Seja você vereador
Linoberg Almeida*
Vai ver como desde o comecinho eu tinha certeza de que era para ser um mandato de quarto anos, intensos e único, tem sido uma experiência de educação política convencer as pessoas de que elas assumam o papel de vereador na cidade. O “ajude-me a ajudar-lhes” tem que virar ajudemo-nos, uns aos outros, para não cair na farsa dos que tudo sabem, tudo resolvem, ou do ser representado te eximir de corresponsabilidades.
Antes de mais nada, pare de adorar políticos. Sempre achei péssima escolha idolatrias por quem é ou está servidor público. Isso não significa não admirar trabalho, posturas. Até tenho amizade com alguns mas, venerar é onde mora o perigo. Critico, não julgo, atitudes diferentes, pois a faço contextualizada. Elogio também, quando merecem. Pode parecer confuso, mas somos vítimas desse lugar em que se misturam Estado e Governo, público e privado, numa facilidade que torna a vida um grupo de WhatsApp deflagrado.
Sábado fui até ao Jardim Floresta atraído por denúncias de quem ouvia motosserra no tronco de árvore. Moradores, 156, 190, Secretaria Municipal, fiscais ambientais, vereador, policiais da Companhia Independente de Policiamento Ambiental da Polícia Militar de Roraima, guardas municipais de Boa Vista trabalhando juntos pois cortar, derrubar, ou sacrificar árvore sem autorização pode ser considerado crime. Mas, por uma árvore? Não. Por 5 árvores, por respeito às leis, à cidadania, por equilíbrio da temperatura, pela sombra de pedestres dali, pela casa dos pássaros caída no chão, pela diminuição de ruídos e da poluição atmosférica. Já propus até plano de arborização na indicação n.º 234/ 2019, mas cabe à prefeitura acatar.
“Não tem outra coisa para se preocupar não?” ou “em época de eleição qualquer cachorro aparece” são exemplos de como o lugar do vereador na política brasileira precisa de esforço coletivo e um mandato só não dá conta. Tenho Montesquieu e o “Espírito das Leis” em mente. A razão deve mover aquele que se pauta pelo equilíbrio entre poderes. Essa moderação com fiscalização é que fortalece a democracia. Estamos acostumados com o “acabar” com a corrupção para moralizar a coisa pública, mas isso não existe. Nos resta a eterna vigilância.
A corrupção não acaba, pois ela é inerente a uma moral vigente. Pense no sujeito que eventualmente estaciona em vaga de pessoa com necessidades especiais sem as ter. Pense em sinais de favorecimento à empresa ganhadora da dispensa de licitação de cestas básicas em detrimento a outras empresas locais; no preço maior das cestas se comparado ao praticado pelo mercado; na composição da cesta em descompasso com a situação de emergência em saúde pública; na existência de débitos trabalhistas; na renovação de alvará da vencedora no mesmo dia do projeto básico que definiu a compra das cestas; na falta de clareza na divisão entre público e privado das cestas adquiridas com dinheiro público e das feitas com itens doados. Ficar calado ou agir para esclarecer num assunto sensível?
Fazer valer os artigos 29 a 31 da Constituição é bem mais fácil no discurso que na ação. “Não vi você dando cestas do seu salário!” Em dias tão conturbados, os valores foram trocados e o bem, que deveria ser algo natural, se torna raro e só vale com interesse. A caridade em benefício próprio para levar vantagem na promoção realizada não me atrai, pois “não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita” (Mateus 6:3). O legalismo da função pública previne que ao não ter trabalho para mostrar se conquiste pela emoção, em detrimento da razão.
Há 424 dias tenho um pedido oficial de cassação do meu mandato como vereador. Sabe, fazer a coisa certa sempre tem um preço. Ir contra interesses de quem se apossa da coisa pública sem gostar de ser questionado também. Resistir e insistir num caminho diferente pode ser a semente para que você tope o desafio de reinventar a democracia, esse projeto em construção. Seja você mesmo. Faça você mesmo.
*Professor e Vereador de Boa Vista
O bicho tá pegando
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo.” (Miguel Couto)
Estamos revivendo a reviravolta de sempre. Ela vem, vai, volta e não sabemos nos defender. Nada mais significativo para o pensamento do médico Miguel Couto, do que a chegada do corona. Somos um país com mais de duzentos milhões de habitantes e não conseguimos cuidar da saúde da população. Os maus políticos estão batendo palmas por a população ficar, tolamente, botando a culpa no vírus, quando a culpa é dos que não cuidam da saúde. Não há nada que justifique cidades como São Paulo, e Rio de Janeiro, por exemplo, não terem condições de atenderem os atingidos pelo vírus. Imaginem se em vez do vírus viesse um ataque bélico de algum país adversário. Como iríamos proteger as vítimas?
Vamos parar de gritar e culpar a doença, quando deveríamos cobrar das autoridades a atenção para nos protegerem. Porque a proteção ao público não é um favor, mas obrigação e dever. Afinal de contas o dinheiro que deveria estar nos protegendo, e sumiu, é nosso. O que não sabemos é o que é feito com ele. E ninguém está nem aí para analisar o problema como ele deve ser analisado. E isso porque nos falta a educação necessária, que nos valorize, preparando-nos para as crises, quando elas forem formadas. Porque a crise atual não está no coronavírus, mas em quem não tem competência para encará-lo.
Vamos cuidar de nós mesmos, já que os que são pagos para cuidar não cuidam. Vamos pensar mais na nossa responsabilidade pelo País que temos. Porque se não cuidarmos dele, ele não cuidará de nós. Seremos sempre filhos “do país dos macacos”. Porque foi assim que fomos vistos durante décadas e décadas, pelos desenvolvidos que não nos conheciam. Vamos pensar e respeitar mais a nossa política. O pedido de demissão do Sérgio Moro é a lampadazinha indicando o farol, no qual colidiremos se não nos educarmos e prestarmos atenção para a importância que isso tem.
Quem viveu e prestou atenção à política dos anos anteriores aos anos sessentas está me entendendo. E tomara que você tenha vivido aquele momento. Porque estamos e continuamos repetindo os mesmos erros de espertos que pensam ser expertos. Mas o pior é que também não somos.
Vamos sair de detrás da porta. Vamos parar de ficar esperando e tentando fazer o que os outros fazem, para sermos considerados a eles. Não podemos viver as crises dos outros, porque não sabemos cuidar das nossas. Então vamos nos educar sermos um povo digno do País que temos. Porque a dignidade dele depende da nossa. Vamos limpar nossa política. Temos que ter cuidado com o que fizermos. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460