Opinião

Opiniao 06 07 2020 9740

As três peneiras de Sócrates

Flamarion Portela*

Cada vez mais estamos expostos às famosas fake news, aquelas notícias falsas que são proliferadas, sobretudo em redes sociais ou grupos de bate-papo pela internet.

Na maioria das vezes, essas notícias são direcionadas a prejudicar alguém, uma empresa, uma personalidade, um político e por aí vai.

E elas são disseminadas sem o menor critério pela maioria das pessoas que as acessam, sem o mínimo cuidado de checar se aquela informação é verdadeira.

Esse fenômeno mundial parece não ter fim, o que nos traz uma preocupação ainda maior, já que cada vez menos as pessoas estão preocupadas umas com as outras e com os efeitos que essas fake news podem ter em suas vidas.

Mas, as fake news não estão apenas nas redes sociais. Elas se fazem presentes no dia a dia das pessoas há muito tempo. São aqueles comentários maldosos, as fofocas.

Isso me trouxe à memória um ensinamento atribuído ao filósofo Sócrates, que aqui compartilho com os amigos leitores.

A mensagem, denominada “As três peneiras”, nos mostra a importância de checarmos a veracidade da informação antes de passá-la à frente. Confira!

“Na antiga Grécia, Sócrates era considerado um grande sábio. Um dia um homem foi visitá-lo e disse: “Sabe o que me disseram sobre o seu amigo?”

“Espere um pouco”, disse Sócrates. “Antes de me contar quero te colocar à prova, com o teste das três peneiras. Antes de escutar algo sobre as outras pessoas é sempre melhor filtrar o que é dito.

A primeira prova consiste em dizer a verdade. Você tem certeza de que aquilo que dizem do meu amigo é verdade?

“Não, apenas me disseram!”.

“Então, você não sabe se é verdade”, questionou Sócrates.

“Passemos para a segunda prova, aquela da bondade. Aquilo que você quer me dizer sobre o meu amigo é algo de positivo?”

“Não, muito pelo contrário!”   

“Muito bem! Então você está me contando coisas negativas sobre ele, mesmo que você não tenha certeza que sejam verdadeiras? Vamos ver se você consegue passar a terceira prova da peneira, aquela da utilidade. Aquilo que você vai me dizer sobre o meu amigo é útil para mim?”

“Não, na verdade não!”

“Então, aquilo que você quer me contar não é certo, nem bom, nem útil? Por que você queria me contar então?”, disse Sócrates.

Esta história nos ensina que vivemos de muitas fofocas que não fazem nada mais que nos provocar problemas e momentos ruins. Por isso, temos de enfrentá-las da maneira melhor.

Tente colocar em prática esse tipo de filtro. Antes de contar algo de alguém aos outros. Se todos conseguíssemos usar esta peneira viveríamos uma vida melhor e em uma sociedade melhor.

*Ex-governador de Roraima

Saúde Pública: A má distribuição de recursos

que frauda o sus e patrocina maus gestores

Luis Cláudio de Jesus Silva*

O Brasil implantou o Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores, senão o maior, programa de saúde pública do mundo, com atendimento integral e gratuito a todos que vivem no país, atuando desde a saúde preventiva básica, com os agentes de saúde, médicos da família, campanhas de vacinação e outros inúmeros programas, passando pelos atendimentos de baixa, média e alta complexidade – o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo.

Não obstante todos esses avanços e acertos, a saúde no Brasil continua precária, as doenças evitáveis continuam endêmicas; doenças que estavam erradicadas ressurgem aqui e acolá; a espera por uma consulta, uma cirurgia ou um transplante continua por meses e, em muitos casos, por anos; a falta de leitos nos hospitais é crônica e estrutural, amontoando de forma desumana e precária os doentes nos corredores dos postos médicos e hospitais em todos os cantos do país. Penso que os problemas não estão somente na formulação das políticas nacionais de saúde pela União, mas também, e principalmente, na forma de distribuição dos recursos aos municípios, onde deveriam ocorrer as ações de saúde preventiva, primária, básica e de baixa complexidade. O modelo atual de distribuição dos recursos é o principal promovedor de doenças e o patrocinador das mazelas que vivenciamos no sistema de saúde pública nacional.

