Opinião

Opiniao 05 08 2019 8684

Não deixe esse amor apagar nossa história

Dias atrás conversei longamente com empreendedores da cidade. Pessoas que vendem comida, bijuterias, artes nos quiosques da prefeitura. O papo nasceu depois de ver as pequenas letras do diário oficial tornarem públicas mais uma “revitalização” de praça no valor de 5 milhões de reais. A área de alimentação e os tapiris na Praça das Águas devem sumir para brotar mais uma coisa que você não viu, não opinou e vão tentar te convencer que é modernidade.

Nem vou falar dos 15 milhões de reais que vão para a reforma da Vila Olímpica, feita com dinheiro público, mas que o público, eu e você, temos uma dificuldade danada de usar. Burocracia, jeitinhos, empurra que até o futebol da gente é no Ribeirão (que é até aconchegante, mas lá na Vila seria mais legal). Aquele ginásio, sempre vazio. E lembre-se que o Mercado do São Francisco não teve reforma; nasceu outro de qualidade duvidosa, que apagou patrimônio histórico. A calçada da Floriano Peixoto foi desfigurada pelo estacionamento irregular. Demoliram até o primeiro hospital da cidade sem você perceber seu valor histórico. Ministério Público se pronunciou sobre faz pouco.

Deixa eu voltar para a Praça das Águas, pois estão demolindo sonhos e trabalho suado de gente que precisa viver onde sobra falta de respeito e planejamento. De uma hora pra outra, é dada a largada numa reforma que desaloja pais e mães de família, que recebem alguns a proposta de ir para uma praça reformada em 2017, com mais de 1 milhão de reais investidos, e hoje já abandonada no bairro Centenário. Sem clientes. Gente que bate à porta do ‘Braços Abertos’, programa que visa participação popular, e saem de cabeça baixa. Ouvem nãos na FETEC e em meses de chuva estão abandonados à própria sorte sem ter pra onde ir.

Você já se perguntou como são geridos os quiosques e boxes em praças e feiras da cidade? Concessão e permissão são contratos administrativos que dão mais segurança. Imagine licitações prévias, mínima concorrência, capacitação, qualificação por habilidades… Incentivar empreendedorismo não é só questão econômica, é também social para superar desemprego e dependência do setor público. Mas aqui, faz-se o ato administrativo tornando o cidadão um autorizatário. A autorização é uma relação mais frágil. Ninguém sabe de certeza se volta depois da tal reforma. De boca, quem confia? 

Nem eu, nem os autorizatários somos contra reforma. Queremos ver a maquete. Queremos conservadoria e manutenção preventiva. Queremos educação patrimonial. Queremos saber se esse prédio de mais de década vai dar lugar a algo adequado às necessidades da gente, da nossa identidade cultural da Capital e se vai fomentar a economia sustentável, como oportunidade para ampliar a geração de emprego e renda. Afinal, ver mais de 1,7 milhão numa das etapas da praça; 5 milhões na reforma de quiosques; 1,6 milhão de “Eu Amo Boa Vista” em plaquinhas; dos bichinhos da selvinha o preço não se sabe; do mega letreiro idem; além dos 20 milhões citados lá em cima. Dá para entender que é muito dinheiro envolvido. 

E sabe de uma coisa, vai ver tem muita subjetividade nesse jeito de gerir a coisa pública e imprimir amor é maneira para que não se releve o essencial. Entre o sonho e a realidade, a vida recorre à imaginação para ver um tal amor se manifestar. Discursos e imagens parecem maiores que as experiências com a cidade concreta. Se o amor é ato consciente de orientar a vida afetiva, então fiquemos atentos, pois amor que é amor não tem preço. 

Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista

Todo acidente pode e deve ser evitado –  Claudemir Peres*

É notória a evolução da segurança nos últimos anos. Entretanto, ainda há muito a fazer, considerando que nenhum acidente é aceitável. Todo acidente pode e deve ser evitado. Inicialmente, os acidentes do trabalho eram tratados como verdadeiras obras do acaso, uma vez que aconteciam porque iriam acontecer de qualquer maneira, sem que ninguém pudesse fazer absolutamente nada a respeito. Mais tarde, acreditou-se que haveria uma redução do número de ocorrências por meio de intensa vigilância, uma vez que só haveria cuidado e as devidas precauções se alguém estivesse fiscalizando. Essa ação realmente reduziu o número de acidentes e representou uma enorme evolução para a época, mas não os eliminou.

Posteriormente, houve uma evolução para o conceito de que a segurança dependia de cada um. Assim, os colaboradores começaram a cuidar de si em vez de serem fiscalizados. Outro grande marco na evolução da segurança: Eu sou o responsável pela minha segurança! Mais uma vez, o número foi reduzido, mas os acidentes ainda não foram eliminados. Atualmente o nível de referência para a segurança é o chamado cuidado ativo, ou seja, eu cuido de mim, eu cuido de você e você cuida de mim. Esse conceito, somado aos avanços da tecnologia e à segurança tratada como fator estratégico pela alta direção, proporciona um cenário muito positivo para a eliminação de qualquer acidente.

O maior desafio das organizações e, em especial, de nós está no estabelecimento de valores e crenças que contribuem para atitudes e comportamentos que desenvolvem a percepção do risco. Atitudes e comportamentos seguros, sustentados por valores pessoais, são percebidos no dia a dia das pessoas, em todos os lugares, como trabalho, casa e escola, entre outros. Não é possível ter comportamento seguro na empresa e não apresentá-lo em casa. Se isso for percebido, o nível de maturidade ainda é baixo.

