Desmontar brinquedos é um hábito comum entre as crianças, pois é dessa forma que os pequenos atiçam sua curiosidade. A criança deseja saber como funciona o brinquedo e acaba destruindo-o justamente para entender todo o processo.
Foi assim que o servidor público e músico Leandro Bastos (33) iniciou seu aprendizado: a mecânica engenhosa de carros em miniatura.
O trabalho é minucioso e exige bastante observação e estudo no aprimoramento de detalhes mínimos que até podem passar imperceptíveis para quem aprecia.
Descubra como ele configura essa técnica!
Como você iniciou a paixão por colecionar minis e customizá-los?
Gosto de tudo relacionado a carros, motores, corridas, etc. Eu me considero um entusiasta automotivo e sempre tive mania de mexer nas coisas, desmontá-las, ver como elas funcionam e procurar melhorá-las. Numa primeira tentativa de customizar alguns carros 1:24, ainda em 2004, fui influenciado pela onda do tuning, pós o filme Velozes & Furiosos, em que existia um pessoal na internet que se aventurava a “tunar” suas miniaturas. Buscando novos conhecimentos, comecei a trabalhar com escalas diferentes (1:64, 1:32 e 1:18), adquiri novas ferramentas, tutoriais específicos e interação em fóruns de discussões sobre o tema. Atualmente, conto com vários projetos que considero ousados, com direito a body kits inteiros, som automotivo, pintura, troca de rodas, etc. E depois que comecei a divulgar tudo isso, surgiram pedidos e encomendas. Hoje consigo mexer com diferentes carros em miniatura.
Como você desenvolve o trabalho de mecânica no carrinho?
Tento detalhar o máximo possível para deixá-lo mais próximo de um 1:1 ou de um carro de verdade, pesquiso as melhores referências, troco o motor, adiciono cabos de velas, carburadores, blowers, turbos, linhas de combustível, tudo depende do projeto no qual estou trabalhando. Geralmente as peças vêm de outros carros. Tenho um estoque de peças variadas para usar nos projetos. Também compro novos equipamentos. Se é uma peça muito difícil de achar, eu a fabrico do zero usando materiais diversos a partir do Plastimodelismo, conhecida como Scratch Building.
Como você define sua coleção?
Muitos consideram suas coleções únicas, mas a minha eu considero única por ser composta por miniaturas, na sua grande maioria, customizadas, das quais muitas eram apenas lixo que ninguém queria mais, e hoje participam de Encontros de Colecionáveis, como o Dicast RR. E sobre essa fabricação das minis que pratico, já cheguei a construir 80% de um carrinho, desde chassis ao motor, como havia citado anteriormente.
Há alguma mini que tenha feito você suar mais?
Um projeto que concluí em 2011, um Mustang GT 1999, fabricado pela Welly, escala 1:24, foi o primeiro carro colecionável que comprei, em meados de 2002, e que eu acabei destruindo por completo tentando “tunar”. Esse carro passou, pelo menos, dois anos com sua carroceria jogada no quintal e suas peças, dentro de uma sacola. Um dia eu decidi restaurá-lo e foi o maior trabalho que já tive, pois foi preciso construir um novo body kit (para-choques e spoiles laterais) em massa plástica devido à falta de peças originais. Também refiz o chassi, do zero, com direito a rollcage, forros de portas em alumínio, novas dobradiças de portas, novo painel, novo motor, suspensão, enfim, fiz o carro completo no estilo dragracing e eu me senti realizado por ter recuperado algo que eu mesmo destruí. O resultado final ficou sensacional.
Que dicas você sugere para quem pretende iniciar uma transformação geral numa mini? Existe um carrinho específico para começar o trabalho?
Primeiro tenha paciência e seja persistente! Pesquise tutoriais com técnicas de customização e as ferramentas essenciais para a execução dos trabalhos! Comece customizando miniaturas de custo baixo, pois se estragar, não vai pesar tanto no seu bolso. Comece com o mais simples: rebaixamento, pintura de detalhes do motor e chassis. Esses pequenos projetos podem ser concluídos rapidamente, pois não adianta iniciar com algo grandioso e não ter habilidade para terminar, nada é mais frustrante do que destruir uma miniatura.
Quais são seus projetos em andamento?
