Jessé Souza

JESSE SOUZA 11591

Capítulos das lamentáveis cenas de uma novela da vida real

Jessé Souza*

Uma das primeiras ações midiáticas da então governadora Suley Campos, ao assumir o governo em 2015, foi convocar a imprensa para uma ida ao canteiro de obras do Anexo E do Hospital Geral de Roraima (HGR), cujo trabalho já estava paralisado na administração anterior. Ela chegou a posar para fotos jogando uma pá de cimento no piso da obra.

Esse foi apenas um dos episódios dessa novela da política macuxi na saúde pública, cujo enredo inclui a construção desse anexo do principal hospital de Roraima. O que se seguiu foram os próximos capítulos que ainda não terminaram na atual administração do governador Antonio Denarium (ainda sem partido).

Não custa lembrar que Suely sequer chegou a concluir o mandato ao aceitar seu afastamento do cargo para que Denarium, recém-eleito governador, assumisse como interventor federal antes de tomar posse, uma vez que a então governadora não conseguia mais sequer pagar o salário dos servidores. Sua administração vinha acossada por denúncias e uma operação policial e

Mas, bem antes disso, em março de 2018, a então governadora realizou um evento político pelo seu partido, o PP, com a presença do presidente nacional da sigla, Ciro Nogueira, para o lançamento de sua candidatura a reeleição. Essa candidatura só foi possível porque Suely entregou o setor da saúde para a regional do PP em Roraima.

Denarium assumiu o Estado como interventor quase um mês antes de tomar posse como eleito pelo voto nas eleições de 2018. Porém, a saúde pública seguiu em crise, com trocas sequenciais de secretários, os quais deixaram o cargo fazendo sérias denúncias de corrupção naquela pasta, que já indicavam um sistêmico esquema nas entranhas daquele setor.

Importante ressaltar que um dos secretários exonerados, Allan Garcês, chegou a dizer em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde que havia corrupção e chegou até a assegurar que o irmão do governador tentou interferir na sua gestão e até mesmo citou dois nomes de deputados, além do próprio chefe da Casa Civil, que estariam praticando ingerência na saúde.

Enquanto isso, a pandemia chegava, o caos já predominava na saúde pública, especialmente com o êxodo em massa de venezuelanos, como se fossem cenas do próximo capítulo. A pandemia de coronavírus tão somente agravou e proporcionou mais tragédias, com vidas ceifadas nessa triste novela da vida real proporcionada pela política.

A campanha eleitoral do ano passado foi um capítulo à parte, quando os políticos tiraram as máscaras e promoveram um “liberou geral” em plena pandemia. E mais denúncias de negociações com grupos que incluíram a saúde. Tudo dentro do grande script em que a saúde sempre entra no pacote, algo já visto em governos anteriores.

Seguiram-se cenas de operações policiais (o caso da cueca foi apenas um deles), uma das quais foi responsável pelo fim do contrato do Governo do Estado com cooperativa que comandava a contratação de mão de obra de profissionais de saúde, especialmente médicos. E faltam médicos até hoje.

Esse texto não tem o objetivo de concluir nada. Por enquanto. É apenas uma forma de refrescar a memória, especialmente daqueles que acham que essa novela da vida real não tem nada a ver com eles.

Também tem a finalidade de contextualizar as cenas dos próximos capítulos dessa vergonha sem precedentes na saúde pública, para que as pessoas não percam o fio da meada.

Seguem os próximos capítulos da tragédia anunciada…

*Colunista