A morte de um filho – Flávio Melo Ribeiro Os pais sonham com o filho e o que farão juntos antes mesmo da gravidez. Esse desejo de construir uma família e de dar continuação ao seu próprio ser através da existência de um filho é uma ideia bastante comum entre pais e mães. O amor pela criança só aumenta com a espera durante a gravidez, os cuidados depois de nascer, as preocupações e a satisfação de o ver crescer e descobrir o mundo.
A morte desse filho é um drama que se inicia com a notícia do seu falecimento, visto que o sentido da vida se dá a partir dos desejos e projetos que a pessoa coloca em ação. E a morte é a interrupção abrupta dos projetos ainda em curso. Nesse caso, é uma dupla interrupção, pois além de indicar a perda do filho, desmancha o sonho de compartilhar a vida em família.
Já o nascimento aponta a responsabilidade que a mãe e o pai terão pela frente, fazendo com que mudem sua forma de pensar, de agir e de sentir. Os significados que norteavam sua vida até aqui mudam radicalmente. Então, a notícia de que um filho veio a óbito traz um vazio insuperável. Pode parecer que os pais superaram, mas no íntimo, a lembrança se faz diária: através de lembranças e de projeções de um futuro que nunca se deu “o que ele estaria fazendo se estivesse vivo ou como gostaria que ele estivesse participando desse evento”.
Amenizar o sofrimento é construir um novo projeto. No entanto, para isso é preciso ter paciência para que o tempo cicatrize as feridas. E por mais que amigos e conhecidos tentem animar os pais enlutados com frases como: “Vocês são novos, podem ter outro filho”, “ Faz parte da vida e talvez ele tenha uma outra missão”. Isso não ajuda. Muitas vezes o resultado é o contrário, faz aumentar a raiva da perda do filho.
Portanto, caso queira consolar com eficiência, fique ao lado em silêncio e no máximo diga que está disposto a conversar. Escute as queixas, as lamentações e as raivas. É isso que uma pessoa que está passando por uma perda quer. Deixe passar uns dias e então, se necessário, converse a respeito e dê sua opinião. Entenda que é o futuro que puxa a pessoa para a vida. E o filho representa o futuro dos pais, por isso é muito difícil lidar com a morte. Além disso, existe a expectativa de que os filhos enterrem os pais e quando o contrário acontece, é difícil aceitar.
*Psicólogo;CRP12/00449 E-mail:[email protected] Contatos:(48) 9921-8811 (48) 3223-4386
A CIDADE DE DEUS X A CIDADE DO DIABO – Wender de Souza Ciricio
Alguns anos atrás me debrucei sobre uma obra de Agostinho de Hipona, conhecido como Santo Agostinho, denominada a “Cidade de Deus”. A premissa desse santo homem era de que o essencial do cristianismo não é o que ocorre aqui na terra, mas o que está preparado na cidade celestial que triunfará sobre a cidade terrena. Por isso, a inquietação não deveria ser a política terrena e sim com o que havia de melhor na cidade de Deus. Na cidade terrena, Agostinho, aponta que a mesma vive em função do efêmero, do que se enferruja e do que mais cedo ou mais tarde desvanecerá, enquanto que na cidade de Deus o homem lida com o eterno, com o para sempre e com ausência do nocivo, do medo e da desgraça.
Nessa obra prevalece a comparação exaustiva entre duas cidades, uma terrena, presa e refém de um estilo de vida pesado, carregado de maldade e fadada ao fracasso ético e moral. A outra cidade aponta para Deus, numa direção futurística e pacifista, discursando sobre um ambiente sem hostilidades de paz e segurança. Na cidade terrena predomina uma voz, que na concepção agostiniana procede do mau, a voz do diabo. Na cidade de Deus, o nome por si só já aponta para uma voz divina, de Deus, que segundo Santo Agostinho fala do bem e na promessa de suprir a necessidade de segurança e significado que permeia o coração humano.
Transportando Santo Agostinho para nosso hoje, nosso aqui e agora, não descartamos que essa disputa ainda existe e existe com muito vigor e veemência. Nunca vimos na história tanta confusão, brigas e debates sobre conceitos éticos, morais e espirituais. Há uma babel de conteúdos sobre o que é certo e errado. O ator Wood Allen disse com precisão: Estamos numa encruzilhada. De fato ainda existe a cidade de Deus e a cidade do Diabo.
