Opinião

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SINUCA DE BICO

Linoberg Almeida*

Ô pacato cidadão, te chamei a atenção nesses últimos anos não foi à toa, não. Na música “acabou a utopia”, mas aqui não deixe morrer de jeito nenhum. Estão aqueles de sempre articulados em salas frias para calar nossa vontade de mudança. Vão barganhando, minando a moral, mentes fracas se vendem com valores e acordos espúrios, pois querem é poder, né outra coisa, não.

Uns personagens indignados de outrora sumiram e, de calados, ressurgem dando apoio a quem tem base complicada. Eita, ciranda doida, que me fez ir à urna votar e depois ver meu voto na lama; dor danada me dá. Assediam por debaixo dos panos num larga lá, pega aqui, sem fim dos sempre cupins da coisa pública que ofertam empregos, cestas, combustível, favores. Depois, não adianta reclamar na fila da UBS, do desemprego, da falta de creche, do asfalto mal feito, da rua alagada ou do IPTU fermentado, já que quem promete some e ressurge em “tempo de política”. Ah, se você soubesse que toda hora é hora.

A gente tem que tomar jeito. Ouvi no rádio um dizer que a reforma tributária é coisa do congresso e do governo federal. Mal sabe ele que é urgente uma nova Política Fiscal em Boa Vista, mais inteligente, cujo objetivo deve ser ampliar a arrecadação sem promover arrocho. É repensar alíquotas do Imposto Sobre Serviços; racionalizar a cobrança do ITBI, dos Alvarás e da iluminação pública, bem como acelerar a regularização fundiária. Temos que atualizar, aprimorar, dar acesso transparente ao cadastro de todos os imóveis, com revisão do IPTU (sem aumentos) para promoção da justiça fiscal, sem burocracia.

Isto é desconto progressivo para quem fizer sua calçada, plantar árvores com apoio técnico do munícipio, preservar patrimônio histórico, valorizar sistema de reuso ou economia de água, fonte alternativa de energia e até separação de resíduos, tudo dando descontos nas taxas e impostos. Hoje, os carnês chegam e temos que pagar calados sem resposta ágil dos canais de atendimento. A coisa pública tem que garantir maior conforto ao cidadão que necessite de atendimento da Prefeitura.

Tenho ouvido muito sobre a dependência de recursos transferidos da União e do estado. Mas acabamos perdendo muitos destes valores por não possuir um sistema de acompanhamento integrado da qualidade de processos, obras, que seja completo e transparente inclusive nas transferências voluntárias, que são as verbas que vêm de emendas parlamentares, de projetos nacionais. Além da capacidade de gestão, não podemos ser dependentes de um político, que reduz o poder dos atuais representantes federais. Isso sem falar dos recursos de empréstimos e do Fundo de Participação que podem sufocar a gestão se você entregar o “ouro” a quem tu sabes bem… Sem o controle do cidadão, tudo fica na escuridão.

A cidade que vivemos e a cidade que queremos não precisam de magos, ou de quem reinvente a roda. Direitos humanos fundamentais não podem ser esquecidos e nem podemos ser enganados por uma narrativa ideológica falsa. Essa caminhada de construção democrática do nosso lugar só pode ser feita por quem não vira as costas para quem quer o bem de Boa Vista. Não deixe a memória curta apagar as vergonhas que já passamos. Não deixe a técnica e o planejamento serem esquecidos na propaganda vazia. Nossa maior aliança deve ser conosco, expurgando os melados em corrupção ou os que até ontem estiveram em silêncio. Sem saída? Ouse experimentar.

*Professor e Vereador de Boa Vista.

O PAPEL DA AUDITORIA NO RETORNO AO AMBIENTE DE TRABALHO

Paulo Gomes*

  Riscos. Previni-los e mitigá-los sempre foram missões essenciais de auditores internos. No passado, esses profissionais eram responsáveis por coordenar e avaliar os chamados Planos de Riscos Ocupacionais e de Segurança e Higiene nas áreas industrial e de produção. Com o tempo, o papel ganhou um tom mais corporativo, passaram a atuar próximos à gestão, além de se transformarem nos guardiões da boa governança.  

O zelo que emoldura a personalidade de auditores é novamente realçado nos holofotes do mundo corporativo, no momento em que a flexibilização acaba liberando empresas, em diversas partes do País, para que voltem a operar dentro de uma ‘nova normalidade’. Embora haja companhias que já anunciaram que aguardarão mais tempo para o retorno, muitas já iniciaram uma fase gradual de ativação do ambiente tradicional de trabalho, porém, o medo não foi dissipado e, nesse cenário, extremamente complexo, a auditoria interna assume papel crucial.

O auditor está sendo acionado a avaliar e acompanhar a implementação dos planos de riscos de retorno. São amplas as esferas. Envolvem um plano de comunicação integrado que informe corretamente a todos os colaboradores quais serão as medidas tomadas para esse recomeço. Eles chegarão repletas de anseios, temores e questionamentos. Tranquilizá-los, com absoluta transparência, é fator vital que deve ser monitorado pela auditoria.

Devem ser minuciosamente checados todos os procedimentos de higienização, questionários elaborados por médicos, medição de febre ao entrar na empresa, além de ser recomendado o teste de Covid-19 em todos funcionários. Entra no escopo também o transporte utilizado pelos colaboradores. Ofertar ônibus privado por um período pode contribuir na minimização de riscos.

