Opinião

Opiniao 07 10 2019 9063

Amanhã é 23

Eu não sou a Piovani em Portugal, fugindo da realidade, ou uma Abravanel num passeio de metrô eventual de sua vida. A indignação sistêmica me trouxe até aqui. E olha que cultivo o diálogo, com filtros. Tenho consciência absoluta do cotidiano duro ao meu redor e das opiniões sobre a circunstância na qual estou inserido hoje, momentaneamente. A lei diz sim; a opinião pública diz não. Então, por hora, é não ao maior número de vereadores.

Vai ver por isso não considero normal o tracajá, a sucuri, o jacaré de fibra, os jardins a ornamentar bem mais na parcela abastada da cidade, sendo que a mais necessitada, mais populosa, das famílias mais sem lazer ou espaço público adequado, próximo às suas casas, seguem nesse apartheid roraimense. Mais de 80% convivem com a nítida segregação. Esta política reforça marcas de desigualdade se não consegue decifrar ou unir o que a Av. Venezuela insiste em separar. Não é a quantidade de vereadores que vai reverter este quadro. É a posição independente e socialmente referenciada.

É preciso dizer não a um sistema político que insiste em errar no representar. Há uma teia de crises: migratória, de serviços públicos a desejar, de termos muitos partidos com uma agenda descolada dos interesses reais da população. Há uma crise de representatividade. A democracia representiva não é suficiente e, se não fizermos a passagem para a democracia participativa, progressista, digital, rápida, interativa e transparente, viveremos em breve dias de Equador e Peru.

A política do cotidiano vive de redes pessoais. Uma das estratégias de criação ou manutenção dessas redes é conceder homenagens, honrarias, moções, títulos para exaltar realizações e qualidades de alguém. Uma hipótese é de que essa tática serve para afirmar e renovar laços, alianças. A mesma sociedade de críticas cobra homenagens nessa herança imperial. Para quebrar a tradição, alguém tem que ceder. O casamento cidadão-vereança precisa mudar. E ainda dá tempo.

As sementes da desesperança e do descrédito crescem, formando uma selva de apatia e desconfiança. Não se pode crer na fórmula fácil das votações urgentes, sem debates públicos, sem plebiscitos, sem referendos, sem leis de iniciativa popular, sem orçamentos definidos por quem é o real dono da coisa toda. Prefiro que a população, depois de entender os porquês, reivindique seus 23 vereadores.

Por isso, antes de aumentar o número seria necessário participar e fiscalizar a Política. Educar e incitar quem elege a tomar a decisão. A responsabilidade não acaba na hora do voto, na hora da posse, e não pode ser a crítica virtual em si, senão amanhã se esquece. Começa no empenho em cobrar as promessas, de quem não deveria prometer, para que a confiança do povo reinvente a democracia a partir de si e para si.

Cabe no orçamento, melhora a relação com sociedade, partidos solicitaram, Constituição permite… Não cabe é justificar o erro. Que da próxima se faça consulta prévia, porque perguntar antes de decidir não ofende. Se bem que tem uma segunda votação sobre o assunto daqui uns dias… Já que quem sabe faz a hora, saiba que agora só falta você para corrigir o título que eu e Kid Abelha temos no singular.

Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista

Decifra-me ou te devoro: qual o futuro da educação superior – César Silva*

As primeiras análises dos dados do censo da Educação Superior indicam que o segmento agora está sustentado e direcionado para o EAD – Educação a Distância. O número total de alunos matriculados teve um ligeiro crescimento, de 8,3 milhões de alunos para 8,4 milhões, aumento de 1,2 %. Enquanto a quantidade de alunos matriculados nos cursos presenciais de graduação caiu de 6,5 milhões, para 6,4 milhões, decréscimo de 1,5%, os alunos cursando graduação a distância cresceram de 1,8 milhão para 2 milhões, representando incremento de 11,1%. 

Um resumo de números absolutos mascara a tendência não só de oferta, mas também de procura pela modalidade EAD. Observa-se que, no total, o aumento foi de 100 mil alunos, o presencial perdeu 100 mil alunos, e o EAD ganhou 200 mil alunos. Porém na análise de gradiente de crescimento, o EAD vem crescendo a sua base de alunos em índices de 2 dígitos mais de 10% ao ano. 

Outro fator a ser considerado quanto à tendência e a provável predominância do EAD em poucos anos, é que nas Instituições de Ensino Superior Privadas, onde está o grande número de alunos cursando, as matrículas novas em cursos na modalidade EAD corresponderam a 84% do número de matrículas novas nos cursos presenciais.

Mais importante ainda, ao vermos os números apresentados, é que precisamos olhar além da foto do momento. A análise deve abordar, ao menos, os dados dos censos anteriores. E a tendência dos números é percebida a partir de análise de uma série. Em sete anos, de 2011 a 2018, o número de novas matrículas em EAD triplicou, saindo de pouco mais de 400 mil alunos para quase 1,4 milhões. Por outro lado, as matrículas nos cursos presenciais caíram para o menor número no período.

