Opinião

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Além da ribalta

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva a vida intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” (Charles Chaplin)

Vamos iniciar o novo mês esquecendo, ou deixando de lado, os atropelos que vivemos no mês que passou. O que passou, passou. O importante é que saibamos viver o futuro, desfrutando o que plantamos no passado. E por isso devemos ser cautelosos no que plantamos. Simples pra dedéu. Sabemos que estamos no palco da vida por toda a vida. Mas devemos ser cuidadosos no nos aproximarmos da ribalta. É nela que corremos o risco de cair e servirmos de galhofa para o público. É na apresentação que fazemos, ou não, jus ao aplauso.

Vamos trabalhar no aperfeiçoamento da humanidade. A Cultura Racional, no livro Universo em Desencanto nos diz: “O ser humano é o animal mais hediondo sobre a Terra, por conta dos crimes que comete contra a Natureza.” E o que nos parece um pensamento contundente, não é mais do que a realidade do ser humano. O que nos leva à insensatez de acreditarmos mais no negativo do que no positivo. Passamos maior parte de nossos dias ouvindo, aplaudindo e nos preocupando mais com as desgraças que, queiramos ou não, fazem parte da vida.

Todos nós, independentemente de religião, grau social ou crença, somos dependentes do negativismo. Passamos maior parte de nossas vidas lutando contra os problemas, mas sem pensar nas soluções. Estamos esperando, sempre, que Deus faça por nós o que nós mesmos deveríamos fazer. E não o fazemos porque não acreditamos em nossos poderes como seres de origem racional. Ainda nos aceitamos como animais considerados racionais, mas que não raciocinam. “O reino de Deus está dentro de nós.” Mas não somos dignos de mantê-lo como uma força benéfica para a nossa evolução.

O Henry Ford tem uma frase simplíssima, mas muito importante: Se você acha que pode você está certo. Se acha que não pode, está igualmente certo.” Ninguém tem o poder de fazer por você o que você mesmo, ou mesma, tem o poder de fazer. Ninguém, além de você mesmo, tem o poder de fazer você se sentir feliz, ou infeliz, se você não estiver a fim. Tudo depende de sua reação diante do acontecimento. Parece repetitivo, mas olhe-se no seu espelho interior e veja-se como, e quem você realmente é. Porque só ele tem o poder de mostrar você a você. Quando se sentir magoado por ter sido enganado por alguém, pergunte ao seu espelho interior: ele me enganou ou eu me enganei com ele? Em qualquer das respostas, você vai se sentir um tolo, ou tola. Aí sorria e encerre o assunto. Pense nisso.

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Covid-19 e o isolamento social

Especialista em Saúde Pública e Infectologia atualiza cenário da pandemia e reforça a necessidade da quarentena

Por Paula Carnevale*

23 de abril de 2020 – Um artigo publicado em março na revista Science mudou a compreensão da pandemia provocada pelo coronavirus SARS-CoV2, o vírus respiratório emergente causador da Covid-19. Os autores, usando modelagem matemática e espacial, combinaram dados epidemiológicos (casos notificados), demográficos e de deslocamento (viagens por avião) para estimar a transmissibilidade do vírus, fornecendo um modelo explicativo fundamentado para a rápida transmissão da doença que, em três meses, atingiu todos os continentes. O estudo avaliou a transmissibilidade e a proporção de infecções não documentadas antes e depois da proibição de viagens com partida e/ou destino de Wuhan, e atualizou o conhecimento proveniente de estudos iniciais, que indicavam que a infecção era transmitida apenas por pessoas sintomáticas. Segundo os pesquisadores, mais da metade dos casos adquiriu a doença a partir de pessoas não sintomáticas. Isto explica a rápida disseminação da Covid-19, graficamente observada por uma linha que cresce exponencialmente no tempo, desenhando picos muito altos quando o vírus atinge uma nova localidade (cidade, estado, país).

O Brasil, até o momento, segue esta curva exponencial de crescimento: casos estimados e confirmados. A transmissão por assintomáticos explica também porque as medidas de supressão de deslocamentos e de quarentena modificam a forma da curva, com redução do pico. Em meio a tantas incertezas sobre a doença, há um consenso: devemos achatar a curva de novos casos, ou seja, ter menos pessoas afetadas em um curto período, para diminuir a pressão sobre o sistema de saúde. Se isso ocorrer, a epidemia vai durar mais tempo, mas teremos menos pessoas precisando de serviços de urgência em um curto intervalo de tempo e, portanto, mais possibilidade de oferecer a assistência adequada a quem, de fato, precisa.

No decorrer do tempo, as pessoas com quadros leves e moderados se curam, e, junto às assintomáticas, ficam imunes ao vírus: menos pessoas estarão suscetíveis e isso levará ao final da curva epidêmica. A publicação e análise comparativa dos dados de casos diagnosticados e óbitos, bem como das medidas de controle implementadas em outros países, principalmente China e Itália, mas também Espanha, Inglaterra e Alemanha justificam as medidas de afastamento social propostas pelo Ministério da Saúde, em implementação no Brasil. Esta é a principal medida que temos para conter a epidemia: isolar, evitar o contato social. Distanciamento social, isolamento e quarentena são medidas fundamentadas e cada vez mais restritivas para conter a Covid-19. Fiquemos em casa!

As medidas iniciais no Brasil foram de isolamento domiciliar para casos suspeitos e confirmados, a seguir, estendidas a casos prováveis (pessoas que tiveram contato com casos confirmados), ou possíveis (viagens a áreas de risco). Esta recomendação de isolamento domiciliar, com os primeiros casos identificados, se estendeu aos idosos, principal grupo de risco. No dia 20 de março, o Ministério da Saúde reconheceu a transmissão comunitária do vírus (quando o vírus circulando) em todo o território nacional. Este é o momento de aplicar o distanciamento social e isolamento domiciliar a todas as pessoas.

No Vale do Paraíba, Taubaté e São José dos Campos adotaram essas medidas. Se essas medidas são exageradas ou oportunas, o tempo dirá. No momento, com o conhecimento disponível, são medidas justificáveis para a proteção da população e melhor equilíbrio entre a oferta de leitos e a estimativa de casos graves. Os Governos terão o desafio de implementar medidas na área da saúde, garantindo a suficiência de equipamentos (testes diagnósticos, desde sorologias e testes de laboratório a exames de imagem; equipamentos de proteção individual para os profissionais), estrutura (organização da rede de atenção primária, com enfoque na medicina de família; leitos hospitalares e de UTI), treinamento, suporte e logística (como transporte) e pessoal, uma vez que os profissionais de saúde são, junto aos idosos, o principal grupo de risco para a doença.

*Paula Carnevale é especialista em Saúde Pública, doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo, mestre em Infectologia pla Universidade Federal de São Paulo, onde também formou-se médica. Atualmente é coordenadora do curso de Medicina do câmpus São José dos Campos da Universidade Anhembi Morumbi.