Chega de festejar semáforo, é hora de mobilidade urbana de verdade
Jessé Souza*
Na Capital onde o trânsito tornou-se um desafio, ainda estamos comemorando a instalação de semáforo em um cruzamento de avenidas. Sim, apenas uma sinaleira, quantidade essa que parece ser a cada ano em uma cidade que caminha para o caos no trânsito há algum tempo.
A defasagem de número de semáforos é enorme, o que leva a ser uma vergonha que apenas um seja instalado após um longo período de tempo, levando em consideração que essa atual administração municipal é sequência da anterior.
A situação só não está pior devido a essa nova realidade provocada pela pandemia, que fechou as escolas para o presencial, colocou muitas pessoas em trabalho remoto ou fazendo rodízio, o que faz diminuir consideravelmente o número de veículos e pessoas nas ruas.
Antes disso, já era um tormento sair de casa no horário de pico para trabalhar ou deixar os filhos na escola. É visível a inexistência de um projeto de mobilidade urbana de verdade, não esse que sai nas propagandas institucionais em que tudo parece bonitinho até a pessoa colocar a cara na realidade das ruas e avenidas de Boa Vista.
Faltam viadutos, passarelas para pedestres, mais semáforos e a implantação de um projeto que abra novas vias de escoamento ou seguimento de avenidas arteriais que são interrompidas nos bairros onde o planejamento urbano deixou de existir.
São vários os pontos de estrangulamento devido a ausência de engenharia de tráfego para garantir mobilidade, seja onde faltam semáforos ou onde eles não conseguem mais ordenar o trânsito. Ou onde o poder público ainda não chegou para concluir obras básicas, como asfaltamento e drenagem a fim de desafogar certos trechos em bairros populosos.
É até compreensível que se faça festa para um semáforo em uma cidade onde autoridades políticas, não faz muito tempo, participaram de uma solenidade de inauguração de uma escada rolante no Aeroporto de Boa Vista, bem ao estilo de cidade do interior.
Compreensível, mas inaceitável a forma como a política de mobilidade urbana está sendo conduzida, principalmente quando a frota de veículos tem aumentado consideravelmente e a Capital enfrenta um inchaço populacional turbinado pela imigração desordenada.
Há um consenso inegável que de praça já estamos bem servidos. Então, agora é necessário pensar em outros setores importantes que necessitam da ação do poder público, como a mobilidade urbana, antes que nossa cidade se torne um lugar insuportável para se locomover.
Não tem mais como adiar soluções para este sério problema que vem se arrastando há um certo tempo. Apesar disso, nas últimas eleições municipais quase nada se valou de propostas para encarar essa realidade, especialmente por parte dos vereadores. É hora de agir, então.
*Colunista