Opinião

Opiniao 12 08 2019 8729

No meio do caminho

Queria eu que fosse o poema de Drummond, mas a pedra no sapato de todo boa-vistense é um buraco. E com licença poética, são crateras enormes, quase lunares, mesmo com o estratosférico orçamento para urbanismo, hoje de 342 milhões de reais. Fora os milhões em convênios, emendas, jogados nessa coisa chamada asfalto, nome grego, alusivo a ‘evitar a queda’, que para nós, é o tombo de uma cidade que não dura umas chuvas. E a culpa não é de São Pedro.

Pena que quando a chuva passar, remendos e tapa-buracos vão nos fazer esquecer os pneus cortados, amortecedores estourados, rodas quebradas e nossa real imagem sem maquiagens. Não é só recompor o pavimento; temos que melhorar a drenagem, redefinir critérios técnicos da liga asfáltica, composição e espessura, e até saber que a solução tapa-buraco com material inadequado pode sair mais caro que recapeamento.

Se você passar pela Avenida das Guianas, há pouco tempo entregue “novinha”, já dá para perceber o péssimo trabalho realizado. Este é só um exemplo de que ter o dinheiro nem sempre significa o melhor investimento. E se já é tempo de manutenção, é porque o serviço foi mal feito. Ou para ser refeito perto de eleição, pois dá um retorno incrível nas urnas.

Onde falta durabilidade sobra negligência. Se temos material, qualificação, tecnologia, engenharia, por que tanto desrespeito? Por que culpar o solo ou nossa condição amazônica? Por que obras na véspera das chuvas? Se a sua resposta for falta de fiscalização, saiba que andorinhas fazendo verão seguem de olho em pontos críticos no Caimbé, como nas ruas Tia Joaca e Hercílio Cidade; no Buritis, como na rua José Queiroz; no Nova Cidade, como a rua Florianópolis e Porto Alegre; no Jardim Floresta, como as ruas Abel Francisco de Oliveira e Carlos Gomes da Silva; no Pricumã, como na Via das Flores e Três Marias; no Senador Hélio Campos, como na rua Antônia Cutrim; no Cidade Satélite, como na Alameda Antares; no Caranã, como nas ruas Deco Fonteles e Joca Farias que seguem ruins mesmo depois de tantas obras. Sarjetas mal colocadas, bueiros que não drenam, tampas fora de nível, calçadas com postes no meio, buracos no lugar do tapete preto com inclinação correta.

Fiscalização nem sempre anda junto com prevenção, recall da garantia de contratos, real urbanização de longo prazo. Isso depende de filosofia de gestão. De olho nos contratos de drenagem que impactam diretamente na qualidade das vias, vemos que foram mais de 200 milhões de reais em obras entre 2016 e 2019. Verificando o serviço entregue pelas empreiteiras, bairro por bairro, como no Araceli e no Olímpico com mais de R$ 6 milhões; os quase R$ 15 milhões no Sílvio Botelho e região, em contratos (nem sempre tão transparentes), entende-se que os lotes licitados não se comunicam; assim como as obras de esgotamento (de responsabilidade estadual) e as municipais não conversam entre si.

Se bem que sem Plano Diretor atualizado, sem levar à risca o Plano Municipal de Saneamento Básico, e com Plano de Resíduos Sólidos sem local de aterro definido, a toque de caixa e vazio total de debate público sobre o assunto, planejamento e estratégia pactuados com a sociedade ficam comprometidos.

É claro que se está entupido, tem a Patrulha da Chuva. Se alagou e desabrigou, tem a Defesa Civil. Se não tem asfalto, tem indicação de vereadores. Se tem igarapé, é cuidar antes que vire “vala”. Se falta prioridade e respeito ao dinheiro público, não pode faltar é cidadão que não espera eleição para exercer cidadania. Deve cobrar coisas que estão debaixo da terra, escondidas, mas que de estruturas bem feitas, podem durar décadas e tirar a gente, e as pedras, do meio do caminho.

Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista

ABORRESCÊNCIA! – Selma Mulinari*

Aborrescência! Essa palavra define com grande propriedade o que é conviver com os nossos filhos que estão passando da idade de adolescente para se tornar jovens adultos. Acompanhar essa turma de recém-saídos da adolescência não é tarefa fácil, é aquela idade que se é jovem demais para a vida adulta e velha demais para ser adolescente. É aquela idade que você quer ter autonomia de voo, mas não tem, porém, põe na cabeça que já pode sair e ganhar o mundo. 

O principal dilema desses jovens é se desligar dos pais, ganhar autonomia, liberdade, se livrar da autoridade dos pais. Enfim! Deixar a bolha do mundo infantil superprotegido em que vivem debaixo das asinhas protetoras dos pais e alçar voos. Mas antes de realmente chegarem a esse momento, não observam que nesse caminho tem alguns degraus que devem ser transpostos. 

Nada acontece num passe de mágica, de repente sou adulto! Na maioria das vezes os jovens continuam vivendo sem o menor comprometimento com a vida e com as obrigações trazidas com ela. Tudo que querem tem uma emergência enorme e de preferência deve ser realizado na hora! Mesmo que dentro da rotina deles estejam sempre atrasados, que pensem que o umbigo deles é o centro do universo.

Daí nós, pais e mães, ficamos nessa roda viva tentando não estressar, tentando manter a calma e a sanidade, ao mesmo tempo em que tentamos ditar as regras, dar educação, corrigir, enfim, ensinar a eles que temos normas de boa convivência, regras sociais, responsabilidades e rotina. Principalmente, quando temos convivendo em casa, filhos em várias idades, cada um com suas necessidades, especificidades e prioridades.

Na adolescência parece que o pensamento é acomodado. Os jovens de hoje amadurecem tarde e ainda pensam que o mundo pode esperar por suas decisões e vontades. Falei num artigo que o jovem é imediatista e que quer tudo para ontem. Antes que alguém pense que estou incoerente, explico! O imediatismo se dá somente para as coisas de seu interesse, como as saídas a noite, os hobbies, os amigos, os namoros e assim por diante, o restante pode esperar, o restante fica fora do foco!

Falando em foco, a cada dia que passa, tenho visto pais vivendo sobre a linha tênue da insanidade, divididos entre realizar o famoso exercício da paciência e perder as rédeas da estória toda. Para cobrar foco de adolescente é preciso ter muita calma e uma disposição canônica para não se aborrecer.

Quando cobrados por decisões que realmente importam, há um processo de acomodação que causa angústia. Num momento, as definições são controladas, ajuizadas, reafirmadas com toda a propriedade de quem sabe o que quer para a sua vida toda. Então, as mudanças de opinião vêm a jato, como um grande furacão. Isso se dá em todas as ocasiões, na escolha da profissão, no compromisso com a rotina de casa, que deveriam ser encaradas como responsabilidades que lhes são inerentes, na escola e nas responsabilidades que esperamos que tenham com a organização da sua rotina.

Então, se todas as experiências com adolescentes forem mais ou menos parecidas, tudo inicia pela manhã, com o despertador tocando por três vezes, no mínimo, para que o sujeito (a) consiga acordar. Levantar é outro processo, demora um pouco mais. E então, depois de acordar o tico e o teco debaixo do chuveiro, tem quese arrumar para sair, tomar café e por aí seguimos. Contudo, na hora de sair pra escola sempre acontece um imprevisto, um esquecimento, falta algum detalhe que tem que ser resolvido e que acaba promovendo o atraso. 

Quando chega a hora dos pais pegarem na escola, daí é o inverso, não pode haver atraso, não é legal esperar, todos estão com fome, cansados e com certeza, a partir desse primeiro compromisso, haverá mais uma dúzia, pelo menos, de outras tarefas a serem cumpridas. Como cumprir essa rotina de muitos afazeres, que com certeza cada um é mais importante que o outro? Nesse momento viramos motorista particular deles (as).

