Opinião

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FEVEREIRO

Linoberg Almeida*  

O menor dos meses chegou. E logo ele, que recebeu esse nome com viés de purificação, é mais uma oportunidade de pôr a mão na consciência. Não é por ter menos dias que vamos viver como se não houvesse amanhã. A tal vida normal precisa ceder espaço para uma normalidade diferente da qual estávamos ou estamos acostumados. E ficar repetindo isso quase um ano depois de convivência com o tal vírus mostra deficiências coletivas nossas.

Distanciamento, isolamento, ventiladores, intubação, máscaras… Não podemos normalizar o obituário que se tornou o cotidiano. Onde fica a saúde, a preservação da vida da população como interesses mais predominantes? Onde foi parar a solidariedade, não a palavra, mas o ato, o gesto?  Lavar as mãos, usar álcool gel e manter dois metros de distância entre pessoas no país do “jeitinho”, da vantagem em tudo, é desafio.

O calor da emoção que leva à aglomeração hoje mais parece uma febre, fruto da uma infecção num corpo social doente, que não percebe seus limites. Muitos sentindo na carne têm no mês da festa da carne a chance de ter liberdades com responsabilidade. Liberdade seja qual for, inclusive moral, como a capacidade humana para escolher racionalmente as causas e consequências de seus atos, pode definir nossa sobrevivência.

Você pode nem perceber, mas liberdade e responsabilidade estão ligadas, na mesma medida em que só somos livres se formos responsáveis e só podemos ser responsáveis se formos livres. É você, sujeito, o ator principal na construção da individualidade. Não é o decreto, a entrevista do prefeito, o texto do ex-vereador, o abre-fecha de coisas, ou a vacina que vai nos manter vivos. Liberdades e responsabilidades reinventadas e com novos significados para todos podem virar o jogo.

Será que aprendemos a ter mais empatia mesmo? Será que aprendemos a valorizar a liberdade quando há restrição da mesma ou nos cercamos de estratégias para burlar normas e regras de convivência, botando em prática a corrupção que vemos como crimes dos outros e nunca nossos? O furar a fila da vacina de uns é só a ponta do iceberg.

Se olhar ao redor com atenção, a dengue, a malária, o descaso com a saúde pública, a falta de acesso contínuo a água potável, a violação diária de direitos fundamentais, o lugar secundário da Ciência e da Educação em nossa sociedade mostram a urgência de impor uma quebra de padrões e uma autorreflexão sobre que tipo de ser humano e cidadão somos.

Sejamos menos egoístas. Sejamos exemplo. Se há uma luz no fim do túnel é você quem está segurando a lanterna. Não espere o poder público ter respostas para tudo. Respeitar os mais velhos, valorizar a professora, pôr lixo no lixo, usar máscara sempre cobrindo nariz e boca já é um bom começo para quem aceitar trocar o próprio umbigo pelo coração de todos. Afinal, é só o segundo mês de um longo ano.

*Sociólogo, Professor/ UFRR

AGOSTINHO DE HIPONA E O ASPECTO PRÁTICO DE TAL DISCIPLINA: A CONDUTA DE VIDA

Victor Mattioni*

Filósofo e teólogo, Agostinho de Hipona nasceu em Tagaste, na cidade da Numídia (atual Argélia), norte da África, no ano de 354 d.C. Seus escritos famosos, como Confissões e Cidade de Deus, são inspiração até os dias de hoje. Agostinho buscou aplicar na singeleza de cada dia o viver prático da sabedoria das Escrituras.

Certa vez, estava Agostinho a conversar sobre A ordem de Deus e a busca por disciplina. A respeito deste tema, ele destacou a importância dos jovens conhecerem a Ordem, ou seja, buscarem uma vida onde há a necessidade de uma disciplina que envolva abstenção de prazeres, honras e poderes, evitar inimizades, amar ao próximo e zelar pelas amizades, entender e se aperfeiçoar a respeito da coisa pública, buscar a Deus.

VIII,25. Esta disciplina é a própria lei de Deus que, permanecendo sempre fixa e inabalável nele, que se inscreve nas almas sábias para que tanto melhor saibam viver e tanto mais sublime e mais perfeitamente a contemplem com sua inteligência e com maior empenho a guardem em sua vida. Esta disciplina impõe aos que desejam conhecê-la uma dupla ordem, da qual uma parte se refere à vida, outra a erudição.

Portanto, os jovens que se dedicam ao estudo dessa disciplina devem viver de tal modo que se abstenham de assuntos eróticos; dos prazeres da glutonaria; do desregrado cuidado e adorno do corpo; das fúteis ocupações com espetáculos; da indolência de tanto dormir e da preguiça; da rivalidade; da difamação e da inveja; das ambições de honras e poderes; do imoderado desejo do próprio louvor.

