Bom dia,

Difícil não comentar a passagem do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) por Boa vista, na manhã do último sábado (07.03), quando o avião presidencial teve de fazer um pouso técnico para reabastecimento, quando seguia para a cidade norte-americana de Miami, no estado da Flórida (EUA). Muita gente criou enorme expectativa sobre o discurso de Bolsonaro, num galpão improvisado para receber a comitiva presidencial na Ala 7, que é como vem sendo chamada a antiga Base Aérea de Boa Vista. Essa expectativa foi maior ainda quando autoridades locais alimentaram a informação de que o presidente receberia documentos sobre a realidade local, com demandas específicas.

Quem alimentou tal expectativa pode ter saído decepcionado com o conteúdo dos discursos pronunciados pelo presidente; pelo ministro das Minas e Energia, almirante da reserva Bento Albuquerque; pelo superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus, coronel da reserva Alfredo Alexandre Menezes Júnior; e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Augusto Heleno; e do general Antônio Manoel de Barros. Todos, inclusive Bolsonaro, falaram de coisas e fatos já conhecidos amplamente pelos roraimenses. Nenhuma novidade, inclusive a mais objetiva delas que foi a divulgação de um calendário estabelecido para o início das obras de construção do Linhão de Tucuruí.

E não se queira responsabilizar o Palácio do Planalto pela expectativa frustrada. Desde o anúncio da passagem presidencial por Boa Vista, o próprio presidente fez questão de anunciar que o breve encontro com autoridades locais, políticos e militantes do bolsonarismo seria organizado por um militante chamado Deilson Bolsonaro, que não é parente do presidente, mas adotou seu nome de família para tentar alavancar sua candidatura a deputado federal nas eleições de 2018. E de fato, essa foi a natureza daquele encontro na manhã de sábado. Uma oportunidade para o presidente mandar recados.

RECADO 1

Dentre os recados que o presidente mandou no encontro de sábado em Boa Vista, o mais explícito e direto foi a declaração inequívoca de seu apoio às manifestações populares que estão sendo programadas para o próximo dia 15 de março, especialmente em Brasília. Bolsonaro não só defendeu o movimento, como convocou a população a participar dele. Interpretado por muitos, principalmente a oposição, de que se trata de mobilização contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, vários integrantes desses dois poderes fizeram pronunciamentos e notas condenando o compartilhamento que Bolsonaro fizera sobre o movimento. Em Boa Vista, ele foi mais direto. Chamou o povo para as ruas, e ainda arrematou dizendo que político que tem medo de povo nas ruas, não pode sê-lo.

 RECADO 2

A caminho dos Estados Unidos, onde mora o guru de muitos de seus auxiliares, inclusive do próprio presidente e de seus filhos, Bolsonaro parece ter mandado um recado muito direto ao intelectual Olavo de Carvalho. Ao chamar o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para falar no encontro do último sábado, em Boa Vista, o presidente da República disse com todas as letras que ninguém em seu governo decide qualquer coisa antes de conversar com Augusto Heleno, que foi um dos mais destacados comandantes militares da Amazônia. Olavo de Carvalho tem sido um crítico mordaz e contumaz dos militares chamados para compor o governo Bolsonaro, especialmente contra o general que chefia do GSI.

RECADO 3

Faz algum tempo, um cientista político disse aqui, na Parabólica, que o governo do estado e seus aliados parlamentares federais deveriam ir se convencendo de que o governo Bolsonaro teria um olhar diferenciado para Roraima, até pela geopolítica, mas a ação do governo federal se daria através de apoio às unidades militares sediadas no estado, cujos dirigentes são considerados mais confiáveis pelo Palácio do Planalto. O destaque aos resultados e anúncios de metas de interiorização de venezuelanos, prevista para 36 mil em 2020, dado no breve encontro do presidente com os que foram no sábado à Ala 7, deixou indícios bem fortes de que o cientista político pode estar com a razão.

RECADO 4

Embora tivesse avisado com antecedência que durante o encontro com autoridades locais e militantes, no período em que estivesse em solo aguardando o reabastecimento da aeronave que o conduzia a Miami, a palavra não seria dada a qualquer autoridade estadual, inclusive, ao governador Antonio Denarium (sem partido) e a parlamentares, o próprio presidente chamou ao microfone para falar o índio Macuxi Jonas Marcolino, que começou sua carreira política como professor na Comunidade do Contão. Marcolino também foi citado pelo general Augusto Heleno, indicativo de quais canais o governo Bolsonaro prefere utilizar para ouvir sobre a realidade de Roraima. Jonas Marcolino, que é bacharel em direito, disse que Bolsonaro é a esperança aguardada faz muito tempo pelos índios roraimenses.