Bom dia,

Vivemos tempos difíceis, disso ninguém duvida. Estamos caminhando para uma sociedade humana, especialmente no mundo cristão/ocidental, com valores familiares diferentes de quase tudo a que fomos nos acostumando a cultuar sob o signo da fé e obediência a valores estabelecidos pelo cristianismo, faz mais de dois milênios. Fundamentalmente, no que se refere à vida no Planeta Terra, o Homus Sapiens, de centro e principal espécie dos seres que o habitam, vem se transformando em mais uma das espécies, não só do reino animal, mas também do menos complexo mundo dos vegetais e minerais. O movimento ambientalista internacional, que é político, ideológico, de valores éticos e sociais, vem impondo a construção de uma sociedade nova, que ninguém ainda conseguiu entender com clareza onde queremos chegar. A aí reside, seguramente, uma das fontes mais vigorosas da angústia destes tempos de começo do Século XXI.

UTOPIAS

Onde queremos chegar? O Mundo Ocidental, desenvolveu-se na esteira das utopias, consideradas enquanto conjunto de valores e de práticas capazes de mover o Homus Sapiens rumo ao que se convencionou chamar de vida feliz, que no plano econômico foi sintetizada pela busca do bem-estar social. Foi isso que motivou o Renascimento, que com o desabrochar do conhecimento trazido pelo Iluminismo, resultou na expansão do comércio entre povos e do alargamento das fronteiras entre territórios. O mundo imaginado pelo mercantilismo apontava para uma sociedade humana mais rica e provida de bem-estar através do comércio entre os povos.

A RIQUEZA DAS NAÇÕES

Adam Smith, o pensador inglês, lançou as bases fundamentais para mostrar que o caminho da felicidade do Homus Sapiens, não estava no comércio, mas na produção de bens e serviços que ele próprio era capaz de fazer, quando escreveu sua monumental obra, a “Riqueza das Nações”. A partir das ideias de Smith e de seus seguidores, a sociedade dos humanos saiu em busca da utopia de que o bem-estar social só seria obtido através da produção humana. Tudo isso desaguou no plano político, no liberalismo, e no campo econômico da Revolução Industrial, que marcou o desenvolvimento planetário dos últimos quatro séculos.

EFEITO PERVERSO 

O Mundo resultante desta crença na produção, e no liberalismo, como utopias, resultou num mundo mais rico materialmente e com valores de respeito aos humanos mais arraigados. Apesar da riqueza material, a sociedade humana engendrada pelo liberalismo e pela revolução industrial teve um efeito perverso na forma de uma revoltante desigualdade na repartição das riquezas geradas, produzindo cinturões de miséria entre os países. E dentro deles, uma abastada elite se contrapõe a cordões de milhões pobres e miseráveis. A violência virou consequência desse esgarçamento do tecido social, que veio desaguar em uma nova utopia, que surgiu entre o final do Século XIX e quase todo o Século XX: o socialismo.

IGUALITARISMO 

Sim. A utopia do socialismo, como etapa anterior ao comunismo, foi, sem lugar a dúvida, a principal utopia que embalou o mundo do século que antecedeu o atual. Desde as ideais de Marx/Engels (final do Século XIX), passando pela Revolução Bolcheviques (1917) até a desintegração das Repúblicas Socialista Soviéticas (no final do Século XX), ¾ dos humanos, no Ocidente e no Oriente, viveram a utopia de ser possível construir uma sociedade igualitária e fraterna. Uma bela utopia que esbarrou no desmonte da experiência do socialismo real.

SEM UTOPIA

Entramos, enquanto sociedade humana, neste iniciante Século XXI sem uma utopia a ser buscada, embora vivamos tempos de gigantesca rede de comunicação entre pessoas e ainda não saibamos bem o que fazer com ela. O desenvolvimento da chamada Revolução 4.0 indica até agora uma brutal e veloz destruição de empregos, sem que seja acompanhada de proporcional crescimento de postos em atividades novas criadas pela mesma revolução tecnológica.

SEM CLAREZA

Por outro lado, a revolução de costumes, de hábitos e de valores morais ainda não sinalizaram, com clareza, que tipo de sociedade humana está em processo de criação, onde o ser humano parece estar destinado a não ser mais o centro em torno do qual todas as demais espécies existem para servi-lo, como foi sempre através dos séculos e milênios. Vivemos, sem dúvida, uma era de incerteza; milhões de humanos, decididamente, não sabem como será o dia de amanhã – e esse amanhã não se conta mais em décadas, mas em poucos anos – com  essa veloz destruição de ocupações tradicionais.

SEM CONSENSO

Talvez por isso estejamos perdendo a capacidade de buscar consensos em busca de caminhos para nos tirar a incerteza do amanhã. Veja-se o caso brasileiro. Estamos fracionados, entre contra e a favor, sem saber com clareza no que concordamos e no que discordamos. Por conta disso, as discussões descambam para as agressões baratas e destrutivas. Rigorosamente os brasileiros e as brasileiras estão sentindo falta de líderes capazes de apontar caminhos de entendimentos que levem à descoberta de que é possível encontrar pontos de interesses comuns acima das inevitáveis diferenças ideológicas. Até quando? 

RADICALIZAÇÃO 

A semana passada foi particularmente marcada pela radicalização muito própria na realidade brasileira atual. De um lado, uma parte da imprensa –exatamente aquela engajada neste movimento ambientalista internacional – faz flagrante oposição ao governo Bolsonaro e aproveita de todas as oportunidades para fustigá-lo. De outro lado, o governo reage apontando como inimigos todos os que dele discordam. Onde vamos parar?