Saibam que o apego ao dinheiro é um veneno certíssimo para toda a sua esperança. Não façam nada com fraqueza, nada temerariamente. Nas faltas de seus familiares reprimam a ira ou a refreiem de tal modo que ela pareça vencida. Não odeiem a ninguém. Não queiram curar todos os males. Observem muito ao punir para que não seja demasiado, e não seja pouco quando o castigo é reconhecido. Não deem castigo se não servir para melhorar e não perdoem se isto for ocasião para piorar.

Não julguem amigos seus todos aqueles sobre os quais vocês tenham recebido poder. Procurem servir-lhes de tal modo que vocês tenham vergonha de ter poder sobre eles; tenham poder sobre eles de tal modo que tenham prazer em servir-lhes. Nos pecados dos outros não se incomodem se eles não recebem a correção de boa vontade.

Evitem com toda precaução as inimizades o quanto antes possível. Em toda conversação e convivência com os homens basta observar este provérbio popular: Não faça a ninguém o que não queiram que lhes façam.

Não aspirem a administrar a coisa pública se não forem perfeitos. E cuidem para se aperfeiçoar antes de chegar à idade para ocupar um cargo de senador ou, melhor, já na juventude. Mas, se alguém se converte em idade avançada a estas coisas, não pense que não lhe diz nenhum respeito este preceito: pois certamente guardará estas coisas com mais facilidade pela sua idade.

Em todo tipo de vida, em qualquer lugar e ocasião procurem ter ou fazer amigos. Mostrem condescendência com as pessoas dignas, mesmo que elas não esperem isso. Não se perturbem por causa dos soberbos e de modo algum sejam como eles. Vivam de maneira apropriada e conveniente.

Venerem a Deus, pensem nele, busquem-no apoiados na fé, esperança e caridade. Desejem a tranquilidade e um currículo seguro para seus estudos e para todos os seus colegas. Almejem uma mente boa e uma vida pacata para si mesmos e para todos aqueles para os quais vocês possam desejar.

(Agostinho de Hipona, A Ordem, Livro Segundo, 2008, pp. 222-224).

*Professor

VOLTANDO AOS PONTOS DE CULTURA E AÇÃO GRIÔ

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Estou aprendendo coisas que eu já sabia e não sabia que sabia”. (Afonso Rodrigues)

Vamos fazer uma pequena viagem de volta aos anos de 2008. Foi realmente um dos momentos mais importantes da minha vida, em relação à cultura no Brasil. Foi quando fui abordado e convidado pelo Griô Márcio Sergino, para participar do Ponto de Cultura “Usina Cultura”, e fiquei indeciso. Eu não sabia nada sobre o movimento cultural da Ação Griô. Finalmente, convencido, encontramo-nos em Brasília, no encontro nacional TEIA – Brasília 2008. Foi talvez, a semana mais revolucionária de minha já longa vida. Sem me inferiorizar, jamais me imaginara no epicentro de um movimento cultural de tamanha magnitude. E o que mais me encantou em tudo i
sso, foi a verdade exposta, na defesa dos Direitos Humanos com o tema, “Somos todos iguais nas diferenças”. E isso foi o que vi; “Somos Todos Iguais nas Diferenças.” E no pensamento do Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro”. E o Brasil estava começando a se encontrar. A Ação Griô Nacional foi a semente que, com certeza, germinará e dará muitos frutos na sabedoria do saber Griô. Mas cabe a cada um de nós, envolvidos ou não no movimento cultural, fazer sua parte para que colhamos os frutos que plantando naquele momento.

Pouca gente acreditou quando o Ministério da Cultura lançou o “Programa Cultura Viva”. Parecia avançado demais para a nossa cultura cerceada pela inércia. Houve um imenso e extenso programa para o desenvolvimento cultural no Brasil, escudado e movimentado nas TEIAS, abarcando todo um elenco de pontos de Cultura, Cultura Viva, Ação Griô e muito mais, alavancando o desenvolvimento cultural no Brasil, trazendo a cultura para a base da Educação. A valorização dos Direitos Humanos, mais que um dever é um direito de todo cidadão, independentemente de nacionalidade, raça, cor ou qualquer outro ponto que aponte para a discriminação. “Somos Todos Iguais Nas Diferenças”. Nosso encontro com os Pontos de Cultura de todo o Brasil foi mais do que um dever para o desenvolvimento da Educação no Brasil, que começa com o desenvolvimento da Cultura. Não nos esqueçamos de que sem cultura não pode haver educação. O trem da verdade aparentemente na contramão. E só perceberemos a diferença quando descobrirmos que, em termos de cultura, sempre andamos e continuamos na contramão, através dos séculos.

Esperamos que os órgãos públicos, sobretudo os que alavancam, ou pensam alavancar, a Educação, atentem-se para a importância do movimento da Ação Griô nas escolas, para o nosso desenvolvimento, presente e futuro. Pense nisso.

*Articulista

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