Opinião

Opiniao 28 10 2019 9184

UERR: DENÚNCIAS, INQUÉRITOS E PEDIDOS DE EXPLICAÇÃO – Jairzinho Rabelo*

Nos últimos meses a Universidade Estadual de Roraima tem recebido a visita de diversos órgãos, desde a Polícia até a Justiça, em suas dependências. São diversas denúncias, desde o não repasse de verbas retiradas dos servidores relativas ao IPERR, caso que já foi esclarecido, conforme a gestão – não sei se a contento para a Justiça, esperamos que sim – até a contratação de uma empresa para ministrar curso aos professores, inquérito que ainda rola na Polícia e no Ministério Público Estadual.

Diante destas e de outras denúncias, os acadêmicos da instituição se mobilizaram e realizaram um protesto no dia 24/10/2019, para o bem de todos. É a retomada da organização estudantil. É um movimento que tende a se fortalecer e ter um grande peso. Foi demonstrada a insatisfação com a atual gestão da universidade. Pelos corredores, acadêmicos ostentaram cartazes com frases como: “Pela regularização da UERR junto ao Conselho Estadual de Educação”, “Em defesa da universidade”, “Chega de desmandos na UERR” e “Estudantes unidos por uma UERR livre e popular”.

Os protestos são tensos, pois demonstram como está o clima da universidade. Desde o início desta gestão, um ano como reitoria pró-tempore e quase quatro anos como reitoria eleita, há denúncias de uma enxurrada de Processos Administrativos – PAD’s, com o intuito de tirar os possíveis adversários do caminho. Assim foi feito e, para nossa derrota, perdemos vários professores pesquisadores, que preferiram fazer concurso para outras universidades e alguns ficaram, ou ainda estão, doentes pelo clima de perseguição criado.

A semente da discórdia foi plantada com a divisão da instituição entre os que são dos cursos de bacharelados e os que são das licenciaturas. Sou professor da UERR desde 24 de julho de 2006 e nunca senti tanta tristeza pelo enfraquecimento dos cursos, com a diminuição drástica do número de alunos e as denúncias de malversação de recursos. Agora, é esperar que a justiça faça o seu trabalho e que os culpados, se houver, sejam punidos.

Com toda certeza, eu preferiria que nada disso tivesse ocorrendo e ainda torço que tudo seja resolvido o mais rápido possível. No entanto, emergem denúncias de que alguns cursos que necessitam de laboratório não têm, e de que outros que precisam de professores médicos e têm somente um, fica a reflexão: como serão formados médicos sem terem professores médicos? 

Fecho este texto com o apelo grafado em uma das faixas dos acadêmicos em protesto: “GOVERNO DE RORAIMA, OLHE PARA NOSSA UNIVERSIDADE”. A impressão que temos é de desamparo. Infelizmente não temos políticos que valorizem a educação, não temos políticas que fortaleçam o ensino superior público no estado de Roraima e carecemos de gestores que apliquem adequadamente os recursos. PARABÉNS AO MOVIMENTO DOS ACADÊMICOS! Apesar de tudo isso e muitas outras situações, acredito na força dos acadêmicos, professores e servidores da

UERR para mudar esta realidade. JÁ ESTÁ PASSANDO DA HORA DE MUDAR!!!!

*Professor do curso de Letras da UERR

De Servidor para Servidor – Linoberg Almeida*

Não sei se você lembra da série ´Os Aspones` ou já assistiu algum episódio de ´Filhos da Pátria` ou ´Segunda Chamada`, mas burocracia, falta de reconhecimento, motivação, o “jeitinho”, a relação qualidade e mérito, ser útil para a coletividade e viver dilemas individuais, para além da estabilidade e remuneração, são peculiaridades nessa coisa de ser servidor público. Drama e comédia da vida real não são uma mera coincidência.

A ficção faz da corrupção, do “corpo mole’ ou do ato heroico de se dedicar ao outro, temperos inerentes à função, aos olhos de quem vê. No entanto, na pele de quem sente, para garantir eficiência, desempenho no trabalho e devido retorno à sociedade com o que se tem, precisamos entender que cumprir horário e fazer o mínimo necessário são problemas de gestão e de como nós, o público, permitimos essa desagradável linha tênue com o privado. 

Fala-se muito de privilégios e generaliza-se usando a parte ‘alta casta’ como se ‘o todo’ fosse. Flexibilizar, enxugar, racionalizar, meritocracia… Palavras difíceis esquecem que servidores públicos em cargos efetivos ficam imobilizados no cargo de ingresso, sem movimentação e ascensão funcional. Não é só a progressão transformada em salário, gratificação e abono. São os assédios, as dores no corpo, a falta de diálogo e estímulo ao novo e desafiador.

Vivemos tempos que valorizar pessoas virou clube de vantagens com vales e descontos em clínicas, escolas de línguas, restaurantes, lojas de peças, na troca de carro, um tanque ou tapete, vantagens  nas academias, exames laboratoriais para doenças adquiridas no ambiente de trabalho, um ingresso do cinema quando falta tempo pra se coçar. Rola até participação em cursos, indicados pelo chefe imediato, que na maioria os próprios chefes tiram vantagens. Até pagamento em dia, sem atrasos, virou exceção e vantagem. Tempos estranhos.

