Opinião

Opiniao 10 08 2019 8722

Direitos humanos – de que se trata, o que é isto – João Baptista Herkenhoff*   Por direitos humanos ou direitos do homem são entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir.

Prefiro a designação “direitos humanos”. É, a meu ver, mais própria que “direitos do homem”. Quando falamos “Direitos Humanos”, deixamos claro que os destinatários dos direitos são os seres humanos em geral. Já a denominação “Direitos do Homem” estabelece a preferência pelo gênero masculino. É certo que na expressão “direitos do homem” está implícito que se trata de “direitos do homem e da mulher”. Mas, de qualquer forma, por que “direitos do homem” para abranger os dois gêneros?

A ideia de direitos humanos não é absolutamente unânime nas diversas culturas. Contudo, no seu núcleo central, alcança uma real universalidade no mundo contemporâneo.

O conceito de “Direitos Humanos” resultou de uma evolução do pensamento filosófico, jurídico e político da Humanidade.

A leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos permite–nos verificar que um conjunto de valores ético-jurídicos perpassa o documento.

Poderemos retirar da Declaração a substância que ela contém identificando os valores subjacentes ao texto.

Atrás da enunciação técnico–jurídica moderna, podemos identificar, no conjunto do texto, valores milenares que dão alma à Declaração.

Justamente esses valores tiveram sua gestação na longa travessia da História. Profetas, sábios, espíritos luminosos, gente anônima do povo, culturas esplendorosas e culturas esquecidas, civilizações menosprezadas e oprimidas contribuíram para a construção universal desse código ético.

A meu ver, são valores ético–jurídicos fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos os seguintes:

O valor “paz e solidariedade universal”;

O valor “igualdade e fraternidade”;

O valor “liberdade”;  

O valor “dignidade da pessoa humana”;

O valor “proteção legal dos direitos”;

O valor “Justiça”;

O valor “democracia”;

O valor “dignificação do trabalho”.

*Magistrado aposentado (ES), professor aposentado (UFES) e escritor.  E-mail: [email protected] Site: www.palestrantededireito.com.br

PAPAI, PARE E PENSE – Wender de Souza Ciricio*

Segundo dados do IBGE, existem no Brasil, entre 2005 e 2015, um saldo avassalador de famílias sem a presença de um pai. Em 2017, ano em que foram divulgados esses dados, o IBGE constatou que 11,6 milhões de famílias estão sem a presença do pai, sendo, portanto, filhos criados e educados por mães, avós e outros. Mas a maior inquietação não é somente em cima de famílias que vivem sob a ausência de um pai, mas em como um pai se relaciona com seus filhos morando longe ou debaixo do mesmo teto. O que mais pesa é a forma como se materializa a relação pai e filho. A paternidade envolve qualidade e consiste em dar a chance de que os filhos espontaneamente gritem pelo nome pai de boca cheia, de forma radiante. Filhos têm que sentir prazer em ter um Pai. Um pai azedo, ácido, indiferente não dá a chance ao filho de apreciá-lo como pai.

Há muitos anos atrás conheci, em São Paulo, uma garota extremamente angustiada e amargurada com a vida. Tentou o suicídio duas vezes, sem sucesso é claro, e na terceira empreitada rumo à morte disse que se “acovardou” e recuou da tentativa de se matar. Desse repertório pergunta-se: O que levou essa garota a contracenar na vida de forma tão brutal e tão próxima da escuridão? Que situações tenebrosas e pessoas contribuíram para ela viver em função da escuridão? Segundo ela, não eram bem situações, mas um vilão que biologicamente era pai dela. Esse homem impôs sobre ela uma educação sem qualquer chance para ela entender o que é ser amada, ser valorizada e ser querida. Tratava-a de forma indiferente, sem o tato da sensibilidade, do afeto, do toque de pai e do ouvir de um pai amigo. A relação não se sustentava em cima de diálogo, de instrução, mas de rispidez, brutalidade e xingamento. Ela apanhou muito e de forma covarde. O mundo ficou pesado demais para ela. O peso foi tão grande que quando saiu às ruas, sem referências e sem parâmetros, encontrou um jovem, e um jovem que sabia jogar, sabia seduzir e sabia envolver um coração desmontado. Não deu outra, ela por não saber o que é amor, pois o pai nunca a ensinou e tão pouco demonstrou, acreditou que aquele jovem rapaz a amava. Confiou tanto que aceitou o convite de ir com ele para cama. Não deu outra, ficou grávida. E agora, como anunciar isso a um pai bruto e estúpido? Foi atrás do namorado para juntos enfrentar o “Pai leão”, mas o jovem sedutor sumiu. De novo uma rasteira da vida sobre ela. Em função disso, ela não tentou o suicídio, mas entrou numa clínica clandestina e abortou. Uma moça antes elegante e atraente, diante de mim enquanto falava e chorava, exibia um corpo fisicamente ferido e uma alma cansada. Uma filha amada dentro de casa dificilmente cai nas lábias de um sedutor barato.

