Opinião

Opiniao 04 02 2020 9727

Pizza de quê?

Rodrigo Alves de Carvalho* 

Era um dia decisivo naquela pequena cidade do interior. A câmara de vereadores iria votar o impeachment do prefeito, que todos sabiam se tratar do maior corrupto da região. Porém, todos sabiam também que a maioria dos vereadores era de aliados políticos do prefeito em questão e já eram favas contadas como o chefe do executivo seria inocentado de todas as acusações pela maioria dos edis.

O presidente da câmara abre a sessão:

– Senhores vereadores, estamos aqui hoje para votarmos a cassação ou não do nosso nobre prefeito. Vou dar a palavra aos colegas para que comecem as discussões.

O primeiro a falar foi o líder do governo:

– Nobres colegas, aqui reunidos, sinceramente acho desnecessário dizermos mais alguma coisa a respeito dessa sandice que é a cassação de nosso estimado e venerado prefeitão. Tanto a oposição quanto nós da situação sabemos que a votação será favorável ao prefeito e por isso digo que se encerrem os trabalhos e vamos logo ao que interessa, que é a pizza!

Os vereadores se entreolharam concordando. O líder da situação continuou:

– Proponho aqui aos nobres colegas que peçamos logo pizzas de mussarela, que particularmente acho as mais gostosas!

Nesse instante o vereador da oposição se levanta enfurecido:

– Isso é um absurdo! É o fim do processo democrático! Onde já se viu num país como o nosso, em uma cidade como a nossa, ouvir tamanho absurdo como o nobre colega líder do prefeito acabou de proferir! Não se diz pizza de mussarela e sim pizza de mozzarella!

Um outro vereador discorda veementemente:

– O nobre colega da oposição deve achar que mora na Itália. Não se diz mozzarella, e sim moçarela!

Os ânimos esquentam e os vereadores começam a falar ao mesmo tempo. O presidente da câmara intervém:

– Senhores! Senhores! Por favor, vamos manter o decoro! Cada um no seu lugar! Eu sei que a questão é delicada e todos nós estamos com fome, mas temos que chegar a um consenso antes que a pizzaria feche!

Entretanto, a discussão aumentava cada vez mais até que o vereador sem partido, que sempre ficava em cima do muro, pede a palavra:

– Senhores, temos que concordar que essa discussão não nos levará a nada e ao invés de pedirmos pizzas de mussarela ou mozzarela ou moçarela, por que não pedimos pizzas de calabresa?

Todos concordaram e a sessão foi encerrada para comerem as pizzas.

 Nota do autor: Segundo os dicionários, as formas adequadas de escrever são: Mozarela ou Muçarela.

 *Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

É POSSÍVEL SER POBRE E SER FELIZ?

Wender de Souza Ciricio*

Antes de ponderar sobre o pobre e a felicidade se faz necessário conceituar esse sentimento que é a obsessão e desejo ardente de todos os seres vivos no planeta terra. Sendo assim, entende-se que a felicidade é o estado de leveza, de prazer, de paz e de tranquilidade que homens e mulheres procuram encontrar no decurso de suas vidas. Felicidade não é ausência de problemas, afinal eles existem, mas a capacidade de encarar os problemas com maturidade a ponto de não permitir que os mesmos ofusquem a felicidade tão desejada e esperada.

No mundo do pobre não há frieza e masoquismo suficiente para não desejar a felicidade. O pobre, que é considerado assim por não ter as condições financeiras que o ajudem a ter os bens básicos de sobrevivência, quer ser feliz, viver em meio à paz e apresentar um largo sorriso.

O objetivo nessa fala não é fazer uma apologia à pobreza e defender que se deve estacionar nesse padrão e estilo de vida, mas esquadrinhar o coração de quem vive nesse contexto e entender se é possível ser feliz nesse formato ou nessa estrutura que muitas vezes é provocado por injustiças sociais, falta de oportunidades e tantos outros motivos. E sem “escapulir” a ideia central, o que melhor responde a essa questão é saber onde está essa felicidade. Se ela existe, onde podemos achá-la?

A sociedade tem por anos e anos construído um conceito de felicidade sempre direcionada para bens, posse, recursos econômicos para, assim, ter poder de compra e com isso conquistar luxo, glamour e status. Isso significa que ser feliz dentro de uma sociedade materialista é desfilar nas ruas com um carro caríssimo, ter roupas de grifes, smartphones de ponta e casas requintadas e luxuosas. Ter ou possuir é a essência da felicidade.