O conceito teológico ou cristão é de que o Diabo existe. Não se trata de uma pessoa tosca e imbecil, mas de uma mente brilhante que sabe seduzir, aliciar e convencer de que seu padrão é melhor do que o de Deus. Ele atua nos grandes seguimentos da sociedade, entre políticos, intelectuais e formadores de opinião, mídia e em outras instâncias. Ele, segundo a teologia, é dono de um mundo macro, é dono de cidade, a cidade do Diabo. Nesse mundo, por exemplo, seu projeto é desmantelar a família cristianizada dizendo que não existe um modelo único de família e que não precisamos viver em função de uma mera herança judaico-cristã. Na entrada da cidade ele fala nos ouvidos dizendo que o sexo é livre, que a bebida é por conta da casa e que as drogas devem ser liberadas. Aponta para uma moda sedutora e picante com o fim de promover a orgia e prazer sem limites. Banaliza a violência e manda os jovens desenvolver e cultuar seus corpos para se aproximar dos super-heróis e amassar a cara de quem lhes olhar um pouquinho diferente da maioria. Nessa cidade o outdoor diz: o “faça o que sentir vontade de fazer, mesmo que os outros não gostem. Quem não gosta é brega, tapado e careta”.
A cidade do Diabo é um show, parece uma eterna balada de prazer incontido, presa ao hedonismo e à ideia epicurista de que o mundo é para o prazer. Nessa cidade, porém, a garota não é conscientizada de uma gravidez indesejada, que o jovem drogado pode ir cedo para o cemitério e que a morte cerca também os valentões. Dor e vazio no coração são comuns nessa cidade. Santo Agostinho não aconselha ninguém viver nessa cidade.
A cidade de Deus propõe o oposto da cidade vizinha. Descreve uma ética em que o Pai respeita, ama e educa seus filhos com princípios que conduzem ao respeito, responsabilidade e consideração para com o próximo. Observe um aluno da cidade de Deus e um aluno da cidade do diabo, diria Santo Agostinho. Nessa cidade a garota não entrega seu corpo ao primeiro da balada. Empatia e altruísmo são palpáveis. Na cidade de Deus possui uma ética coerente e reta. Não se mata, mas se ama o próximo, não destrói relacionamentos, mas estrutura amizades e consolida a paz entre pessoas. Essa cidade reflete o caráter de quem a idealizou, o próprio Deus. Em que cidade você quer viver?
*Teólogo, historiador e psicopedagogo [email protected]
Saudades daqueles dias – Afonso Rodrigues de Oliveira
“Embarca morena embarca Molha o pé, mas não molha a meia. Viemos de muito longe Fazer barulho na terra alheia.”
Meu abraço, hoje, vai para minha amiga Catarina Ribeiro. Um abração apertado. Lembrei-me da Catarina ontem pela manhã, quando saí de casa para ir a Iguape, que é um Município paulista, vizinho à Ilha Comprida. A manhã estava ensolarada, e não sei por que, na travessia do Mar Pequeno, lembrei-me dos dias que vivemos, na nossa caminhada com o programa dos Pontos de Cultura. Foram dias maravilhosos no desenvolvimento cultural. Aí, lembrei-me dos programas culturais apresentados por todos os estados brasileiros, em Bras
ília, na TEIA-2008.
Já em Iguape, dei de cara com uma feira de produtos agrícolas, na Praça da Basílica. Embora nada tivesse um assunto com o outro, a lembrança acendeu-se. Foi como se eu estivesse entrando na multidão dos Pontos de Cultura, em Brasília. É quando o pensamento entra em evolução e nos leva onde já estivemos e gostaríamos de estar. Aí abracei um punhado de gente, entre eles a Catarina o Chacon, o Márcio Sergino, e tantos outros que me fezeram feliz, naqueles dias. Caminhando pelo meio da feira, lembrei-me do grupo, em Brasília, cantando essa poesia maravilhosa que está aí em cima.
Como é bom, e saudável, a gente se lembrar de momentos que não devem ser esquecidos. Na volta à Ilha, fiz o costumeiro por aqui: fui até a varanda e fiquei contemplando o movimento na Praça Candapuí. Um caminhão tipo Escola está parado em frente ao Espaço Cultural Plínio Marcos. Um grupo de pessoas está fazendo treinamento para as atividades pesqueiras. O que não deixa de ser, também, uma atividade cultural. Sorri, pensando em quantas pessoas estão ligadas às atividades que devem ser mais admiradas como atividades culturais. Ou pescar não é uma cultura?
Saí e fui dar uma caminhada pelo calçadão da Avenida Beira Mar. Caminhei, pensei, saudei, e me lembrei de tantas amizades que me fizeram feliz no meu dia a dia, na mistura de culturas diversas e que fazem parte do cadinho do viver. Como é bom viver. E por que é que tantos não levam isso em consideração, muitas vezes desperdiçando o que há de melhor para ser vivido? O que nos faz feliz na simplicidade da vida. Porque ela é um barco que nos leva e traz no ir e vir da vida. Mesmo que lhe pareça banal ou vulgar viver um dia de lembranças, lembrando-se de pessoas que lhe trouxeram momentos que não devem ser esquecidos.
Procure a felicidade dentro de você. Ela está onde você está. O importante é que você esteja atendo, ou atenta, à sua presença. Desfrute cada minuto de sua vida. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460