Vidas desperdiçadas – Flamarion Portela*
O homicídio de uma adolescente de apenas 15 anos, ocorrido no último final semana, em Boa Vista, cujo corpo foi encontrado decapitado, nos traz duas grandes preocupações.
A primeira é o aumento das mortes com requintes de crueldade que vêm ocorrendo ultimamente em Roraima, o que nos faz supor que tem alguma relação com o crime organizado e facções criminosas que já estão implantadas em nosso Estado.
A segunda é o aumento substancial de jovens envolvidos nesses crimes, sejam como vítimas ou mesmo como autores.
Esses dois pontos nos levam a uma reflexão e ao mesmo tempo a uma preocupação com esse atual cenário, nos encaminhando a alguns questionamentos.
O primeiro deles é com relação à nossa segurança pública. É notória a falta de estrutura e aparelhamento das nossas polícias, que não recebem investimentos substanciais há muito tempo, sem falar do baixo efetivo e falta de capacitações.
Isso, por si só, já nos dá uma sensação de insegurança, que também é percebida pelos bandidos, que se aproveitam da situação para cometer mais crimes de toda ordem contra a população, inclusive tendo aumentado também o número de pequenos roubos e furtos nos últimos anos.
Os dados mais recentes revelam que já foram cometidos mais de 140 homicídios este ano, seja com uso de armas de fogo ou brancas, nos quais muitos deles as vítimas sofreram tortura, foram degoladas e até tiveram outros membros arrancados.
Mas o questionamento que quero destacar aqui é com relação aos nossos jovens. O que está acontecendo com eles? Por que estão se encaminhando cada vez mais para o mundo do crime?
Novamente, nos vem à mente a ausência do poder público. A falta de políticas públicas que incentivem os jovens a permanecer na escola, a praticar esportes, a se envolver em artes e cultura, acaba os deixando à margem da sociedade e vulneráveis para serem capitaneados pelo crime organizado, seduzidos por uma pretensa vida fácil.
Mas, não podemos deixar de colocar nessa conta a responsabilidade da própria família. Vivemos num tempo em que as famílias estão cada vez mais desestruturadas, onde filhos não respeitam mais os pais, vivem num mundo conectado através de tecnologias, mas desconectados das próprias pessoas em sua volta, sujeitas a influências externas de pessoas com más intenções.
Um tempo em que os jovens estão cada vez mais se distanciando da igreja, da palavra de Deus, sem nenhuma referência religiosa.
É preciso que haja um trabalho conjunto de todas as forças para tentar resgatar esses jovens do crime e também evitar que outros enveredem pela criminalidade. Somente desta forma, poderemos vislumbrar um futuro adequado para nossa juventude.
*Ex-governador de Roraima
“LULA LIVRE” OU NOVA CONSTITUIÇÃO! – Luis Cláudio de Jesus Silva*
Não é a primeira vez que exponho minha opinião quanto à caduquice da nossa Constituição Federal de 1988 e defendo que se convoque uma nova Assembleia Nacional Constituinte, que nos traga regras que sejam capazes de legitimamente espelhar os anseios sociais frente às transformações vivenciadas nas últimas três décadas. Precisamos de uma nova constituição com normas que combatam a impunidade e assim desestimulem a prática da corrupção que tanto mal tem causado a nossa sociedade. No entanto, enquanto esse novo mundo não se concretiza, devemos respeitar as regras contidas na ultrapassada Carta Magna de 1988. É nesse ponto que abordo um tema já desgastado por tanto debate, porém atual, de entendimento não pacificado e capaz de despertar paixões, criar ilusões e dogmas, que é a prisão após condenação penal em segunda instância. Ainda que a contragosto, mas nos associando aos preceitos e garantias individuais previstas na Constituição, me curvo a defender a soltura de um dos maiores bandidos da história deste país, aderindo ao “LULA LIVRE” e não ao “NOS LIVRE DO LULA”, como pretendem alguns ministros do STF.
