Se tivermos que retroagir, que seja para 200 anos
No Brasil do bolsonarismo, qualquer mequetefre municiado de um celular com internet acha-se encorajado para atacar a imprensa, como se ela não pudesse agir livremente com críticas ao poder; e como se o poder fosse imune a qualquer crítica ou denúncia.
A propósito, o negacionismo que vivemos hoje tem muito a ver com a desinformação e a falta de estudo. Voltemos 200 anos atrás, no tempo do Brasil Império. Havia tudo para que a imprensa não tivesse liberdade alguma naquela época, não só no país tupiniquim, mas em todo o mundo.
Mas não era essa a realidade do Brasil Império. Basta pegar o que escreveu Joaquim Nabuco, que era um político e jornalista da época. Ele relatava que a imprensa vivia plena liberdade durante o reinado de Dom Pedro II.
“Durante todo o reinado, a liberdade de imprensa não foi uma só vez atacada. O seu principal cliente era sempre a oposição, e ela bem o fazia; fazia questão que cada erro se fizesse público”, escreveu.
Ele dizia que os jornais podiam defender ou falar mal do imperador abertamente. E o imperador não se esquivava. Ele dizia: “Imprensa se combate com imprensa”.
A liberdade era tanta que até impressionava outros países, segundo Joaquim Nabuco. E 200 anos depois vivemos uma Era de completo obscurantismo com os intelectuais de rede social, que se sentem à vontade inclusive para negar a ciência com opinião.
Que vivam numa terra plana, mas que não se achem absolutos para jogar a imprensa em um lugar comum, como se essa instituição essencial para a manutenção da democracia fosse desnecessária e, pior, raiz de um mal que precisa ser extirpado.
Não. O mal a ser combatido é a ignorância em uma época em que o conhecimento está à disposição de todos, no ciclar em uma tela. Ciência não se contesta com opinião. E, como disse Dom Pedro II, imprensa se combate com imprensa.
É necessário defender a liberdade de imprensa como um instrumento essencial para oxigenar a democracia. Não é à toa que um tirano, assim que toma de assalto o poder, uma de suas principais decisões é calar a imprensa.
A imprensa não está acima de qualquer crítica. Assim como nenhum governante também está imune a ela. Se tivermos que retroagir, que não seja para o obscurantismo, mas para uma liberdade de imprensa que o Brasil vivia no tempo do Império.
*Colunista