Jessé Souza

JESSE SOUZA 11535

O preço do ‘liberou geral’ está sendo pago agora

Jessé Souza*

O fato é que,  para os mais pobres, nada vai interferir em sua vida se funcionar ou não o delivery, que é o serviço de entrega em domicílio. Afinal, estas famílias não têm recursos financeiros sequer para manter o pão de cada dia em sua mesa, muito menos para pedir comida por meio de aplicativo ou telefone.

Porém, foi uma grande insensatez, por parte da Prefeitura de Boa Vista, proibir o serviço de delivery, na Capital, para o próximo fim de semana, como medida austera visando conter o avanço do coronavírus. Não faz sentido algum tal decisão, que só incentiva uma grande parcela de pessoas a sair de casa para comprar comida no sábado e domingo.

Assim como não faz sentido algum permitir a população circular até um limite de horário, como se o vírus estivesse esperando para agir somente depois das 20 horas, por exemplo. Porém, a lógica se explica pela necessidade, neste momento crítico, de mostrar para a opinião pública que o município está agindo contra a pandemia.

Afinal, é preciso correr atrás do prejuízo, uma vez que na administração passada houve um “liberou geral” que só contribuiu para que a população perdesse o medo do vírus e deixasse de seguir as regras mais básicas, com as pessoas sendo incentivadas a irem para seguidas inaugurações de reforma de praças públicas.

A situação chegou a um nível tal que, mesmo antes de o novo prefeito assumir, o órgão municipal responsável por festas e eventos públicos que promovem aglomerações, a Fetec, vinha realizando seguidas licitações para contratar serviços para montagem de palcos e estrutura para arquibancadas, carros de som, shows pirotécnicos, trio elétrico, iluminação cênica e outros serviços.

A licitação mais expressiva, que chegou a quase R$10 milhões, foi concluída no dia 26 de janeiro passado, em um pregão presencial (processo SRP número 050/2020), dando o sinal de que havia mesmo motivação política para seguir o “liberou geral”, o que só foi contido pela segunda onda do coronavírus que partiu do Amazonas.

Alertas não faltaram aos políticos durante a campanha eleitoral. Mas, além de ninguém ligar para a quebra de todas as regras, houve incentivo para todos os tipos de transgressões, só confirmando o que já vinha sendo feito pela Prefeitura, que também estava em campanha dissimulada.

Hoje todos pagam o preço do que foi alimentado do período eleitoral para cá. E a Prefeitura agora precisa impor controle sobre que ela mesmo liberou naquele período. E a grande verdade é que as autoridades em todos os níveis estão perdidas diante da realidade política dividida por direita e esquerda.

O povo é vítima e algoz ao mesmo tempo, pois além de não saber que orientação seguir, diante da divisão dicotômica ideológica e o incentivo por parte do oportunismo político, como foi visto em Roraima, tem ainda a irresponsabilidade da cultura da “esculhambação geral” a que o brasileiro foi habituado.

Porém, os únicos que sofrerão as consequências de tudo isso são os mais pobres, atingidos pelo desemprego e pelo arrocho que fatalmente vem a partir das medidas restritivas mais severas.

É por isso que as autoridades precisam estar atentas a essas medidas tomadas ao sabor das pressões que partem dos prós e contra ou da necessidade de conseguir mais recursos federais. A proibição do serviço de delivery é uma dessas medidas que precisam ser revistas para evitar o colapso total.

O momento requer cuidados para com os pequenos, tantos as famílias mais pobres como os empreendedores, que não têm a quem recorrer senão aos governos e seus benefícios sociais, pois o emprego e o pequeno comércio são as principais vítimas das restrições.

*Colunista