Estou finalizando um Camaro 1967, de Pro-Touring, com motor LS2 Super Charger de Corvette. Tenho também um Buick Regal Turbo que resgatei do lixo, praticamente, um Plymouth Barracuda Super Stock 1968 Hurts Edition, e tenho dois projetos de um amigo para fazer pintura que são uma F-100, 1953 Hauler (guincho plataforma) e o Opel Kadett B. Gasser.
Atualmente, quais máquinas você considera coadjuvantes em sua coleção?
Me animo demais com os muscle cars, mas as pick-ups antigas tiram o meu sono com aquelas linhas clássicas, não dá para resistir (risos).
Quais os maiores desafios que os projetos costumam apresentar?
Transformar um carro de rua em carro de pista, seja drag racing ou pro-touring é um grande desafio, pois exige muitas alterações nos carros, muitas peças a serem fabricadas, motores maiores, corta aqui, cola ali, instalar novas rodas e deixá-las girando e esterçando livremente não é qualquer um que consegue fazer. Rebaixamento de teto é algo muito difícil de acertar, o trabalho de pintura também é desafiador, pois é um tanto quanto complicado de se fazer.
Existe algum modelo que você ainda não reformou?
Tenho várias sucatas guardadas esperando para serem recuperadas, algumas precisam de pequenos detalhes, outras de um trabalho intenso, em especial uma dupla de Dodge Chargers, sendo um no modelo 1965 e o outro de 1970, que me darão muito trabalho, certamente (risos).
Quais de seus trabalhos você considera o mais importante ?
Meu Chevy Nova Yenko 1970, fabricado pela Maisto. Um carro que peguei como sucata, sem rodas, motor ou suspensão e numa cor terrível, no início de 2011, seria um pro-touring, já estava com uma base prata e rodas aro 18, mas um certo dia pesquisando algumas ideias para outros Novas, me deparei com uma foto de um Nova Yenko, cor preto, com rodas de ferro, cor preta com listras brancas, não resisti, mudei o rumo do projeto e procurei fazer o carro o mais fiel possível ao modelo da foto, a cereja do bolo ficou por conta do motor 454 do Corvette, seguindo os moldes dos carros da época.
Você ainda mantém contato com outros colecionadores do Brasil, praticantes da personalização de minis, e existem grupos nas redes sociais que são específicos do assunto?
Fiz muitas amizades, país a fora, por conta dessa prática, e até hoje mantenho contato com essa gente. Com eles também faço ótimos negócios, trocamos dicas sobre tudo relacionado as miniaturas, principalmente 1:18, a que mais me identifico, atualmente. Nas redes sociais, os grupos são inúmeros e posso citar três que considero muito sérios no assunto: Colecionadores de Miniaturas a Legítima; Muscle Minis Diecast e Mercado Livre das Miniaturas. Fica essa dica para o leitor.
Por todo o Brasil vemos Encontros de colecionadores e em Boa Vista não tem sido diferente. O RR Clube HQ tem oportunizado a prática do Colecionismo juntando um pessoal fissurado para apresentar suas coleções, reunindo também artistas da customização de miniaturas, descobrindo novos talentos e evoluindo a cada Encontro. Como você avalia essas exposições?
Acho tudo isso muito positivo. Conhecer novos colecionadores em nossa região, parceiros de hobby, fissurados e dedicados, é algo que me motiva ainda mais a seguir em frente no colecionismo. As exposições rendem importantes momentos e boas amizades e fico bastante feliz por fazer parte desse universo.
Colecionar é preciso!
O colecionismo é uma atividade cultural por excelência, sendo uma arte e uma ciência que desenvolve o aprendizado e manifesta o entretenimento.
Em todo o mundo, milhares de pessoas colecionam os mais diversos objetos como forma também de preservar a história.
Nos dias atuais, são infinitas as formas de colecionar. Nos sites encontramos grupos e lojas específicas com total afinco sedutor para melhor entreter os adultos.
Outro fator importante no Colecionismo são os Encontros, os quais funcionam como estímulo para interação e obtenção de novos contatos, e neles também se descobrem aqueles que já praticavam o hobby.
O colecionismo é algo que pode ser praticado por todos. É possível fazer uma coleção do tamanho do bolso de cada colecionador e seu investimento se baseia na aquisição de conhecimentos, o que faz com que ele se torne um especialista em sua área.
É visível constatar o charme e o fascínio que o ato de colecionar exerce sobre as pessoas. Portanto, colecionar jamais será uma atividade extinta. (M.S)