Editorial
Houve um tempo em que as pessoas produziam quase tudo que consumiam. A maior parte da população vivia na zona rural e produzia grãos, frutas, hortaliças, legumes… Muitos tinham criações: porcos, galinhas, cabras, ovelhas, vacas… As donas de casa faziam coalhada, manteiga, doces, pães, bolos…
O comércio era mais voltado para produtos industrializados – ferramentas, ferragens, vasilhames, tecidos… não havia supermercados, apenas pequenos mercadinhos. Algumas cidades nem tinham padarias. Assim, dependíamos pouco do dinheiro, do papel moeda, pois as compras ocorriam com pouca frequência.
Por Kildo Neto @professor_financas
Saúde financeira não tem preço
Em 1950, de cada 100 pessoas, 36 viviam em cidades. Pelo Censo de 2010, de cada 100 pessoas, 84 vivem em áreas urbanas.
A migração do campo para a cidade aumentou o número de pessoas vivendo de salários e comprando produtos ou pagando por serviços todos os dias.
Esse novo cenário trouxe a necessidade de aprendermos a administrar o dinheiro de forma que possamos comprar todos os produtos e serviços que necessitamos no nosso dia a dia.
Outra questão importante é o aumento da oferta de crédito. Antigamente, poucas pessoas tinham contas em bancos e menos pessoas ainda tinham acesso a crédito. Quando muito, tinham uma conta na venda.
Hoje o número de pessoas que tem contas bancárias e acesso a crédito é muito, muito maior.
Assim, é preciso saber lidar com o dinheiro e o crédito de uma forma mais organizada.
Convido você a conhecer algumas formas de se organizar, conhecer os seus ganhos e os seus gastos, identificar suas prioridades, ter uma relação responsável e inteligente com as finanças.
Afinal, precisamos atender às nossas necessidades básicas, mas sem deixar de lado os nossos desejos, os nossos sonhos, não é mesmo?
Vamos trilhar um caminho que poderá deixá-lo mais seguro e tranquilo na relação com o dinheiro. Você, a sua família, as pessoas que convivem com você poderão ter uma vida de mais qualidade, mais bem-estar!
Para começar a falar de dinheiro, precisamos primeiro entender dois conceitos muito importantes, que são a base do mundo das finanças: produção e consumo.
Produzir é trabalhar. É do trabalho que vem nosso dinheiro. Pode ser do trabalho dos pais ou parentes, se não trabalhamos, ou do trabalho já realizado, no caso de aposentadorias.
Nós consumimos nossa energia e nosso tempo quando trabalhamos e produzimos. Somos nós, as pessoas, os principais elementos do processo de produção.
Todos nós produzimos alguma coisa, mas nem sempre ganhamos dinheiro por isso. Às vezes, não ganhamos, mas deixamos de gastar. É o caso das donas de casa, que nada recebem pelos trabalhos de cuidar da casa e dos filhos, mas deixam de pagar para que alguém faça a limpeza, cozinhe, lave e passe a roupa. Mesmo quando trabalhamos fora, às vezes fazemos serviços domésticos, como capinar o quintal ou pintar a casa. Não há remuneração financeira, mas o valor que deveria ser pago para
Você vai conhecer a vida financeira da família Silva. Eles são Joaquim, Isabel e João.
Joaquim recebe um salário de 830,00 e Isabel de 730,00. Ela consegue mais 100,00 com a venda de bolos que faz em casa nos fins de semana, dinheiro extra que gasta com roupas para ela e o filho e com outros itens pessoais, como salão de beleza. Pagam mensalmente 250,00 de aluguel, 30,00 de água e 20,00 de luz.
O filho de 2 anos, João, passa os dias na casa da tia Júlia, enquanto os pais trabalham. Eles pagam à Júlia, 100,00 por mês pelo serviço prestado. Gastam em média, 300,00 a cada mês no mercado mais 30,00 de frutas e verduras aos sábados. Os dois juntos gastam 120,00 de transporte para o trabalho. Aos domingos costumam ir ao parque e gastam com o transporte e o sorvete, em média 25,00. Estão pagando 48,00 pela prestação da televisão nova e os dois juntos não gastam mais do que 60,00 com a conta do celular. Planejam fazer uma viagem e se juntarem 200,00 por mês viajarão nas próximas férias.
O trabalho voluntário é uma outra forma de produção em que não se ganha dinheiro; é o serviço prestado em benefício de alguém ou de alguma comunidade. Nesse caso, a recompensa é o carinho recebido das pessoas, o exercício da cidadania e a sensação de bem-estar por contribuir para a melhoria da vida dos outros.
#DicasFinanceiras
Pense sobre o valor do seu trabalho.
Você já parou para pensar que o seu trabalho se transforma em dinheiro?
Que quando você gasta seu dinheiro, é como se estivesse gastando seu trabalho?
Então, dinheiro desperdiçado é trabalho jogado fora!
A nossa sobrevivência exige consumo permanente. Mesmo quando estamos dormindo há consumo – a geladeira, o rádio – relógio, o telefone celular e outros aparelhos elétricos permanecem ligados, consumindo energia. Ao acordar consumimos água na higiene pessoal, consumimos alimentos e energia elétrica ou gás no preparo do café da manhã. Quando saímos de casa consumimos serviços de transporte, roupas… o que consumimos – é algo indispensável? pode trazer algum risco à saúde? por que consumimos – posso satisfazer minha necessidade ou desejo com outro item semelhante? como consumimos – tenho orçamento para fazer esse consumo? posso adiar esse consumo? de onde vem o que consumimos – a origem do produto é legal? qual o impacto de sua produção no meio ambiente? a que preço consumimos – pesquisei o preço? é um preço justo? posso encontrar o produto ou ser- viço por um preço menor?
Nosso consumo tem impacto sobre nós mesmos, sobre a economia, sobre a sociedade e o meio ambiente. Cada vez que consumimos, satisfazemos a uma necessidade ou a um desejo nosso, nos afetando. O impacto sobre a economia acontece porque quando consumimos, aumentamos a procura pelo produto ou serviço, e isso faz com que a produção aumente. Em relação à sociedade e ao meio ambiente, os impactos são sentidos desde o momento em que decidimos consumir até a forma como jogamos fora, podendo aumentar a quantidade de lixo, prejudicando o planeta.
Resumo
Produção é o resultado do trabalho.
Fatores de produção: terra, capital e trabalho.
Terra é o espaço físico e os recursos naturais – terra, ar, água, etc.
Capital é associado ao investimento, má
quinas, ferra- mentas, instalações físicas e aos recursos financeiros (dinheiro).
Trabalho é a ação das pessoas sobre a terra e o capital, usando seu esforço físico e sua capacidade intelectual, seu conhecimento.
Consumo é a ação de desfrutar bens e serviços. Consumo responsável é transformar o ato de consumir em uma prática permanente de construção da cidadania. Consumo inteligente é o que considera as reais necessidades, os desejos e as condições financeiras, visando obter a maior satisfação possível ao menor custo. Consumismo é comprar de forma exagerada. Além desses conceitos, você teve oportunidade de descrever seu papel atual ou futuro no processo produtivo e repensou seu comportamento em relação ao consumo. Também refletiu sobre algumas formas de aumentar a produção ou reduzir seu consumo, iniciando outras atividades produtivas.