Um exemplo de como atividades simples do dia-a-dia pode comprometer a nossa percepção do risco e, consequentemente, aumentar o número de acidentes: Imagine que um pedestre precisa atravessar uma avenida bem movimentada, mas, por estar com pressa, resolve atravessar fora da faixa.

No dia seguinte, ele precisa atravessar novamente, então olha para os dois lados, a preocupação e o incomodo já são menores do que no dia anterior, e ele consegue atravessar. Mais uma vez, enviou ao cérebro a mesma mensagem. No terceiro dia, ele já não tem mais incômodo ou preocupação. No outro dia, menos ainda, até perder toda a percepção do risco. Nesse momento, o cérebro entende que atravessar fora da faixa não é mais uma atitude perigosa. Infelizmente, é exatamente neste momento em que acontecem os acidentes.   

Este assunto é de cuidado permanente nas indústrias do Polo do Grande ABC, que inclusive realizam treinamentos para o desenvolvimento do comportamento seguro dentro das organizações. Tão importante quanto investir em formação técnica é essencial e desafiador habilitar profissionais para trabalharem com o fator humano, de modo que possam garantir maior efetividade na condução dos programas preventivos.    *Presidente do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (COFIP ABC) 

Uma cientista inesquecível – Oscar D’Ambrosio*

A transformação de uma secretária sem formação acadêmica em uma das mais célebres pesquisadoras sobre chimpanzés do mundo é o fascínio do documentário “Jane”, de Brett Morgen. Valorizado pela música sempre enigmática de Philip Glass, a produção da National Geographic apresenta a história de uma cientista extraordinária.

Apaixonada por animais selvagens, mesmo sem grau universitário conseguiu ir para a Tanzânia com a missão de estudar os chimpanzés locais. Inicialmente com a companhia da mãe, já que mulheres não eram admitidas sozinhas nesse tipo de trabalho de campo, ainda mais na África, começou a realizar um trabalho ímpar, com descobertas com consequências em diversas áreas, como a antropologia e a etologia, área do conhecimento que cuida do comportamento animal.

Um documentário feito com imagens filmadas em 1962 resultou em mais de 65 horas de material, utilizado em 1965 e, posteriormente abandonado. Em 2015, os rolos foram encontrados num porão. Surgiu assim uma nova produção, que coloca a trajetória de Jane Goodall sob uma nova perspectiva.

Trata-se de uma abordagem que privilegia como a jovem conseguiu se inserir na vida cotidiana dos chimpanzés; como se relacionou com o fotógrafo que foi documentar suas ações e se tornou o seu marido, com o qual teve um filho; quais descobertas realizou e como seu trabalho permanece vivo até hoje na forma de pesquisas científicas e ações de preservação da vida selvagem em todos o mundo.

O filme é uma aula em diversos aspectos, tanto por mostrar o preconceito sofrido por Jane, por ser mulher, como também as resistências que enfrentou pelo fato de não ter um currículo universitário. Mesmo assim, ela foi construindo a sua trajetória, trazendo, com suas observações cotidianas e pacientes, novas informações sobre o comportamento dos chimpanzés. Fez-se assim respeitada como mulher e cientista, garantindo seu nome como referência às futuras gerações.

*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Eu os vi ali na Praça – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorrega pelos olhos.” (Bob Marley)

Ontem passei o dia sem perceber que ele estava passando. Só no final da tarde foi que me lembrei de que deveria ter ido ao Banco, ao Correios e à lotérica. Ainda bem que não iria jogar, mas pagar a conta do meu telefone. Olhei para os montes, lá no Município de Iguape, e senti preguiça de pensar em sair. O tempo estava nublado e a preguiça nadava nas nuvens, me provocando. Acho que você sabe, porque já deve ter vivido um dia característico dos saudosistas. Fui até a varanda, olhei as crianças brincando nas gangorras, os pais os acompanhando e os quero-queros passeando pela grama. Só aí percebi o porquê de eu passar o dia todo indolentemente. 

Sempre que os dias amanhecem friinhos, viajo nos pensamentos de minha adolescência, quando comecei a cuidar de minha vida. Quando eu me levantava cedinho para trabalhar, com uma temperatura na média, de zero grau. Aí sinto saudade. Mas não choro. O sentimento continua no coração, levando-me a viagens distantes. E fico parado e imóvel, até que a dona Salete, sem perceber que está interrompendo uma viagem preciosa, pergunta fingindo que está apenas me lembrando:

– Oi, bem… Não vai lavar a louça do café, não? 

Mas tudo isso faz parte de uma vida que gosto de viver. Mesmo quando uma advertência moldada interrompe um momento de felicidade. E meu momento foi interrompido. Eu estava na varanda, fitando o horizonte nublado, coberto por um nevoeiro intenso e colorido, nas cores da saudade. E eu estava sentindo saudade de minha família em Boa Vista. Senti saudade. A distância faz a gente ficar sentimental, como o poeta. E como não sou poeta, não me deixei levar pelo sentimentalismo. Apenas fiquei com ele por um tempo até que cumprimentei todos os membros da família em Roraima. Um momento em que medimos as dimensões do imensurável. Porque o sentimento, aliado ao pensamento, leva a gente muito distante. 

Não há como não ser feliz quando temos uma família que nos orgulha por ser uma família. E é assim que vejo meu grupo. E são tantos, incluindo os agregados, até os que saíram. Porque para mim não há diferença. São todos parte da família que faz parte e compõe uma família que, vez por outra, mexe com meu coração, e vez por outra tenta escorregar pelos olhos. E tudo faz parte do amor que traz a felicidade. E por que não ser feliz quando temos tudo para ser? Construa sua felicidade na construção de uma família. Ela é o esteio seguro para um futuro seguro, quando sabemos construir. E tudo depende do amor que temos pelo que temos. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460