Ao contrário do que se apregoa em eventos de carreira e inovação, esta mudança de tendência para uma nova mídia com tecnologia não representa uma escolha de novas carreiras que são ofertadas, como design de games, ciber risks. Os três cursos com mais matrículas em EAD são tradicionais e de histórico de existência longa, permanecendo com a mudança de mídia de oferta, são eles Pedagogia (23,4%), Administração (11,4%) e Ciências Contábeis (7%).

Apesar de existir um esquecido Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece metas de quantidade de alunos matriculados no ensino superior (entre outras) que não serão atingidas por falta de políticas públicas para tal, o cenário da educação superior tem tendência de estagnação do número de estudares, mas com mudança de escolha do presencial para o EAD. 

Tal fato leva a outra importante preocupação: como será a aplicação dos recursos tecnológicos na contribuição da formação dos graduandos que se tornarão profissionais em todos os segmentos? Neste sentido, excetua-se Medicina e no Direito, carreiras controladas por seus órgãos de classe que impedem os cursos 100% EAD, por enquanto.

Não podemos esquecer que parte das IESs passou a ofertar cursos de graduação a distância para reduzir custos e sem qualquer proposta pedagógica diferenciada, e que oito entre dez IESs ofertantes de EAD utilizam um dos três ambientes virtuais de aprendizagem que se estabeleceram na educação superior do Brasil. Tais ambientes são funcionais na apresentação dos conteúdos, mas não trazem nenhuma experiência diferenciada para os alunos.

Como destacado por muitos dos pesquisadores do mercado de inovação, parte das grandes empresas de 2025 ainda não existem. Pode ser que na Educação Superior ainda esteja por vir um ou mais players realmente preparados para esta nova realidade. É preciso que sejam ofertadas propostas pedagógicas adequadas ao EAD, com plataformas de ensino aprendizagem diferenciadas, com features que permitam uma nova experiência aos alunos e que uma adesão, uma construção de grupos de estudos que diferenciem a participação dos alunos e passe a permitir indicadores de evasão muito
menores. Somente desta forma o EAD deixará de ser o presencial com redução de custos e passará a ser uma proposta de investimento. O cenário proporciona esta expectativa.   *Presidente da Fundação FAT (Fundação de Apoio à Tecnologia)

Iguais e diferentes – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Vocês riem de mim porque sou diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais.” (Bob Marley) 

Se somos todos iguais nas diferenças, vamos respeitar as diferenças e desfrutar a igualdade. O que requer respeito mútuo. Por que ser igual quando podemos ser diferentes, sendo o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos? É simples pra dedéu. É só se valorizar no que é. Seu valor está em você e não no seu estilo de cabelo ou na cor de sua pele. Sua cultura está nos seus conhecimentos sobre você mesmo ou mesma. E os tais conhecimentos são adquirimos no dia a dia, na convivência com os próximos. O Emerson já disse: “Você é tão pobre ou tão rico quanto o seu vizinho, senão não seria fizinho dele.” E seu vizinho é a pessoa com a qual você deve conviver respeitando as diferenças. Se a convivência não lhe interessa, mude você. A mudança é um passo à frente.

A vida é um pandeiro. A qualidade no som depende de quem o toca. Afine-se para afinar. Procure a amizade, sempre, para o bem no viver. Mas seja sensato na escolha e sensato no respeito à escolha. O vizinho é mais uma família. E nem sempre é a família ao seu lado. Ele pode estar a distância de você, não importa. Você pode até nem conhecê-lo, não importa. O que importo e interessa é que você o reconheça na comunhão da vivência racional. Tarefa que cabe somente a você, em relação a você mesmo, ou mesma. É quando você procura a convivência no seu mundo racional, que é o seu porto seguro.

Mas não fique pensando que isso é difícil e que exige de você integração a dogmas ou coisa assim. Depende somente de você. Do quanto você se respeita em você. Da confiança em você mesmo, ou mesma, para poder ser diferente do que é, e a cada momento. Mas sem deixar de lado a racionalidade no respeito às diferenças entre os seres humanos, ainda em processo evolutivo sobre esta Terra ainda em evolução. E comece por não confundir esse papo, que é mero papo, com filosofia, religião ou coisa assim. É apenas um papo de um amigo que acordou pensando em você, independentemente de onde você estiver. Porque estamos todos no mesmo universo. O importante é que saibamos caminhar pelas veredas da vida que vivemos. 

Estamos iniciando mais uma semana de andanças e lutas que devem ser silenciosas, construtivas e construtoras da paz na racionalidade. A alegria é uma força que nos leva à vitória. Então não há por que se entregar à tristeza. Busque a alegria nos momentos, até mesmo mais simples. Porque ela, a alegria, não está no que vemos, mas como vemos o que vemos. Logo, ela está dentro de você, nos seus pensamentos e ações. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460