BOM DIA, 

Hoje é terça-feira (26.10). O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reagiu com irritação ao pedido de um popular que lhe apelara para conter a alta do preço do arroz; “Bolsonaro baixa o preço do arroz, pois eu não aguento mais comprar”, gritou o popular. O presidente respondeu com outra pergunta: “Você quer que eu baixe o preço por decreto? Então vá comprar arroz na Venezuela”, reagiu o presidente. Na verdade, falta alguém informar ao presidente da República brasileira que boa parte do arroz comprado pelos venezuelanos, na Venezuela, sobretudo na região Sul daquele país vem do Brasil, sendo vendido em dólares estadunidense.

De qualquer forma. a resposta atravessada de Bolsonaro ao homem simples que está apavorado com o aumento estratosférico do arroz, e de outros produtos da cesta básica, nos últimos meses reflete um pouco da natureza do atual governo brasileiro. De um lado, sob a batuta de Paulo Guedes, o governo Bolsonaro é doutrinária e ideologicamente um governo capitalista e liberal. Assim, faz sentido quando o presidente se recusa a tentar controlar preços através de decreto, afinal, um capitalista liberal tem fé arraigada no livre funcionamento de mercado, cujo funcionamento está baseado na livre flutuação da demanda e da oferta. Essa crença não é, entretanto acreditada como infalível. De outro lado, ao menosprezar o apelo do popular, o governo Bolsonaro parece acreditar que a recente onda de aumento de preços no Brasil é passageira e tudo vai se acomodar com o aumento da oferta, por isso não dá a devida importância a essa aparente volta da inflação, que pode chegar a dois dígitos nos próximos 12 meses.

Nada garante que esta previsão do governo venha a se concretizar. Na verdade, muitos economistas não conseguem entender estes aumentos de preços, especialmente por conta da recessão que se abate sobre a economia brasileira, que este ano deve chegar ao redor de 5% de queda no Produto Interno Bruto (PIB). É rara a ocorrência de aumento de preços nume economia recessiva e quando isso ocorre os economistas chamam de estaglifação, ou seja, inflação com estagnação; o que é pior do que a simples inflação. Nesses casos, não é razoável esperar que o livre funcionamento do mercado possa corrigir as causas do aumento de preço. É bom lembrar ainda que esta inflação, especialmente no segmento de alimentos, concorre simultaneamente ao espetacular desempenho da agricultura brasileira que deve bater novo recorde de produção.

Ora, como justificar então que diante de um quadro recessivo da economia e de aumento na produção de produtos alimentícios os preços comecem a subir de forma acelerada? A explicação para este fenômeno não é difícil de se encontrar: foram as exportações de produtos agrícolas brasileiros que tornaram a oferta interna menor. E qual a razão principal desse aumento nas vendas externas de produtos agrícolas do Brasil? Outra resposta aparentemente simples: a desvalorização do real frente ao dólar americano que este ano já supera 50% e isto torna os produtos brasileiros no exterior mais baratos com consequente aumento da demanda externa por eles.

E por que o governo Bolsonaro tem parcela importante de responsabilidade neste movimento de desvalorização do Real? Na verdade, o lento avanço nas reformas que o país precisa; a guinada com relação ao discurso de campanha que resultou na submissão às velhas práticas de governança de administrações anteriores anteriores através da aliança com o centrão; as recentes escaramuças, que beiram o baixo nível entre ministros; a falta de uma política ambiental constituem um receituário para afugentar investidores externos que levam dólares que já estavam investidos na economia brasileira. O resultado desse movimento é, sem lugar à dúvida, a desvalorização da moeda nacional frente a outras moedas estrangeiras.

É nesse sentido que o governo Bolsonaro tem sim parcela grande de responsabilidade pela inflação que tem afligido os brasileiros, sobretudo os mais pobres nos últimos meses.

DIFICULDADES

Contadores que trabalham nestas eleições municipais para partidos e candidatos andam correndo da sala para a cozinha. Um deles disse à Parabólica que os candidatos não estão conseguindo em tempo hábil abrir suas contas de campanha no Banco do Brasil. “Já ultrapassamos o tempo para a apresentação da primeira prestação parcial de contas e até agora ainda tem candidato que sequer conseguiu talonários de cheques para pagamento de suas despesas, o que é uma exigência legal. Ao final, tenho certeza que vai ser uma confusão geral conseguir prestar contas à Justiça Eleitoral”, disse. É também problema o cadastramento de senhas, o que resta a impossibilidade de movimentação das contas, disse outro contador à Coluna.

REFORMA

Pode muita gente discordar, mas é preciso pelo menos discutir com seriedade as afirmações do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas – PR), líder do governo no Congresso Nacional, de que é preciso fazer uma nova constituição no Brasil. Barros, experiente congressista, sabe o que está dizendo, afinal, o país não avançará com esta Constituição, que não é presidencialista e nem parlamentarista. Parece que a atual situação constitucional agrada a muita gente pela possibilidade de transferência de culpa e responsabilidade do congresso para o governo e vice e versa. Barros também alega que os muitos direitos consagrados na Constituição de 1988, tornam quase que impossível o controle dos gastos públicos, e isto resulta em crescimento contínuo da dívida pública no país, que já chega a mais de 4 trilhões de reais.