Se procurar direito, tem muito mais no interior do Estado
Jessé Souza*
Já nem causa mais surpresa, no roraimense, acordar com notícias de mais uma operação da Polícia Federal desde as primeiras horas da manhã, como ocorreu ontem, desta vez com as ações voltadas para um suposto esquema de desvio de recursos no Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, ao Norte do Estado.
Pacaraima há tempos vive um clima de terra arrasada desde a invasão em massa de venezuelanos fugindo da crise em seu país, intensificada nos últimos quatro anos. Inclusive, partiram de lá cenas de moradores expulsando e queimando barracas de um acampamento de venezuelanos, quando o índice de violência ficou insuportável.
Esse cenário de guerra fez desviar todos os olhares para uma crise generalizada naquela cidade fronteiriça, que serviu para os políticos e autoridades inescrupulosas como se fosse uma grande cortina de fumaça a encobrir os esquemas com recursos de combate à pandemia e até dinheiro destinado para a educação e à infância, conforme apontam as investigações.
É uma boa estratagema usar a desgraça da população para, em vez de ajudá-la, por meio de velhos esquemas ferrá-la ainda mais. Conforme dados da Operação Argos, foram R$10 milhões desviados nos anos de 2019 e 2020, período em que a crise provocada pelo êxodo venezuelano só piorou com a chegada do coronavírus.
Se os órgãos de controle estiverem interessados em procurar mais, vão encontrar situações semelhantes em outros municípios, que usaram a situação da Covid-19 para implantar esquemas muito semelhantes. Afinal, desde o “escândalo da cueca”, já sabemos do que essa raça de políticos é capaz.
Existem municípios em que as autoridades usaram recursos para borrifar locais públicos como principal medida de enfrentamento à pandemia, enquanto os postos de saúde sequer tinham medicamentos e profissionais de saúde. Colocaram até barreiras sanitárias inócuas, que só servem para justificar gastos de recursos e criar a sensação de que algo está sendo feito com o dinheiro público.
Há localidades onde inclusive existem políticos que cadastraram cidadãos no benefício social, geralmente pessoas humildes e/ou analfabetas, mas recebem no lugar delas, sem repassar o dinheiro aos seus verdadeiros donos. Não se sabe como isso é possível, mas o esquema existe.
E assim a pandemia tem servido para isolar a população, enquanto os espertos se locupletam dos recursos enviados pelo Governo Federal, enquanto muitos padecem sem atendimento em suas localidades ou são transferidos para morrer na Capital, onde os hospitais não suportam mais ninguém.
Então, se os órgãos de controle assim quiserem e se a Polícia Federal procurar, vão encontrar muito mais nos municípios do interior. Infelizmente não há limites quando o assunto é se locupletar do dinheiro público.
*Colunista