Sugiro segurar a euforia e as conclusões precipitadas e irreais. Nenhum brasileiro de bem, depois de tudo que veio à tona com as investigações e cobertura midiática e após as condenações mantidas mesmo diante do manejo de inúmeros recursos, pode duvidar de que Lula é um delinquente e que liderou o maior esquema de corrupção jamais visto nos anais da justiça brasileira. Pelo conjunto da obra, Lula deveria ficar preso até o fim dos seus dias. No entanto, não se pode ignorar os preceitos legais e constitucionais que a todos se impõe respeitar, sob pena de retrocedermos ao “estado de natureza” onde a lei do mais forte era a regra. Fato é que, nossa CF/88 impõe a observância do princípio da presunção de inocência ao taxativamente determinar que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (Art. 5º, LVII). Se a prisão não for cautelar (temporária ou preventiva), o que justifica a prisão senão a antecipação da culpa? Antecipar culpa antes de esgotadas todas as possibilidades de recursos (trânsito em julgado) é por consequência inconstitucional. O STF é o guardião da Constituição, no entanto seu poder de interpretação deve respeitar a vontade do legislador constituinte, que ‘representa o povo’, e não pode subverter as normas constitucionais à vontade pessoal e casuística de seus Ministros, ainda que sob a justificativa de atender os anseios de uma sociedade que está cansada de assistir imperar a impunidade. Por outro lado, mesmo que após a condenação em segunda instância, tanto os fatos delitivos quanto sua materialidade e autoria não puderem ser alterados por meio de recursos aos tribunais superiores, isso por si só não autoriza que se ignore o princípio de presunção de inocência previsto na CF.
Reafirmo minha associação a todos que estão cansados com o excesso de recursos que favorecem a impunidade e estimulam a corrupção, porém devemos lutar para mudar a legislação e não subvertê-la a nossa vontade momentânea e, muitas vezes, passional. Para mudar, o caminho é escolher melhor nossos representantes no parlamento e depois acompanhar sua atuação e cobrar que defenda os interesses coletivos. Enquanto isso não acontecer, vamos ter que aceitar os ‘lulas livres’ e impunes, sob pena de, como ensinou Evandro Lins e Silva, “na realidade, quem está desejando punir demais, no fundo, no fundo, está querendo fazer o mal, se equipara um pouco ao próprio delinquente”.
*Professor universitário, Doutor em Administração.
Cuide do jardim – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“O segredo não é correr atrás das borboletas; É cuidar do jardim para que elas venham até você.” (Mário Quintana)
Elas voam, você não. Então é tolice ficar correndo atrás delas, querendo pegá-las só para se divertir. O importante é que você cuide do seu jardim para que a beleza venha naturalmente. Tudo muito simples. Quando cuidamos do mundo à nossa volta, a beleza está sempre presente. Seja na borboleta ou até mesmo no grilo. Por que não? A beleza depende de quem a vê. Cada um vê a beleza de forma diferente. Ela, a beleza, está dentro de cada um de nós. O importante é que saibamos manter o jardim do nosso consciente sempre limpo para a beleza da natureza. O encanto depende do espírito de quem o vê. Uma nuvem negra pode muito bem parecer um espetáculo para uns, enquanto parece uma tristeza para outros.
O segredo está em ser feliz. E ser feliz é saber viver dentro da racionalidade. O que pode parecer claro para uns pode parecer escuro para os que não conseguem ver o claro. Sorria para você mesmo, ou mesma. Não permita que a felicidade não consiga penetrar no jardim do seu coração. Não se sinta pequeno nos seus pensamentos por estar se sentindo feliz. A felicidade é uma forma grandiosa de mostrar o que realmente somos. Sorrir não é inferioridade, mas demonstração de alegria e felicidade.
Não sei como você vê a simplicidade. A maioria das pessoas a vê como uma vulgaridade. O que indica um despreparo no caminho da racionalidade. E não torça o nariz quando falo de racionalidade. Somos todos de origem racional. O fato é que nem todos nós fomos, nem somos, capazes de entender o que é ser racional. Somos todos da mesma origem. Viemos todos do mesmo Universo. Chegamos aqui porque quisemos chegar. E viemos porque quisemos vir. Ficamos porque quisemos ficar. Mas perdemos a capacidade de progredir. E continuamos parados sem saber cuidar do jardim da alma.
Viva a vida. A alegria é o indicativo do progresso racional. Viva cada momento da sua vida como ele deve ser vivido. Com amor, carinho, dedicação e muita perseverança. Mas não deixe de ser forte no seu viver. Viva cada dia como se ele fosse o último. Cada momento como se ele fosse uma dádiva. Porque é isso que ele é. O que vivemos no que fazemos hoje é o fruto que colheremos amanhã. Já sabemos que só colhemos o que plantamos. Então vamos plantar a semente da felicidade. Cuidemos do nosso jardim para que as borboletas possam vir para a nossa felicidade. E ser feliz é ser simples na simplicidade da natureza. E cada um de nós pode ser feliz. Só depende do que pensamos sobre nós mesmos para com os outros. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460