Bom dia,

Os que se interessam pelo desenvolvimento de Roraima e especialmente os políticos e administradores públicos locais deveriam dedicar um tempinho para olhar com cuidado para os números sobre o comércio exterior do estado (exportação versus importação), publicados ontem, quinta-feira (17.10), na edição da Folha. Os números podem mostrar uma realidade bem diferente dos discursos oficiais de exagerado otimismo e, mais ainda, denotam a ausência absoluta de políticas públicas de apoio e estímulo à mudança da matriz econômica de Roraima, que é a tônica do discurso de políticos e dirigentes do estado. Eles falam que falam sobre tal mudança, mas rigorosamente nada fazem, ou pouco fazem.

Quem se detém a esses números chega à fácil conclusão de que Roraima é um mero corredor de exportação para produtos nacionais – produzidos em outros estados brasileiros – para a Venezuela e a Guiana. Nada menos que 89,82% de nossas exportações têm como destinos estes dois países com os quais fazemos limites. E no caso da Venezuela, a exportação está crescendo a partir da crônica crise econômica naquele país, já que em situação de normalidade os venezuelanos, quando podiam comprar em escala, faziam a compra de produtos brasileiros diretamente dos estados produtores, especialmente de São Paulo.

ARROZ

Nem mesmo o fato de que o primeiro item da pauta de exportação de Roraima ser o arroz, que a princípio poderia ser produção local, nada indica que realmente seja. O indício de que também o arroz que está sendo vendido para a Venezuela e Guiana seja produzido em outros estados é o preço do cuim – um subproduto do arroz – no mercado local, que nos últimos 12 meses experimentou um aumento cavalar de mais de 100%. Na verdade, se as indústrias locais estivessem vendendo arroz para o exterior, por certo que o preço daquele subproduto não teria experimentado este aumento espetacular. Outra evidência do que estamos dizendo pode ser observada nas prateleiras dos supermercados boa-vistenses, onde aparecem mais marcas de arroz produzidas fora de Roraima.

MADEIRA

Outro número que chama atenção quando se observa a pauta de exportação de Roraima neste ano de 2019 – os dados se referem ao período de Janeiro a dezembro deste ano – é a participação da madeira, que hoje não passa de 1,19% e que por muitos anos significou o principal produto exportado por Roraima, e com produção local. Este dado corrobora com o discurso dos empresários do setor madeireiro local que faz algum tempo anunciam a paralisação dessa atividade extrativa/industrial.

FALTAM ESTÍMULOS 

Enquanto as autoridades governamentais locais cantam loas e boas anunciando grandes investimentos num futuro próximo, para o estado, na vida real não se tem conhecimento de qualquer política de estímulo para fomentar a produção local para atender este mercado potencialmente existente com nossos vizinhos de fronteira. E apesar da crise na Venezuela e da pobreza da República da Guiana, as vendas para o exterior no período de nove meses deste ano já somaram US$ 71,3 milhões ou R$ 295 milhões ao câmbio atual. Estamos órfãos de governo.

PALESTRA

O defensor-geral da Defensoria Pública de Roraima, Stélio Dener, está em São Paulo participando do 2º Seminário das Defensorias Públicas do Brasil. O evento começou na terça-feira (15.10), e vai até o próximo sábado (24.10), e Stélio Dener vai falar no painel População Imigrante e Indígena, especificamente no tema População Imigrante. À Parabólica, o defensor-geral adiantou que vai dizer que o povo de Roraima já deu sua colaboração humanitária no acolhimento dos imigrantes, e que é preciso que o governo federal assuma de vez o papel que lhe cabe para resolver este problema, que tem afligido todos os que vivem em Roraima.

PELA ESTRADA

Um atento usuário da BR-174 observou e quantificou o número de migrantes venezuelanos que caminham a pé todos os dias, pela rodovia, na direção Boa Vista-Manaus. Ontem, quinta-feira (17.10), por volta das 10h da manhã, apenas no trecho entre o Frigo 10 e a entrada de Boa Vista (a altura do Distrito Industrial) nada menos de 52 venezuelanos caminhavam maltrapilhos, carregando malas e mochilas em direção a Manaus. Desses, 14 eram crianças, inclusive três bebês ainda em idade de amamentação. É uma tragédia que se repete todos os dias enquanto Maduro continua assaltando a Venezuela e o governo federal brasileiro perde tempo para fazer “planejamento estratégico”, para a nova fase da operação acolhida.             DEFICIT

Apesar das brigas no campo político – o presidente da República e os dirigentes de seu partido, o PSL, travam uma disputa que beira a baixaria – o governo Bolsonaro tem muito a comemorar na condução da política fiscal. Ontem, o secretário de planejamento do Ministério da Economia, Mansueto Almeida, anunciou que o deficit primário do governo para este ano, que estava previsto para R$ 139 bilhões, pode ficar na casa dos R$ 103 bilhões. É uma baita economia, que deve ser comemorada por todos os que desejam o saneamento das contas públicas. 

FARINHA POUCA

Diz o ditado popular que os espertos cultuam o “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Pois bem. Enquanto pede que os demais poderes e órgãos com autonomia orçamentária permaneçam com o mesmo teto orçamentário de 2019, o governo do estado propõe para si mesmo um aumento de seu teto de mais de 1 bilhão de reais. Em 2019, o Executivo estadual ficou com R$ 2.627.909.888,00 do total das receitas estimadas. Para 2020, a proposta da Lei Orçamentária Anual (LOA), encaminhada para a Assembleia Legislativa do Estado (ALE), eleva este teto para R$ 3.629.974.459,00 um salto de R$ 1.002.064.571,00.