Continuando a saga de conviver e educar aborrecentes, nós convivemos o tempo todo com as mudanças repentinas de humor, com as mudanças de voz, com as mudanças no corpo todo. Processo complexo e dolorido e com uma carga que vem acrescida do desconhecimento, do não saber lidar com essas mudanças, com os complexos criados na cabeça deles e com a briga eterna com a beleza. Processos que causam sofrimento e que os pais têm que ficar muito atentos para que possam perceber as angústias vividas e ajudar a superá-las.

O que nos deixa ainda mais apreensivos é que o mundo mudou, convivemos com uma carga de informação que na maioria das vezes não conseguimos controlar, que está aí à disposição de todos, para o bem ou para o mal. Outro ponto de preocupação é com a banalização dos sentimentos e do sexo. Ninguém sabe mais o que é namorar. Sem contar também com a violência urbana e com a inserção das drogas no mundo do adolescente.

O que talvez nos salve seja saber que essas experiências estão sendo vivenciadas e compartilhadas com um grupo de amigos, que devem estar passando pelo mesmo processo, pelas mesmas dificuldades. Por outro lado, cabe dizer que esse drama todo passa e que os adolescentes viram jovens, depois viram adultos e que pai e mãe não têm sossego nunca na vida!!!

     *Mestra em História Social; Conselheira do CEERR [email protected]

Desligue-se do criador – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. É preciso ir mais longe. Eu penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho num grande silêncio e a verdade me é revelada.” (Einstein)

Já sabemos que nunca iremos encontrar a solução se continuarmos concentrados no problema. Veja qual foi o criador do problema e esqueça-o. Não podemos viver o presente, ligados ao passado. Simples pra dedéu. A escolha é de cada um. Ligar os pensamentos a problemas do passado é a pior mensagem que enviamos ao nosso subconsciente. Quando choramos o passado é porque não conseguimos esquecê-lo. E vamos levando a vida sem perceber que ela está nos levando. E nesse carrossel de desconhecimento, vamos vivendo sem viver. A Natureza nos ensina nas mudanças repentinas. Nosso maior problema é que não conseguimos atentar para as mudanças. Elas não devem vir ligadas ao que deve mudar. 

Você presta atenção às mudanças do tempo no dia a dia? Mudanças simples que nos fariam felizes se lhes prestássemos mais atenção. Hoje tivemos uma manhã lindinha aqui na Ilha. Um sol de certa forma abrasador, mas agradável. Resolvemos os problemas costumeiros pela manhã e voltamos para casa. De repente saí até a varanda e olha só o que vi: um nevoeiro forte cobria todas as montanhas lá pelo Município de Iguape. E, naturalmente, o frio chegava de mansinho, mas ameaçador. Ameaçador para quem? Em vez de me preocupar, lembrei-me dos bons momentos friinhos que vivi por aqui, na década dos cinquentas. Aí sorri, olhando para os montes cobertos de nuvens cinzentas.

Momentos que parecem banais, mas nos trazem momentos de felicidade com lembranças de momentos vividos com felicidade. Porque quem viveu os anos anteriores à década dos setentas lembra-se de momentos de temperaturas de zero grau, e até menos, naquela época. O aquecimento da temperatura paulista deve-se a mudanças técnicas que mudaram o mundo paulista. Tempo desses li algo interessante sobre os porquês das mudanças. Muito simples. Mas deixo as explicações para os técnicos. O que me interessou na contemplação, pela manhã, foram as lembranças com a visão, contemplando os montes Iguapenses. 

Procure viver a felicidade nos momentos atuais, lembrando-se de momentos que lhe trouxeram felicidade em tempos passados. Mesmo que os momentos passados tenham sido singelos, simples, nada importa. O que importa mesmo é que você tenha vivido cada momento passado com alegria e respeito às diferenças no Universo. E o maior segredo para ser feliz no momento em que vive, é viver dentro da racionalidade atual. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460