Vai ver o século XXI, quando realmente chegar, trará revisão continuada do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, com abonos, gratificações adequadas e não punitivas (com perdas hoje de quase 30% dos proventos), e até mesmo incorporações. Tudo a seu tempo, respeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal e a origem das rubricas. Imagine qualificação valorizada para que educação continuada seja motivadora, feita aqui mesmo com a Escola Municipal de Administração Pública em parceria com universidades, faculdades, institutos, para universalizar programas de formação profissional com palestras, capacitações, especializações, mestrados, doutorados…

O tal “deixa-pra-depois” ou falta de simpatia podem ser falta de ergonomia, problema da coluna, lesão nos membros, problema alérgico, oftalmológico, de voz, Burnout, pânico, fibromialgia e os de cunho psicoemocional, que afetam a cultura organizacional. É preciso estratégia de valorização com psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos, médicos em equipe multidisciplinar pública ao servidor público.

É dever do gestor e de todo servidor contínuo processo de auto-avaliação e formação para atender demandas dum contexto diariamente transformado e garantir a efetiva participação da sociedade nele, em prol do coletivo. Daí vem a excelência no serviço público. Portanto, para atingir eficácia, a motivação precisa ser incorporada à instituição pelo gestor, com métodos múltiplos que acolham diversos comportamentos e necessidades.

Isso tudo é mais que se colocar no lugar do outro. Com tanto nepotismo, apadrinhamento, hierarquias desnecessárias precisamos entender que o outro é outro. Somos todos outros em busca de um motivo para ser e viver. Empatia causa dor, às vezes. É preciso assumir responsabilidades para que a criatividade, a agilidade e a sociabilidade, ora ausentes, não deem lugar à mera recompensa monetária. 

Dinheiro é importante para nossa sobrevivência, mas é insuficiente para proporcionar satisfação garantida. Repensar valores morais, culturais, éticos, e até as lutas e reivindicações históricas do trabalho. Ouvir e ter pronta resposta às pessoas,
com fiscalização e reciclagem, são partes desse processo que não cabe num feriado. Hoje, descanse. Amanhã, reaja. Parabéns, do filho do bombeiro e da digitadora que segue professor, aprendendo a servir sem dor (se é possível). 

*Servidor público federal e (provisoriamente) municipal

Como nos relacionamos – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nossas relações extrafísicas anteriores determinam nossas relações humanas, sadias ou doentias, atuais.” (Waldo Vieira)

Prometa-me que não vai pensar que estou caminhando para uma religião. Nada contra elas. Respeito-as como elas devem ser respeitadas. Apenas estou expressando pensamentos que considero úteis. Tudo que se refere ao desenvolvimento racional me impressiona. Porque acredito na evolução do ser humano, não como ser humano, mas como seres de origem racional que estão aqui, sobre a Terra, numa evolução racional. E isso exige preparo racional. E não poderemos nos preparar se não considerarmos nossas passagens por aqui, até que evoluamos a ponto de estarmos em condições de voltar ao nosso mundo de origem. E é só isso. 

Todos nós já vivemos, em algum momento e em alguma circunstância, momentos vividos no passado. Seja em um sonho, seja em algum acontecimento inesperado e inacreditável. Tão inacreditável que preferimos tentar esquecê-lo. O que é impossível. Quando nos conhecemos sabemos que somos imortais. O que realmente morre, porque tem prazo de validade, é o nosso corpo. Porque ele é apenas nossa embalagem. Você nunca teve um sonho que às vezes se repete? Ou nunca prestou atenção a isso? Nunca lhe aconteceu alguma coisa que você não pode explicar porque não consegue se concentrar nela? E não consegue porque não acredita na verdade e passa a considerá-la um absurdo. Eu tenho dois casos vividos que não vou contar, porque você não acreditaria e me chamaria de mentiroso, mas aconteceu. E um deles me deixou marcas físicas que não me preocupam nem me prejudicaram. Muito simples. 

Vamos maneirar. Observe alguma coisa que acontecer no seu dia a dia que pode lhe chamar a atenção, e você não lhe dá atenção. Não confunda isso com religião ou coisa assim. Estou só falando de coisas e acontecimentos que nos levariam a momentos do passado, se prestássemos atenção. Simples pra dedéu. A verdade é que não morremos. Vamos e voltamos num eterno ir e vir. E o que vivemos hoje é fruto do que aprendemos no passado. E enquanto ficarmos presos a pensamentos sobre o passado não iremos para frente. E não evoluímos racionalmente. Então vamos nos cuidar e procurar evoluir dentro da racionalidade, para que possamos viver como seres humanos, aprendizes dos seres racionais. Vamos evoluir para que possamos estar preparados para o próximo dilúvio. E não ria. Ele vai acontecer. Quando? Não sabemos. E por isso vamos continuar despreparados, e lá iremos todos para o espaço. E depois votaremos com o apelido de espírito, para azucrinar os que não se prepararem. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460