O caso Vila Jardim e a espera pelo surgimento de um ‘novo Beiral’
Jessé Souza*
Os últimos acontecimentos na crônica policial só reforçam o que já foi comentado, neste espaço, anteriormente: a ocupação do Residencial Vila Jardim pelo mundo do crime. Tudo leva a crer que as autoridades nada fizeram para devolver a paz àquelas famílias que lá vivem.
O primeiro caso foi a apreensão de um adolescente que já estava sendo procurado pela Justiça, o qual foi encontrado durante uma reunião de membros de uma facção criminosa dentro de um dos apartamentos.
A outra ocorrência foi a de um casal, preso também em um dos apartamentos daquele conjunto habitacional. Ele por ter sido reconhecido na imagem de um vídeo praticando assalto a uma casa. Ela por ser considerada foragida ao ser sentenciada sob acusação de tráfico de drogas.
Se houvesse um trabalho de inteligência, caso existisse interesse em libertar o Vila Jardim, o crime já teria sido contido ali. Porque os moradores sabem quem são, onde estão e como agem. Fora os ladrões que atuam a qualquer hora do dia ou da noite. Basta que o morador se ausente para trabalhar.
Desde o início da ocupação dos apartamentos que muitos criminosos se estabeleceram por lá. Não esquecendo que até um policial militar já foi morto, naquela localidade, por um suposto acerto de contas. Muitas famílias já fugiram de lá, seja vendendo ou alugando seus apartamentos.
E o máximo que o governo agiu foi instalando um trailer da Polícia Militar, que nada mais fazia do que passar uma falsa sensação de segurança. Porque os bandidos continuaram agindo, seja coagindo moradores, se escondendo da Justiça, se reunindo para tratar de seus negócios criminosos ou mesmo para vender droga.
Os moradores até se cansaram de denunciar ou reclamar. Porque eles sabem dos riscos diante de situações como essa, em que as facções dominam e a polícia não age como deveria. Até ladrões de galinha sabem que ali é um território livre para agir.
As forças policiais ensaiaram uma grande operação, quando houve aquela sequência de assassinatos em Boa Vista por acerto de conta. E por lá tudo ficou, caindo no esquecimento, sem que o Vila Jardim tivesse entrado nos planos dessa ação, que deveria ser permanente.
A impressão que fica é a de que as autoridades estão esperando que aquele conjunto habitacional se torne um “novo Beiral”, uma zona sem lei, onde quem manda e desmanda é o crime. E todos sabem que não foi a polícia que acabou com o Beiral, uma área favelizada que ficava no Centro de Boa Vista e que representava uma grande vergonha para nossos poderes constituídos.
Então, vão esperar ressurgir o “novo Beiral”?
*Colunista