o que você mesmo tem dentro de você, que é a consciência do poder racional. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460