DOUTOR DURVAL DE ARAÚJO Primeiro médico sanitarista do Território Federal do Rio Branco
O anjo alivia a dor da alma e o médico alivia o sofrimento do corpo. Ambos têm muito em comum. Quem já foi atendido por um deles sabe do que estou falando.
Aos anjos às orações. Aos médicos que hoje prestam serviços (e salvam vidas) nos hospitais de Roraima – e a todos os profissionais da área de saúde -, o nosso reconhecimento e gratidão pelo muito que fazem pela saúde das famílias deste Estado.
A história de hoje é sobre o primeiro médico sanitarista e leprologista, o Doutor Durval de Araújo Gonçalves Filho, que veio com o governador Ene Garcez dos Reis para o Território Federal do Rio Branco em 1944.
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Nas décadas de 1940 e 50 ainda não havia água encanada em Boa Vista e, por isso, cavava-se uma cacimba (poço) no fundo do quintal ou se ia buscar água diretamente no rio Branco. Aparelhos sanitários nas residências eram novidades e nem todos tinham em casa. Este cenário contribuía para a presença de verminoses e do mosquito da malária.
O Dr. Durval foi nomeado pelo governador Ene Garcez para coordenar a Superintendência da Campanha de Erradicação da Malária – SUCAM. O prédio era onde hoje está o Restaurante Meu Cantinho (defronte à Orla Taumanan). Foi formada uma equipe com 20 Guardas Sanitaristas (o povo chamava de: “Guardas mata-mosquitos”). O chefe dos Guardas era o senhor Ladislau de Souza Cruz. Eles iam a pé borrifando com o pó do DDT as casas na cidade, nas fazendas e comunidades indígenas.
O DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) – é um potente veneno em pó, que era misturado à água e borrifado nos lugares onde se suspeitava que houvesse larvas do mosquito Anopheles (Anófeles, Anofelinos)– transmissor da malária; e do Aedes aegypti – transmissor do vírus da dengue. O efeito colateral do manuseio do DDT é que ele penetrava nas narinas e grudava na pele suada, o que provocou lentamente o envenenamento dos que tinham contato direto com este inseticida. A Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde há pouco tempo é que baixou uma Portaria a de nº. 11, de 08/01/1998, que proíbe o uso do DDT nos programas de controle de doenças transmitidas por insetos, inclusive da malária. Foi uma decisão tardia.
Em 1964 o Dr. Durval Araújo foi nomeado para o cargo de Governador do Território Federal de Roraima, por indicação do deputado federal Valério Caldas de Magalhães. Nos dois meses que passou como governador ele se empenhou na execução de obras de saneamento; determinou a abertura de inúmeras valas para dar vazão aos igarapés e lagoas que inundavam a cidade.
Aliás, para quem não sabe, a cidade de Boa Vista tinha mais lagoas do que propriamente ruas, inclusive no Centro Cívico, onde hoje é a Praça do Coreto, havia um charco d`água, tipo lago, e no local onde está o Hospital Coronel Mota, na Avenida capitão Júlio Bezerra, ali era uma grande lagoa.
Outro problema era a falta de moradias. Os primeiros médicos tiveram que se acomodar num quarto do único Posto de Saúde que funcionava em uma pequena casa ao lado do IBGE, na Avenida Getúlio Vargas. Depois é que foram construídas as casas do IPASE (atrás da TV Roraima).
No início de 1970, o Dr. Durval Araújo foi convidado a fazer parte da Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, que estava implantando marcos divisório na fronteira do Brasil com a Venezuela. A equipe levou 31 dias nesta viagem e subiu o Monte Roraima e a Serra do Parima. Os equipamentos médicos eram conduzidos dentro de um Jamaxim (cesto de palhas de buritis) preso às costas. Depois o Dr. Durval retornou à Boa Vista e continuou o seu trabalho pioneiro no combate a endemias.
O Dr. Durval casou-se em maio de 1935 com a senhora Myrtes dos Anjos, tendo um casal de filhos: Wellington Gonçalves e Marlene Gonçalves. Após separação casou-se com a senhora Dirce, com a qual teve a filha Denise Gonçalves.
Mesmo aposentado aos 70 anos de idade, continuou por algum tempo prestando serviços à FUNASA. Nos últimos dias estava sendo cuidado pela filha adotiva Eulália Uapixana de Montenegro.
O Dr. Durval de Araújo nasceu em Canavieiros, na Bahia, em 23/06/1909, tinha 99 anos de idade quando faleceu em Boa Vista no dia 12/07/2008. Que o seu nome seja dado a um Hospital em Roraima. Ele merece.