É preciso lembrar que se trata de uma nova fase, com a integração de possíveis novos colaboradores, e avaliar se realmente será preciso toda a estrutura existente para operacionalizar a rotina de trabalho. Também é uma oportunidade para ponderar se a empresa não poderia contribuir com organizações filantrópicas, doando impressoras, computadores ou outros equipamentos ociosos.

Cabe ao auditor auxiliar, com o uso de ferramentas de inteligência artificial e Big Data, na identificação de riscos e benefícios em adotar, por exemplo, um sistema híbrido, entre home-office e presença na empresa. Analisar perdas e ganhos e disponibilizá-los com transparência à direção da companhia também é incumbência do auditor interno.

De acordo com as normas da publicação ‘IPPF’, considerada como a maior referência da profissão no mundo – elaborada pelo Instituto Global dos Auditores Internos (The IIA) – é dever dos auditores aumentar e proteger o valor organizacional da empresa onde atua, seja pública ou privada, fornecendo avaliação, assessoria e conhecimentos preventivos baseados em riscos. A pandemia toca sensivelmente todos esses pontos.

Outra questão que deve ser ressaltada é o aspecto cultural desse retorno. A auditoria no Brasil enfrenta muito mais desafios do que, por exemplo, seus colegas na Alemanha ou Nova Zelândia. Nós, latinos, por razões culturais, temos mais dificuldade em seguir regras e procedimentos rigorosos nesse momento de incertezas e que exige integridade. Cabe aos auditores terem mais carinho e um olhar mais compreensível sobre pequenas turbulências que surjam no decorrer desse processo delicado. Evidente que uma possível flexibilidade jamais pode se transformar em riscos de saúde e nem administrativos, mas vale a aplicação de uma abordagem fraterna.

O auditor vive um momento desafiador, de equilibrar seu rigor técnico na avaliação de procedimentos, com a necessidade de ser mais humano, tendo a consciência de que o mais importante é a proteção e valorização das pessoas. São elas o maior patrimônio de cada organização. Se o plano de riscos de retorno for implantado com coerência, estratégia e respon
sabilidade, com o apoio de avançados recursos tecnológicos, certamente teremos um cenário capaz de chegar muito próximo do complexo equilíbrio entre segurança sanitária e a necessidade de avançar para a nova normalidade.

A auditoria interna jamais encarou tamanho risco. É hora de usar a coragem que sempre esteve em seu DNA, a fim de transmitir confiança aos colaboradores, sendo um dos primeiros a visitar as áreas produtivas e verificando se todos os quesitos de segurança foram implementados com eficiência. É momento de fazer jus ao respeito e confiabilidade que norteiam os valores dessa profissão. 

*Diretor-geral do Instituto dos Auditores Internos do Brasil – IIA Brasil E-mail: [email protected]  

BRINCANDO COM O FRACASSO

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nossa maior glória não reside na ausência do fracasso, mas no fato de nos reerguermos sempre que fracassamos.” (Confúcio)

Sabemos que a criança que nunca cair não vai saber de levantar na queda, quando adulto. Tomando um solzinho, ali na varanda, a Salete me chamou a atenção para aquele cara. Ele lhe pareceu maluco. É o seguinte: não sei por que aqueles tubos de cimento bloqueiam parte da Avenida São Paulo. O bloqueio é para evitar trânsito de carros entre o Espaço Cultural Plínio Marco e a URA. (pronto socorro). E o motivo da chamada da Salete foi a tonteira do cara que pulava sobre os tubos.

Não deu pra eu entender o cara, mas depois entendi. Ele veio de bicicleta, parou sob a árvore, desceu e iniciou o treino. Ele subiu sobre o tubo inicial, e equilibrou-se na parede fina do tubo. Acho que respirou, e pulou para a outra parede. Repetiu o salto para a parede do tubo seguinte e para os seguintes. Virou-se e repetiu a façanha, de volta. Rimos e refleti sobre a aventura do cara. Terminou o espetáculo, apenas para a Salete e eu, já que não vi ninguém por perto, na Praça. Ele subiu na bicicleta e se mandou. E como a apresentação dele, que de fato foi legal, foi bem em frente a um pronto socorro, e um espaço cultural, pensei no que teria se passado pela cabeça do cara.

Quando ele passou ali em baixo, tentei identificá-lo, mas não consegui. Mas o mais importante mesmo é o quanto isso foi interessante pra mim. Será que ele pensou no que estou pensando? Se pensou acertou. Se acertou foi tão esperto quanto experto. Talvez ele seja um malabarista sem emprego. E pelo que vimos, ele não se interessou em se exibir, já que não havia plateia. E, com certeza, ele não se intimida com o possível fracasso. Pela habilidade dele, acho que ele já deve ter fracassado muito. E que por isso é tão seguro no que demonstrou saber fazer.

Apenas segurou-se na garantia do saber. Afinal, o pronto socorro estava ali em frente. Nunca se intimide. Apenas seja e sinta-se na segurança da racionalidade. Nada de precipitações na caminhada para o sucesso. A vitória e a derrota estão sempre de mãos dadas. O importante é que você saiba escolher o que lhe interessa. E uma vez consciente do que realmente quer, vá em frente. Todas as veredas estão abertas pra você. A escolha é sua. Siga sabendo que os obstáculos estão em todo o caminho. Treine muito para vencê-los. Você pode se achar que pode. Ninguém é superior a você se você se valorizar no que você é. Então seja o melhor que você puder ser fazendo sempre o melhor que puder fizer. É o que você faz que vai dizer quem você é. Pense nisso.

*Articulista

E-mail: [email protected]

(95) 99121-1460