Para entender a afirmação acima, devemos pontuar que, em princípio a distribuição de recursos na área de saúde é feita de forma justa e proporcional entre estados e municípios. No entanto, a União e os Estados, ao elaborarem seus orçamentos anuais, reservam parte significativa de recursos para eventualidades que possam surgir e demandem socorro financeiro, são as chamadas contingências orçamentárias. Destas reservas saem os créditos adicionais ou extraordinários, que invariavelmente são destinados para Estados e Municípios que vivenciam situação de ‘calamidade pública’, ocasionados por desastres naturais, epidemias de doenças e outros acontecimentos não previstos e que demandam o socorro financeiro imediato dos governos estaduais e/ou federal. Este instrumento, que deveria ser a solução, se transformou no próprio problema ou no seu maior patrocinador. Ocorre que, dinheiro nunca é demais e cada um dos entes federativos constantemente usam estratégias para aumentarem suas receitas e, uma das possibilidades é por meio do socorro financeiro de Estados ou da União, sendo que uma das formas de acessar esses recursos se dá nos casos de “situ
ações excepcionais”, como calamidade pública decretada, também em casos de agravamento das crises no sistema saúde pública. Se considerarmos que, na ocorrência destes casos a execução dos gastos públicos pode ser feita com dispensa de licitação e outras facilidades, está formado o ciclo vicioso que além de estimular o caos na saúde – e em outros setores –, tem potencial de promover, também, a corrupção.

Imaginem o prefeito de um pequeno município, que invista de forma séria e eficiente na gestão da saúde preventiva, patrocinando políticas públicas de saneamento e educação sanitária; que promova atendimento de qualidade nos postos de saúde, com campanhas de vacinação e atendimento da comunidade por médicos da família e agentes de saúde; que valorize os cuidados pré e pós-parto; a atenção à primeira infância e à terceira idade, e que, desta forma, alcance índices invejáveis na promoção da saúde. Infelizmente, este município terá que se virar com os poucos recursos que dispõe, pois não terá dos governos estadual e federal nenhum estímulo ou incentivo que premie financeiramente sua gestão.

Muito pelo contrário, por ter feito o dever de casa, seu município terá menos recursos circulando na economia local, menos investimentos e menos emprego para sua população. Por outro lado, no município vizinho, onde o prefeito é omisso e negligencia os cuidados com a saúde, vive decretando estado de calamidade e recebendo vultosos recursos financeiros, como socorro do Estado e da União, pode não ter a saúde do primeiro mundo, mas tem mais recursos para investimentos, gerando empregos e, na maioria dos casos, financiando a corrupção.

O estado brasileiro precisa urgentemente reformular as políticas de distribuição de recursos e adotar mecanismos que estimule as boas práticas e premie a eficiência na gestão pública, sob pena de continuar patrocinando os maus gestores – e fraudando o SUS.

*Professor universitário, Doutor em Administração.

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Vamos à vassourada

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Somos o único caso de democracia em que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram.” (Joaquim Barbosa)

Fevereiro chegou. Pedrão está lavando a casa lá encima e jogando a água sobre nós. Mas não vamos nos afogar no lamaçal de ignorância. Aí vêm as próximas eleições, e parece que não estamos preparados pra elas. Então vamos fazer nossa parte preparando-nos, para não continuarmos cometendo o mesmo erro secular. Mesmo sabendo que estamos sendo repetitivos, vamos repetir para aprender nas repetições. O Miguel Couto nos mandou o recado há setenta anos: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo.” Então vamos acordar e exigir mais, dos nossos políticos, ações na Educação. Ou nos educam ou continuaremos títeres dos mal-educados.

Recentemente assistimos a uma entrevista com um dos maiores atores, e produtores, do teatro e da televisão. Não pude deixar de sorrir com a semelhança da fala dele com a de outro grande cantor nacional. Os dois já foram deputados federais no Brasil. E décadas depois, o segundo disse a mesma coisa que o primeiro falou, pela televisão, sobre nunca mais voltar à política, pela decepção que sofreram durante os mandatos. Mas não vamos rir, e considerar o fato, enquanto sorrimos para nós mesmos. Porque os que primeiro devem mudar somos nós, eleitores. Afinal, somos nós, os responsáveis pelo que queremos evitar, mas não sabemos como.

Reflita um pouco, depois um pouco mais, sobre o problema que temos em nossas mãos e não sabemos que temos. Mas é simples pra dedéu. E comecemos exigindo dos políticos, maior ação na Educação. Porque sem ela não teremos cultura nem sociedade culta. O mundo está evoluindo sem a evolução dos responsáveis por ele. O que gera bagunça. O volume de informações que recebemos diariamente é assustador. E isso porque não estamos preparados para a análise que devemos fazer sobre elas.

Vamos nos cuidar, porque não estão cuidando de nós. Ainda não aceitamos a verdade de que a educação começa no lar. E se considerarmos que não nos educaram, temos que nos educar para educar nossos filhos e netos. E o balaio está cheio. Os caranguejos estão encontrando dificuldade para sair da encrenca. E nós somos os caranguejos. Pelo menos é o que somos considerados pelos que deveriam nos educar para um mundo em acelerada evolução. Não venda seu voto nem o dê sem considerar a competência política do seu candidato nas próximas eleições. Não se esqueça de que você é responsável pelo resultado do trabalho dele, depois de eleito. Não vote no candidato só porque ele é bonito, simpático e bom falador. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460