Poucas coisas carregam o fascínio de ser pai. Pai é pai em qualquer circunstância. Existem pais atípicos, fora do padrão e letais como esse acima citado. Alguns, por exemplo, ao se separar, brigam como loucos para não dar pensão aos filhos. O dinheiro que seria da pensão passa ser gasto na pista, na balada e na pescaria. Porém, em várias situações encontramos pais que servem os filhos, servir no sentido de ir ao mundo dos filhos para ter certeza em como está a cabecinha do filho e da filha. Caminham até os filhos pelo percurso da ternura, do bom diálogo, da disciplina, do estímulo e do afago, ou seja, existe pai que tem muito de seus filhos dentro de sua alma, o que torna intenso e prazeroso essa missão. Filhos de um pai presente costumam ter estabilidade emocional e intelectual.

Por isso pergunto: Quer ter a certeza de que é pai à altura do que deve ser? Aprecie algumas dicas papai.

– Ajuste sua agenda com os filhos. Sendo pouco ou muito tempo faça com qualidade. 

– Vá ao mundo deles. Nem sempre seu tipo de lazer, diversão, comida, linguajar é igual ao deles. De repente você prefere levá-los para o futebol, mas eles preferem um cinema. Respeite parte de seus desejos

– Discipline seu filho no tempo certo para evitar ir até a direção da escola várias vezes por ano ou tirá-lo da cadeia. 

– Evite disciplinar seu filho quando estiver raivoso. Fazendo assim, você pode ir além do essencial na disciplina e agredir física e psicologicamente com palavras chulas e que denigrem o caráter. Exerça a disciplina construtiva, aquela que transforma e modela caráter.

– Seja construtivo e use palavras de apreciação. Estimule a autoestima com reconhecimento das virtude
s deles.

– Ensine-os sobre ter responsabilidades. Tarefas feitas em casa ajudam a entender que o mundo não lhes pertence.

– Não dê tudo que seus filhos querem, mas em primeiro o que eles precisam.

– Deixe seus filhos escolherem suas profissões conforme seus gostos e aptidões. Evite fazer deles seu troféu.

– Leve-os à igreja. Mesmo não tendo igrejas perfeitas, elas são mais construtivas do que baladas e orgias. 

– Faça com que seus filhos tenham prazer em comemorar o “dia dos pais”.

*Psicopedagogo, teólogo e historiador [email protected]

Mentes fracas – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“No Brasil, a cada 15 anos todos esquecem o que aconteceu nos últimos 15 anos.” (Ivan Lessa)

Somos assim, sim. Sobretudo na política. Batemos palmas, protestamos nas ruas, mas tudo passa. Quinze anos se passaram e foi o suficiente para esquecermos os motivos que nos levaram às ruas, em protestos. O político foi afastado do cargo, não por incompetência no trabalho, mas pela competência no fazer bem feito o que é feito, na bandidagem. Expulsaram-no. Mas quinze anos se assaram, esquecemos os acontecimentos, seu partido também, e o elegemos novamente. Sempre foi assim e, pelo que me parece, continuará sendo. As eleições se aproximam e começa a correria. Quem deve sair e quem deve ficar? Mas ninguém se lembra mais de quem é quem. Então vai dar tudo certo dessa vez. 

Esse papo não tá parecendo papo de botequim? Claro que é. Porque é nos botequins que descobrimos os realmente competentes para dirigir o país, em todos os níveis administrativos. É uma pena que os competentes não podem se eleger. Os partidos não os aceitam porque eles sabem das coisas. E, cá entre nós, ainda bem. Porque os caras são realmente muito bons como taxistas e cabeleireiros. E bem poderiam ser os Tiriricas da comédia. Mas vamos levar a carroça com segurança. Sabemos que as mudanças não são fáceis, mas necessárias. E como mudar, se as mudanças vão nos prejudicar no costume dos quinze anos que vivemos?

Vamos peneirar o bagulho. O que importa é que mudemos nossa maneira de pensar sobre a política. Ela não pode continuar sendo vista como um balaio de falcatruas. Vamos ser mais severos e rigorosos conosco mesmo, para que aprendamos a eleger cidadãos que mereçam realmente, nosso respeito. Mas para merecermos respeito é necessário que nos respeitemos. E você nunca vai ser respeitado enquanto continuar vendendo seu voto, elegendo o desonesto porque ele é seu amigo, ou seu parente. A política é algo muito mais sério do que imaginamos. Então vamos mudar nossa maneira de imaginar. E tudo está ligado à nossa educação. Ou nos educamos para podermos ser cidadãos, ou continuaremos no balaio do esquecimento. Não conseguiremos mudar se continuarmos esquecendo o que nos prejudicou tanto nos últimos quinze anos. Ou nos educamos politicamente, ou continuaremos títeres dos despreparados politicamente, mas que continuam vivendo da política, sem serem realmente políticos. Mas não nos esqueçamos de que tudo que há de errado na política atual, é responsabilidade de cada um de nós. Somos nós que mandamos os despreparados, para fazerem o dever de casa, quando eles nem sabem cuidar de suas próprias casas. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460