O complicado é que se a felicidade está atrelada à posse, como ficam 55 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza? Seriam todos infelizes? Alguns anos atrás alguns países europeus passaram por uma severa crise econômica. Iniciada em maior dimensão na Grécia, atingiu também Espanha, Portugal e outros países. Na Itália, um fato chamou a atenção do mundo, ou seja, alguns empresários, ao falir devido à crise, cometiam suicídio. Essa forma de romper com a vida seria para Émile Durkheim, um dos pais da sociologia, o suicídio anômico que é causado por não conseguir lidar com crises advindas da sociedade. Esses empresários deram fim a suas vidas porque viam no sucesso empresarial, na posse e nos bens, a causa de felicidade. Imaginem se 55 milhões de brasileiros distantes da posse e abaixo da linha de pobreza cometessem suicídio.

O fato é que o endereço da felicidade não é essencialmente a posse ou os bens e a riqueza. Pobres conseguem ser felizes e muitos de fato são felizes. Vim desse mundo e fui feliz enquanto lá estive. Minha mãe driblava nossas carências com uma culinária simples e criativa e éramos felizes com muito brilho nos olhos. A felicidade legítima é a posse da dignidade, da honestidade e da coragem de lutar para superar as adversidades. Os pobres se garantem
com a costelinha assada aos finais de semana e desfrutam da leveza ouvindo sertanejo e forró sem se preocupar com a dívida dos cartões de créditos e com a cobrança de largos empréstimos. Andam de bicicleta e cumprimentam seus vizinhos, afinal suas casas não são cercadas por muralhas e cercas elétricas, assim conseguem olhar nos olhos dos vizinhos e contar piadas e de vez em quando até orar juntos conforme seus credos religiosos. Obviamente desejam crescer materialmente, mas não para serem felizes porque para a eles a felicidade não depende desse detalhe. Ela já é parte integrante de suas vidas. Existem exceções, é claro, afinal a televisão insiste em dizer para esses alguns que ser feliz é ter e para ter precisa do dinheiro que muitos não têm, daí a frustração e a tristeza. Porém insisto e finalizo: dentro de um conceito nobre de felicidade, sem qualquer relação com bens, é possível ser pobre e ser feliz, felizmente.

*Historiador, psicopedagogo e teólogo

fone (95) 98112.6086

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Domine os tropeços

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A vida é para quem topa qualquer parada. Não para quem para em qualquer topada.” (Bob Marley)

Não permita que sua mente fique nadando em águas turvas de pensamentos enlodaçados. Faz alguns anos que um dia cheguei a São Paulo e meu irmão foi me pegar no aeroporto. No caminho, quando passávamos por uma banca de jornal, ele reduziu a marcha do carro e me perguntou:

– Quer ler algum jornal? Vamos comprar.

Estranhei a pergunta, porque ele sempre fora assinante de jornal. Comentei isso e ele respondeu:

– Não, é que sempre que quero me atualizar fico, pelo menos, quinze dias sem ler jornal nem ver televisão.

Ri concordando com ele. Nada mais embaraçador para a mente do que você ficar dias e dias assistindo à televisão, que atualmente está perigosa. Nada contra a comunicação, mas temo o desastre que as notícias espalhafatosas podem agitar na mente de quem não está preparado para entendê-la. Pensando nisso, ainda há pouco, pensei no pensamento do “Barão de Itararé:” “A televisão é a maior invenção da ciência do século XX, para imbecilizar a sociedade.” Já refleti várias vezes, quando tentei publicar esse pensamento do Aparício Torelly, por considerá-lo meio agressivo. E olha que o cara foi um dos maiores jornalistas brasileiros.

Infelizmente temos visto, e isso vem de longas datas, uma tendência maléfica da imprensa para a política. E o pior é que nem sempre se trata de uma política partidária. Vamos prestar mais atenção a isso. Ontem, no café da tarde, aqui em casa, começou uma conversa sobre o problema que a polícia está encontrando para lidar com o bandido, na rua. E o maior problema não é o marginal, mas o público. Vá refletindo sobre isso. Dia desses me preocupei, e muito, mas silenciosamente, com uma demonstração de descaso ao trabalho da polícia, exibido pela televisão, no final de uma novela. Os policiais prenderam um criminoso que havia cometido vários assassinatos. Um grupo de funcionários de uma empresa assistia à prisão. Os policiais pararam e permitiram que os funcionários xingassem o preso e, numa discussão acirrada, uma mulher aproximou-se e cuspiu na cara do preso. Um mau exemplo que, sobre o qual, a polícia bem poderia reclamar do autor da novela. Não sabemos qual o número de pessoas que aplaudiram a atitude ilegal da cuspidora.

O ser humano é inclinado a aprender com os maus exemplos. E os educadores ainda não ensinam aos que devem educar que, quando o elemento é preso, fica sob a tutela e proteção da justiça. E isso é uma topada que tem parado a educação da população. A Educação é o único problema do nosso querido e desprezado Brasil. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460