Jessé Souza

Se tivermos que retroagir que seja para 200 anos 11455

Se tivermos que retroagir, que seja para 200 anos

No Brasil do bolsonarismo, qualquer mequetefre municiado de um celular com internet acha-se encorajado para atacar a imprensa, como se ela não pudesse agir livremente com críticas ao poder; e como se o poder fosse imune a qualquer crítica ou denúncia.

A propósito, o negacionismo que vivemos hoje tem muito a ver com a desinformação e a falta de estudo. Voltemos 200 anos atrás, no tempo do Brasil Império. Havia tudo para que a imprensa não tivesse liberdade alguma naquela época, não só no país tupiniquim, mas em todo o mundo.

Mas não era essa a realidade do Brasil Império. Basta pegar o que escreveu Joaquim Nabuco, que era um político e jornalista da época. Ele relatava que a imprensa vivia plena liberdade durante o reinado de Dom Pedro II. 

“Durante todo o reinado, a liberdade de imprensa não foi uma só vez atacada. O seu principal cliente era sempre a oposição, e ela bem o fazia; fazia questão que cada erro se fizesse público”, escreveu.

Ele dizia que os jornais podiam defender ou falar mal do imperador abertamente. E o imperador não se esquivava. Ele dizia: “Imprensa se combate com imprensa”. 

A liberdade era tanta que até impressionava outros países, segundo Joaquim Nabuco. E 200 anos depois vivemos uma Era de completo obscurantismo com os intelectuais de rede social, que se sentem à vontade inclusive para negar a ciência com opinião.

Que vivam numa terra plana, mas que não se achem absolutos para jogar a imprensa em um lugar comum, como se essa instituição essencial para a manutenção da democracia fosse desnecessária e, pior, raiz de um mal que precisa ser extirpado.

Não. O mal a ser combatido é a ignorância em uma época em que o conhecimento está à disposição de todos, no ciclar em uma tela. Ciência não se contesta com opinião. E, como disse Dom Pedro II, imprensa se combate com imprensa.

É necessário defender a liberdade de imprensa como um instrumento essencial para oxigenar a democracia. Não é à toa que um tirano, assim que toma de assalto o poder, uma de suas principais decisões é calar a imprensa.

A imprensa não está acima de qualquer crítica. Assim como nenhum governante também está imune a ela. Se tivermos que retroagir, que não seja para o obscurantismo, mas para uma liberdade de imprensa que o Brasil vivia no tempo do Império.

*Colunista